Panorama nacional da medicaçao de caes e gatos sem aconselhamento medico-veterinario - Parasitologia Veterinária (2024)

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

Faculdade de Medicina Veterinária

PANORAMA NACIONAL DA MEDICAÇÃO DE CÃES E GATOS SEM ACONSELHAMENTO

MÉDICO-VETERINÁRIO

ANA FILIPA RAIMUNDO PINTO

CONSTITUIÇÃO DO JÚRI ORIENTADOR

Doutora Maria Isabel Ferreira Neto da Cunha Fonseca Dr. Jorge Miguel

Doutora Anabela de Sousa Santos da Silva Moreira da Palma Flores Norte

Doutora Berta Maria Fernandes Ferreira São Braz

Dr. Jorge Miguel da Palma Flores Norte CO-ORIENTADOR

Doutora Berta Maria

Fernandes Ferreira São Braz

2012

LISBOA

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

Faculdade de Medicina Veterinária

PANORAMA NACIONAL DA MEDICAÇÃO DE CÃES E GATOS SEM ACONSELHAMENTO

MÉDICO-VETERINÁRIO

ANA FILIPA RAIMUNDO PINTO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA

CONSTITUIÇÃO DO JÚRI ORIENTADOR

Doutora Maria Isabel Ferreira Neto da Cunha Fonseca Dr. Jorge Miguel

Doutora Anabela de Sousa Santos da Silva Moreira da Palma Flores Norte

Doutora Berta Maria Fernandes Ferreira São Braz

Dr. Jorge Miguel da Palma Flores Norte CO-ORIENTADOR

Doutora Berta Maria

Fernandes Ferreira São Braz

2012

LISBOA

“Qualquer opinião vale mais que a do

veterinário. A da vizinha que diz que o cão dela

se deu muito bem com aqueles comprimidos, a

do farmacêutico que recomenda ben-u-ron para

uma febre do gatinho, etc (…)”

(comentário anónimo de um(a) médico(a) veterinário(a)

deixado no respetivo inquérito)

Se eu quisesse receitar medicamentos a

animais tinha sido veterinário…!

(comentário anónimo de um(a) proprietário(a) em resposta

à questão “Em que situação daria um medicamento ao seu

animal sem aconselhamento veterinário?”)

i

Agradecimentos

À professora Berta São Braz e ao professor Telmo Nunes, que conseguiram ver o potencial

deste estudo sob o caos dos dados obtidos e que me orientaram para os procedimentos

mais simples antes que eu os pudesse complicar, agradeço pela disponibilidade e incentivo.

À professora Berta agradeço particularmente pela paciência e exigência que poliu esta

dissertação e pelo filtro micrométrico que foi passado por todo o trabalho.

Ao doutor Jorge Norte, mais do que por outros motivos, por acreditar no potencial dos

alunos e em novos projetos e pela total disponibilidade ao longo do período de estágio.

Às doutoras Teresa Teixeira e Fátima Rato, do Centro de Informações Antivenenos por

atenciosamente me terem recebido nas instalações deste serviço e esclarecido todas as

dúvidas.

A todos os docentes das diferentes instituições de ensino de cursos de Ciências

Farmacêuticas do país, que demonstraram interesse na proximidade entre as Ciências

Veterinárias e Farmacêuticas e disponibilizaram as informações necessárias para tornar

esta dissertação mais completa.

Aos amigos (reais ou virtuais), familiares e todos os outros que através das redes sociais

difundiram os meus inquéritos para proprietários de animais de companhia. Foi uma ajuda

tremenda para a credibilidade do meu trabalho e sem ela não teria conseguido este

gratificante número e variedade de respostas.

Às minhas queridas D-Vet´s, que me relembraram por diversas vezes a importância do tema

em que quis investir muito tempo e que, exatamente por esse motivo, perdeu tantas vezes o

sentido. Como repetir muitas vezes a palavra “garfo”, ao fim de algum tempo soa estranha e

não entendemos o significado. Um agradecimento em particular para a Inês Cruz, o talento

que a FMV perdeu para UTAD e que desde o início acreditou no valor deste estudo, até

mais do que eu própria, tendo dado o “pontapé de saída” para a divulgação dos inquéritos

entre os veterinários clínicos.

Ao Mauro, em primeiro lugar, pela cedência do hardware que me permitiu trabalhar várias

horas fora do horário do estágio e que foi perdendo funções ao longo da escrita, claramente

devido a sobrecargas de inspiração e não ao facto de eu ter algum magnetismo para avarias

tecnológicas. Em segundo lugar, claro, por me fazer bem à cabeça.

À minha mãe, por me relembrar constantemente a expressão “Hurry up, Mr. Rabbit!”.

ii

Panorama nacional da medicação de cães e gatos sem aconselhamento médico-

veterinário

Resumo

A assistência médica a casos graves devidos à administração de medicamentos a animais

de companhia pelos seus donos é uma realidade frequente na prática clínica dos médicos

veterinários em Portugal. O elevado número de casos, não raras vezes fatais, que ocorrem

em cães e gatos após a administração indevida de medicamentos cuja composição inclui

substância ativas como o paracetamol, o ibuprofeno, o ácido acetilsalicílico ou outros anti-

inflamatórios não esteroides e também de substâncias antiparasitárias como a permetrina,

foi a principal motivação para o desenvolvimento deste trabalho.

Após uma abordagem inicial aos factores que podem contribuir para a prática referida, à

existência de estruturas de informações e apoio especializado a intoxicações em animais e

ao nível de formação em relação a medicamentos de uso veterinário e saúde animal

adquirido pelos alunos de todas as instituições que lecionam cursos de Ciências

Farmacêuticas em Portugal, é apresentada uma caracterização das substâncias ativas

constituintes de medicamentos frequentemente envolvidos em intoxicações, com especial

destaque para a sua periculosidade/toxicidade e risco de utilização em cães e gatos.

O panorama nacional atual da medicação de cães e gatos sem aconselhamento médico-

veterinário foi avaliado através da perspetiva dos médicos veterinários clínicos e dos

proprietários, considerando parâmetros como o aconselhamento não especializado, as

substâncias mais implicadas, as motivações dos donos, o grau de sensibilização da

população para o perigo e propostas para a diminuição das ocorrências.

No final deste trabalho foi possível concluir que a medicação de cães e gatos sem

aconselhamento médico-veterinário é uma realidade com a qual a maioria dos médicos

veterinários clínicos em Portugal se debate diariamente. A falta de informação adequada

disponível para os proprietários, e a existência de fontes de aconselhamento não

especializadas, parecem ser as causas principais para a ocorrência de situações que

envolvem uma medicação incorreta e que comprometem a saúde e bem-estar animal.

Palavras-Chave: medicamentos, intoxicação, cão, gato, aconselhamento veterinário.

iii

National outlook of dogs and cats medication with without veterinarian advice

Abstract

The medical attendance to severe cases subsequent to the administration of medicines to

pets by their owners is a frequent reality in the clinical practice of veterinarians in Portugal.

The high number of cases, sometimes fatal, that occur in dogs and cats after administration

by misuse of drugs containing active substances such as paracetamol, ibuprofen,

acetylsalicylic acid and other nonsteroidal anti-inflammatory drugs, as well as products with

permethrin in its composition, was the primary motivation for the development of this work.

After an initial approach to the factors which contribute to this procedures, to the existence of

information and support services specializes in animal intoxications and to the knowledge

about veterinary-use medicines and animal health that is acquired by the students from all

the institutions that teach the Pharmaceutical Sciences course in Portugal,

,

do balanço hídrico. A inibição das prostaglandinas pelos AINEs

18

resulta na redução do fluxo sanguíneo renal, da taxa de filtração glomerular, do transporte

iónico tubular, da libertação de renina e da homeostase hídrica. A constrição das arteríolas

pode também levar à necrose das papilas renais. Estes efeitos tornam-se mais evidentes

em animais desidratados ou com volémia reduzida (Ramesh et al., 2001).

O facto de os animais expostos a AINEs estarem saudáveis ou doentes é importante na

fisiopatologia decorrente, uma vez que em indivíduos saudáveis está preservada a proteção

das mucosas, o que não acontece num animal debilitado, portador de uma doença crónica,

politraumatizado ou em estado de choque. Em situações que fragilizem o organismo, a

mucosa gastrointestinal torna-se mais suscetível a lesões devido à intensidade do stress, à

diminuição do aporte sanguíneo local e à consequente perda dos mecanismos de proteção

da mesma, como a produção de muco e bicarbonato, a capacidade de renovação epitelial e

a manutenção do próprio fluxo sanguíneo local (Guilford & Strombeck, 1996).

Na mesma perspetiva, os animais saudáveis que não têm a função renal comprometida, não

manifestam de forma imediata sintomatologia de intoxicação aguda por AINEs (Ramesh et

al., 2001).

Em relação ao sistema circulatório, a agregação plaquetária é comprometida através da

inibição da COX-1, que impede, por exemplo, a formação do tromboxano A2, que é um

agente agregante plaquetário. Esta ação é irreversível e os efeitos persistem durante a vida

útil das plaquetas expostas (Plumb, 2005). A formação de prostaciclinas (PGI2) pode

também ser inibida, ficando anulada a ação destas como inibidores da agregação

plaquetária nos vasos sanguíneos, embora neste caso seja uma inibição reversível durante

a vida útil das plaquetas envolvidas (Eiras et al., 2007).

Existem AINEs não seletivos que inibem ambas as categorias de COX e que estão

frequentemente implicados em situações de reações adversas como hemorragias da

mucosa gastrointestinal e insuficiência renal. Por outro lado, existem substâncias ativas

mais recentes consideradas parcialmente seletivas (nimesulida, diclofenac, carprofeno,

meloxicam) pois inibem em muito maior grau a COX-2 - implicada nos processos

inflamatórios - e mantêm a eficácia analgésica, anti-inflamatória e antipirética, com uma

margem de segurança relativamente boa pois têm uma ação menor sobre a COX-1. Uma

terceira categoria enquadra os AINEs seletivos (grupo dos “coxibs”) com ação primordial

sobre a COX-2, que não apresenta os problemas gastrointestinais derivados dos AINEs não

seletivos mas têm toxicidade cardiovascular variável e importante (Bonneau, 2005; Forsyth,

Guilford & Haslett, 1998; Mathews, 2002; Reimer, Johnston & Leib, 1999).

19

3.1.3. Ácido acetilsalicílico

3.1.3.1. Caracterização da substância

É uma substância presente em diversos medicamentos de venda livre, sendo utilizado em

humanos em situações de dor, inflamação e febre. Em medicina veterinária tem, por vezes,

aplicações no controlo da dor ligeira a moderada – embora não seja um AINE de eleição

para a analgesia em cães e gatos – e na prevenção do tromboembolismo arterial, existindo

também dados que sugerem que a sua administração em doses muito baixas pode

favorecer a curto e longo prazo a sobrevivência de cães com anemia hemolítica

imunomediada, quando combinada com o tratamento com glucocorticóides e azatioprina

(BSAVA, 2011).

3.1.3.2. Cinética e metabolismo

A maioria das ocorrências de intoxicações com ácido acetilsalicílico deve-se à exposição por

via oral, após a qual a substância é rapidamente absorvida no estômago e intestino delgado

proximal, verificando-se o pico de concentração entre os 30 minutos e as 3 horas após

ingestão. A taxa de absorção depende da repleção estomacal, da taxa de desintegração da

forma farmacêutica e do pH gástrico. O ácido acetilsalicílico é hidrolizado em ácido salicílico

e outros metabolitos por esterases no fígado (e em menor extensão, na mucosa

gastrointestinal, plasma, glóbulos vermelhos e líquido sinovial) e liga-se em elevada

percentagem (até 90%) às proteínas plasmáticas, principalmente à albumina. Distribui-se

pelo organismo e encontra-se em níveis mais elevados no fígado, coração, pulmões, córtex

renal e plasma. O ácido salicílico é eliminado por conjugação hepática com a glicina e o

glucuronato, sendo as formas conjugadas excretadas na urina num processo que é tão mais

rápido quanto mais alcalina for a urina, pelo que a alcalinização da urina pode aumentar

significativamente a excreção dos metabolitos. Em cães e gatos o tempo se semivida de

eliminação (t½) é longo (7-8 horas em cães e 38-45 horas em gatos, dependendo da dose

administrada) (Talcott, 2006; Plumb, 2005).

3.1.3.3. Toxicidade em animais

A reação mais importante do metabolismo de medicamentos em mamíferos é a conjugação

destes com o glucuronato, embora existam diversas reações que ocorrem por conjugação

com outros compostos como a glicina, sulfato e benzoato, sendo a natureza dos grupos

funcionais presentes que determina o destino metabólico do composto. Neste caso,

substâncias que contêm grupos OH, COOH, NH2, HN e SH são particularmente suscetíveis

à glucuronidação (Anjos, 2009).

20

Os gatos apresentam uma relativa deficiência neste processo uma vez que possuem

quantidades reduzidas de algumas enzimas da família das glucuronil-transferases, que

catalisam a reação, o que justifica que muitos fármacos que são metabolizados por esta via

apresentem um tempo de semivida de eliminação prolongado nesta espécie. Assim, doses

consideradas baixas noutras espécies podem levar a concentrações tóxicas no organismo

dos gatos, causando respostas farmacológicas exacerbadas ou intoxicações. Nesta espécie

a conjugação com o sulfato parece ser bem desenvolvida e segundo alguns autores, a maior

parte dos conjugados formados no organismo dos gatos são, de facto, sulfatos No entanto,

esta via atinge facilmente a saturação, o que leva à permanência dos fármacos no

organismo (Boothe, 1990; Macy, 1994; Wilcke, 1984).

Além da insuficiência da via enzimática da glucuronidação específica da espécie felina, os

metabolitos do ácido acetilsalicílico contribuem para a acidificação da urina, dificultando a

sua reabsorção para os túbulos renais e a sua posterior excreção (Plumb, 2005; Talcott,

2006). A exposição a doses elevadas conduz à saturação da via de conjugação com o

glucuronato, o que é particularmente importante nos gatos devido à escassez das enzimas

envolvidas no processo, sendo que nesta espécie a dose tóxica está referida como 25

mg/kg/dia, o que é metade do equivalente reportado em cães (Khan, 2010; Gfeller &

Messonier, 1998; Osweiler et al., 2011).

Em cães, as apresentações na forma de comprimidos simples, não revestidos, aparentam

causar maior irritação na mucosa gástrica, em comparação com as formulações gastro

resistentes (Plumb, 2005).

3.1.3.4. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

Em Portugal o ácido acetilsalicílico é comercializado como medicamento de venda livre ou

receita obrigatória, na forma comprimidos simples, gastro resistentes, para mastigar, de

libertação prolongada ou efervescentes, cápsulas de libertação modificada, granulado ou

supositórios, em doses de 25 (indicação terapêutica como anti-agregante plaquetário), 100,

150, 300, 400, 500 e 650 mg. Apresenta-se como substância ativa única ou em combinação

com outras substâncias como o ácido ascórbico, o paracetamol e cafeína, entre outros

(Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

3.1.3.5. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

O ácido acetilsalicílico pode ser administrado em todas as espécies mas requer precauções,

pois, tal como referem Fitzgerald et al. (2006), a dose máxima a administrar nunca

,

deverá

21

ser determinada com base na idade do animal, mas sim no seu peso. Esta substância é

uma das poucas inseridas no grupo dos AINEs que é considerada relativamente segura

quer em cães, quer em gatos, quando administrada na posologia recomendada, apesar do

potencial para desenvolver hemorragias a nível do trato gastrointestinal nestas espécies

(Plumb, 2005).

Além da sua aplicação terapêutica como substância anti-inflamatória, analgésica e

antipirética, o ácido acetilsalicílico pode ser administrado no tratamento de casos de

coagulação vascular disseminada e em doses baixas pode ser benéfico como adjuvante ao

tratamento de doenças glomerulares, complicações a nível das artérias pulmonares

secundárias a dirofilariose e ainda cardiomiopatias em gatos (Plumb, 2005).

De acordo com as indicações do BSAVA Small Animal Formulary (2011), as doses

terapêuticas a administrar em cães variam entre 10-25 mg/kg PO BID, de acordo com o

objetivo da terapêutica. Center (2004) refere a dose 0,5 mg/kg PO SID como adjuvante em

tratamentos de anemia hemolítica imunomediada, juntamente com glucocorticoides e

azatioprina. Para efeito terapêutico anti trombótico em cães, está referida a dose 0,5 mg/kg

PO BID (Holland & Chastain, 1995; Rackear, Feldman, Farver, & Lelong, 1988). Já Talcott

(2006) refere a dose de 80 mg a cada 72 horas na terapia anticoagulante em cães.

Em gatos, a dose de 10 mg/kg PO a cada 48 horas está indicada para obter efeitos

analgésicos e antipiréticos (Hardie, 2000; Holland e Chastain, 1995; Jenkins, 1987). Por

outro lado, a inibição da agregação plaquetária requer doses mais elevadas, estando

referida a dose de 25 mg/kg PO a cada 48 ou 72 horas, dose com a qual a inibição se

mantém durante 3 a 5 dias (Fox, 2000; Khan, 2010; BSAVA, 2011; Osweiler et al., 2011).

Embora existam formas farmacêuticas mais frequentemente requisitadas pelo público, é

possível que os donos de cães e gatos tenham em suas casas qualquer das apresentações

comercializadas nas farmácias ou áreas de saúde, nas quais a toxicidade para os animais

de companhia varia de acordo com a quantidade de substância ativa incorporada. Tendo em

conta as menores doses tóxicas referidas pela literatura, para todas as substâncias ativas

abordadas no presente trabalho foram calculadas as quantidades/unidades de cada

apresentação disponível no mercado em Portugal que causam intoxicações em cães e

gatos, considerando o peso aproximado de animais de porte pequeno, médio e grande, de

ambas as espécies.

22

Tabela 1. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas, contendo ácido acetilsalicílico,

existentes em Portugal que podem ser responsáveis pela ocorrência de toxicidade em cães

e gatos, segundo Osweiler et al (2011).

Gatos: 25 mg/kg/dia Cães: 50 mg/kg/dia

Apresentação GP GM GG CP CM(1) CG(1)

25 mg  (2+1/2)  (3+1/2)  (4+1/2)  (12)  (26)  (40)

100 mg 3/5 4/5  (1+1/8)  (3)  (6+1/2) (10)

150 mg 2/5 3/5 3/4  (2)  (4+1/3) (6+2/3)

300 mg 1/5 1/3 2/5  (1)  (2+1/3) (3+1/3)

400 mg 1/6 1/5 1/3 3/4  (1+2/3)  (2+1/2)

500 mg 1/8 1/6 1/4 3/5 (1+1/3)  (2)

650 mg 1/10 1/7 1/6 2/5  (1)  (1+1/2)

Legenda:

Gato pequeno (GP): 2,5 kg Gato médio (GM): 3,5 kg Gato grande (GG): 4,5 kg

Cão pequeno (CP): 6 kg Cão médio (CM): 13 kg Cão grande (CG): 20 kg

Em caso de administração única, o animal pode ingerir uma unidade inteira sem risco de

ocorrência de intoxicação (entre parêntesis está referida a quantidade superior a uma

unidade que causa intoxicação).

(1) Ter em atenção que nenhuma das formulações comercializadas em Portugal tem

consequências consideráveis ou imediatas em cães médios ou grandes, com os pesos

considerados, mas apenas em caso de uma administração única. Com a repetição dessas

doses a toxicidade é agravada, num modelo que não pode ser previsto no âmbito deste

trabalho.

3.1.4. Ibuprofeno

3.1.4.1. Caracterização da substância

Em Portugal, a comercialização do ibuprofeno está autorizada apenas em medicamentos de

uso humano, não havendo indicações para a sua utilização em medicina veterinária.

No passado, a dose extra-indicações (off-label) de 5 mg/kg [transposta da dose terapêutica

para controlo da febre e dor em crianças de 1-2 anos (Prontuário Terapêutico - Infarmed,

2012)] estava indicada para cães e era administrada com fins terapêuticos anti-inflamatórios

e analgésicos No entanto, casos repetidos de intoxicações evidenciaram que o uso

prolongado da substância nesta posologia pode levar à ocorrência de úlceras gástricas, com

ou sem perfurações, pelo que, atualmente, já não é uma substância ativa aconselhada

(Khan, 2010).

 (…)

23

Os gatos são considerados como duas vezes mais sensíveis a esta substância em relação

aos cães, pelo que a administração nesta espécie está desaconselhada para qualquer

finalidade terapêutica e em qualquer dose (Khan, 2010; Richardson, 2000).

3.1.4.2. Cinética e metabolismo

O ibuprofeno tem uma biodisponibilidade de quase 100%, pelo que é rápida e

completamente absorvido nos cães, inclusivamente em menos tempo que nos humanos,

alcançando o pico de concentração plasmática entre os 30 minutos e 1,5 horas após

ingestão, embora a presença de alimento no trato alimentar possa atrasar a absorção e o

referido pico. Uma vez absorvido, liga-se em grande extensão (96%) às proteínas séricas,

razão pela qual apenas uma parte muito reduzida é excretada intacta pelos rins. No fígado

ocorre a transformação em metabolitos inativos, que são excretados na urina em 24 horas,

passando anteriormente por uma extensa recirculação entero-hepática. O t½ varia entre 2.5

e 5.4 horas, sendo nos gatos o metabolismo da substância mais lento, uma vez que a

principal via de metabolização é a conjugação com o ácido glucorónico, por vezes precedida

por reações de oxidação e hidroxilação (Campbell & Chapman, 2000; Khan, 2010; Osweiler

et al., 2011).

3.1.4.3. Toxicidade em animais

Segundo os dados de ocorrências do VPIS, a dose de 6 mg/kg causou efeitos adversos do

foro gastrointestinal e a administração de 8-16 mg/kg diários durante 30 dias resultou em

distúrbios gastrointestinais moderados com observação post-mortem da presença de

erosões e ulcerações gástricas e inflamação intestinal severa (Khan, 2010; VPIS, 2000).

Segundo Richardson (2000), há estudos que demonstram que a ingestão aguda de 50-125

mg/kg de ibuprofeno por cães provocou vómito, diarreia, náusea, anorexia, ulceração

gástrica e dor abdominal. Os mesmos sinais surgem em combinação com lesões renais

após a ingestão de doses iguais ou superiores a 175 mg/kg. A exposição a doses superiores

a 400 mg/kg provocou convulsões, ataxia, e coma. Enquanto em cães a sintomatologia se

revela principalmente gastrointestinal, em gatos os problemas renais são os mais

reportados, com ou sem associação a problemas do trato digestivo (VPIS, 2000; Osweiler et

al., 2011).

3.1.4.4. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

O ibuprofeno (ou o análogo dexibuprofeno) está disponível como medicamento de venda

livre ou de receita obrigatória, dependendo da formulação e indicações. É vendido sob a

forma sólida (em comprimidos revestidos por película ou dispersíveis, cápsulas normais ou

moles, pó para suspensão oral, granulado efervescente, supositórios e gel) ou suspensão

24

oral. Apresenta-se como substância ativa única em doses de 75, 150, 200, 300, 400 e 600

mg (formas farmacêuticas sólidas), 20 mg/ml na suspensão oral e 50 mg/g nas bisnagas de

gel (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

3.1.4.5. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

Tabela 2. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas, contendo ibuprofeno, existentes

em Portugal, a partir das quais a exposição em cães provoca sintomatologia gastrointestinal,

renal e nervosa, segundo Richardson (2000).

Sintomatologia

gastrointestinal

,

50 mg/kg

Sintomatologia renal

≥ 175 mg/kg(1)

Sintomatologia nervosa

≥ 400 mg/kg(1)

Apresentação CP CM CG CP CM CG CP CM CG

200 mg

(1+1/2)

(3+1/4)

(5)

(5+1/4)

(11+3/8)

(17+1/2)

(12)

(26)

(40)

300 mg

(1)

(2+1/6)

(3+2/6)

(3+1/2)

(7+1/2)

(11+2/3)

(8)

(17)

(27)

400 mg 3/4

(1+2/3)

(2+1/2)

(2+5/8)

(5+2/3)

(8+3/4)

(6)

(13)

(20)

600 mg 1/2

(1+1/10)

(1+2/3)

1+(3/4)

(3+4/5)

(5+4/5)

(4)

(9)

(13)

20 mg/ml 15 ml 32,5 ml 50 ml 52,5 ml 113,8 ml 175 ml 120 ml 260 ml 400 ml

Legenda:

Gato pequeno (GP): 2,5 kg Gato médio (GM): 3,5 kg Gato grande (GG): 4,5 kg

Cão pequeno (CP): 6 kg Cão médio (CM): 13 kg Cão grande (CG): 20 kg

Em caso de administração única, o animal pode ingerir uma unidade inteira sem risco de

ocorrência de intoxicação (entre parêntesis está referida a quantidade superior a uma

unidade que causa intoxicação).

(1) Dificilmente um cão poderá apresentar sintomatologia renal ou nervosa após a administração

por automedicação dos proprietários. Geralmente tal poderá ocorrer após a ingestão

acidental de uma grande quantidade de comprimidos ou cápsulas.

 (…)

25

Tabela 3. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas, contendo ibuprofeno, existentes

em Portugal a partir das quais a exposição em gatos provoca sintomatologia gastrointestinal,

renal e nervosa, segundo Richardson (2000).

Sintomatologia

gastrointestinal

25 mg/kg

Sintomatologia renal

≥ 87,5 mg/kg

Sintomatologia nervosa

≥ 200 mg/kg

Apresentação GP GM GG GP GM GG GP GM GG

200 mg 1/3 2/5 1/4

(1+1/10)

(1+1/2)

(2)

(2+1/2)

(3+1/2)

(4+1/2)

300 mg 1/5 1/3 3/8 3/4  (1)

(1+1/3)

(1+2/3)

(2+1/3)

(3)

400 mg 1/7 1/5 1/5 1/4 3/4

(1)

(1+1/4)

(1+3/4)

(2+1/4)

600 mg 1/10 1/7 1/5 3/8 1/2 2/3 4/5

(1+1/6)

(1+1/2)

20 mg/ml 3,1 ml 4,4 ml 5,6 ml 10,9 ml 15,3 ml 19,6 ml 25 ml 35 ml 45ml

Legenda:

Gato pequeno (GP): 2,5 kg Gato médio (GM): 3,5 kg Gato grande (GG): 4,5 kg

Cão pequeno (CP): 6 kg Cão médio (CM): 13 kg Cão grande (CG): 20 kg

Em caso de administração única, o animal pode ingerir uma unidade inteira sem risco de

ocorrência de intoxicação (entre parêntesis está referida a quantidade superior a uma

unidade que causa intoxicação).

3.1.5. Nimesulida

3.1.5.1. Caracterização da substância

A nimesulida é um AINE relativamente recente (primeira comercialização em 1985) e foi

bem-sucedida no mercado de medicamentos humanos pois mostrou ter menores índices de

lesão gastrointestinal quando comparado com outros AINEs (Hawkey, 1999; Shah,

Thjodleifsson, & Murray, 2001), o que acontece pela sua capacidade de inibir

preferencialmente a COX-2, com efeitos mínimos sobre a COX-1 (Costa, Araújo, Costa &

Maia, 2007).

Em cães, esta substância ativa é utilizada para reduzir a inflamação e dor associadas a

afeções músculo-esqueléticas, podendo também produzir outros efeitos anti-inflamatórios

como a inibição da resposta oxidativa de neutrófilos, inibição da síntese do factor de

ativação plaquetário e redução da síntese de enzimas de degradação das cartilagens

(BSAVA, 2011; Campbell et al., 2000).

 (…)

26

3.1.5.2. Toxicidade em animais

Os mecanismos moleculares envolvidos na toxicidade da nimesulida não estão bem

definidos mas existem indícios experimentais que sugerem a formação de metabolitos

reativos no compartimento hepatobiliar que estabelecem ligações covalentes com proteínas

e desencadeiam stress oxidativo, lesando as mitocôndrias (Borku, Guzel, Karakurum, Ural,

& Aktas, 2008).

A exposição à nimesulida foi associada, em vários casos reportados, à ocorrência de

insuficiência renal e hepatotoxicidade, com manifestações desde a elevação assintomática

de enzimas hepáticas e a necrose hepatocelular e/ou colestase intrahepática (Boelsterli,

2002; Apostolou et al, 1997; Sbeit et al., 2001). O componente genético e a sensibilidade

individual são sem dúvida factores que estão na base do desenvolvimento dos sintomas,

como referiram Van Steenbergen et al. (1998), apontando as reações imunitárias e

metabólicas individuais como possíveis mecanismos patológicos das doenças hepáticas

induzidas pela nimesulida em humanos. Merlani et al. (2001) reportaram que a manifestação

primária da intoxicação por nimesulida em humanos é a icterícia e o intervalo de tempo até

ao início da sintomatologia é em média 62 dias, embora Schattner, Sokolovskaya & Cohen

(2000) tenham reportado um intervalo de apenas 5 dias.

Segundo a Virbac Brasil, a nimesulida foi apontada como uma substância segura para cães

na dose considerada terapêutica (5 mg/kg/dia), com efeitos tóxicos no organismo apenas

pela administração de uma dose 6 vezes superior à dose terapêutica durante 30 dias, no

mínimo. Num estudo realizado, a dose 10 mg/Kg/dia não revelou qualquer efeito tóxico mas

registou-se a ocorrência de vómito após exposição a doses iguais ou superiores a 30

mg/Kg/dia, diarreia, fezes sanguinolentas, conjuntivite e palidez das gengivas na exposição

a à dose de 90 mg/Kg/dia, não se registando mortalidade até ao final do estudo.

Borku et al. (2008) reportaram o primeiro caso de lesão biliar aguda e insuficiência renal

reversíveis induzidas por nimesulida em gatos, concretamente num gato macho de 3 meses

com um historial de anorexia, espirros e corrimento nasal que levou o seu dono a

administrar-lhe nimesulida na dose de 100 mg/dia TID durante 3 dias. O paciente

apresentou-se à consulta com icterícia severa, vómito e prostração, que foram atribuídos, tal

como a brevidade da ocorrência dos mesmos, à elevada dose administrada, à idade e

espécie do animal.

Num estudo publicado em 2007, Costa et al. concluíram que a nimesulida é um AINE

relativamente seguro para o trato gastrointestinal de cães clinicamente saudáveis, com

efeitos tóxicos irrelevantes face à sua eficácia anti-inflamatória e analgésica. Ao longo de um

estudo com 8 cães adultos expostos a doses diárias de 5 mg/kg durante 21 dias, todos os

animais se mantiveram clinicamente saudáveis, sem sintomatologia gastrointestinal. Os

resultados dos exames físicos, hemogramas e análises bioquímicas realizadas a todos os

27

animais durante o estudo não evidenciaram alterações em outros órgãos que não os do

trato gastrointestinal, no qual foram detetadas, por endoscopia gastroduodenal, erosões e

hemorragias punctiformes consideradas de grau de severidade baixo. Estas lesões estavam

localizadas nas zonas do antro e piloro, surgindo as regiões do corpo, fundo, cárdia e

duodeno sem lesões em nenhum momento do estudo. Segundo Guilford & Strombeck

(1996), a mucosa do antro gástrico e piloro é mais suscetível a lesões isquémicas em

comparação com outras zonas do estômago devido à menor quantidade de interligações

entre os capilares e a mucosa, o que implica que uma lesão endotelial e oclusão capilar

nessas regiões resulta numa área isquémica maior, levando ao aparecimento de pontos

hemorrágicos ou erosões e úlceras focais, nos casos mais avançados.

Em oposição à perspetiva apresentada, Ramesh et al. (2001) concluíram que a dose de 2

mg/kg BID é tóxica em cães, causando sintomatologia relevante, pois desencadeou

ulceração gástrica significativa e nefrotoxicidade ligeira em 4 cães, ao final de uma

administração de 4 dias, o que levou os autores a considerar esta dose como não indicada.

Também o risco de desenvolvimento de insuficiência cardíaca inerente à exposição a AINEs

relativamente seletivos é tempo-dependente, pelo que o seu uso por curtos períodos é

considerado seguro, devendo a administração crónica ser substituída por terapêuticas

alternativas

,

com menor potencial tóxico (BSAVA, 2011; Campbell et al., 2000).

3.1.5.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

Em Portugal, a nimesulida é vendida como substância ativa única. Tem uma apresentação

em gel (30 mg/g, não sujeita a receita médica) e outras como comprimidos simples ou

revestidos por película e granulado para suspensão oral, apenas na dose de 100 mg e

sujeitos a receita médica (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

3.1.5.4. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

Segundo as indicações do BSAVA (2011), a administração em gatos está desaconselhada

mas em cães pode ser administrada na posologia de 5 mg/kg SID durante 3-5 dias

consecutivos, acompanhada de alimento.

Apesar da referência à dose terapêutica, de acordo com diferentes autores (Costa et al.,

2007; Ramesh et al., 2001) as doses de 2 mg/kg BID e de 5 mg/kg SID provocaram efeitos

tóxicos. Para efeitos de simulação de quantidades, é considerada metade da referida dose

para gatos (2,5 mg/kg SID), uma vez que para a generalidade dos AINEs está referido que

os gatos são, no mínimo, duas vezes mais sensíveis que os cães (Richardson, 2000).

28

Tabela 4. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de nimesulida existentes em

Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica para cães (segundo Costa et al, 2007 e

Ramesh et al, 2001) e gatos (segundo Richardson, 2000).

Gato: 2,5 mg/kg SID Cão: 5 mg/kg SID

Apresentação GP GM GG CP CM CG

100 mg 1/16* 1/11* 1/9 1/3 2/3 1

* difícil obtenção da dose dividida.

Legenda:

Gato pequeno (GP): 2,5 kg Gato médio (GM): 3,5 kg Gato grande (GG): 4,5 kg

Cão pequeno (CP): 6 kg Cão médio (CM): 13 kg Cão grande (CG): 20 kg

3.1.6. Diclofenac

3.1.6.1. Caracterização da substância

O diclofenac é um AINE relativamente seletivo, utilizado principalmente pelas suas

propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. O sal sódico de diclofenac está indicado em

humanos para o controlo de inflamação e de dores músculo-esqueléticas, particularmente

nos casos de doenças reumáticas, osteoartroses, gota, dores de dentes, pós-traumáticas e

pós-operatórias. Algumas preparações farmacêuticas destinadas a uso humano contêm

diclofenac em associação com misoprostol, que é um análogo sintético da prostaglandina

E1, usado no tratamento de úlceras gástricas, o que contraria os efeitos adversos

gastrointestinais do diclofenac (Campbell et al., 2000).

Embora o diclofenac não esteja autorizado para uso veterinário (Campbell et al., 2000), de

acordo com o BSAVA (2011) está indicada a utilização em animais, nomeadamente em

complemento a cirurgia de cataratas, no tratamento de uveítes e irites, no controlo de dor e

inflamação associada a cirurgia da córnea e ainda em casos de queratite ulcerativa em que

os corticosteroides estão contraindicados. Por outro lado, Plumb (2005) refere que o

diclofenac sódico tópico está aprovado como terapêutica local de dores articulares e de

inflamação em cavalos e que embora teoricamente possa ser administrado em outras

espécies veterinárias, existem outras alternativas aprovadas e mais seguras, para a mesma

finalidade.

3.1.6.2. Cinética e metabolismo

Em medicina humana, e tal como outros AINEs, o diclofenac é referido como uma

substância de metabolismo hepático, sem existência de metabolitos ativos derivados das

vias já referidas para outros AINEs e com excreção maioritariamente por via biliar,

http://pt.wikipedia.org/wiki/Osteoartrose

29

encontrando-se apenas 1% na urina. A ligação às proteínas plasmáticas ocorre numa

percentagem superior a 99%, o t½ de eliminação é de 1.2 a 2 horas e cerca de 35% da

substância sofre recirculação enterohepática. Tal como em humanos, presume-se que nos

cães também seja rapidamente absorvido, uma vez que nestes os efeitos clínicos surgem

em média 2-3 horas após ingestão (Campbell et al., 2000).

3.1.6.3. Toxicidade em animais

Está reconhecido que os cães são particularmente sensíveis ao ácido propiónico, do qual

deriva, por exemplo, o ibuprofeno, mas existe pouca informação sobre a sensibilidade

efetiva ao ácido fenilacético, do qual deriva o diclofenac sódico. Aparentemente, o diclofenac

promove o desenvolvimento de irritação, erosão e úlceras gastrointestinais potencialmente

perfurantes em cães. Parece também existir maior risco de lesões ou insuficiência renal em

cães expostos a doses elevadas desta substância. Como já foi descrito anteriormente, os

gatos são bastante atingidos a nível renal e gastrointestinal após administração ou ingestão

acidental da generalidade dos AINEs (VPIS, 2000).

De acordo com a literatura consultada pelo VPIS, a DL50 em cães é referida como 59 mg/kg,

embora não seja um valor irrefutável pois segundo a experiência dessa entidade, a

exposição a doses de 90 mg/kg não resultou em qualquer efeito com manifestação clínica e,

por outro lado, foram registados, por diversas vezes, casos em que a exposição a doses

únicas de cerca de 30 mg/kg causou efeitos gastrointestinais ligeiros, como vómito e

diarreia. Num caso do VPIS, num cão exposto a uma dose de 2,5 mg/kg, manifestou-se a

ocorrência de vómito e dor abdominal durante 24 horas. Noutro caso, um cão de 9 anos foi

exposto durante 4 dias a uma dose total de 38,5 mg/kg, apresentando-se com melena,

vómito, mucosas pálidas e desidratação (VPIS, 2000).

3.1.6.4. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

O diclofenac sódico é comercializado como medicamento sujeito a receita médica ou de

venda livre, que se apresenta como substância ativa único ou associada com 0,2 mg de

misoprostol. Apresenta-se em formas farmacêuticas sólidas (comprimidos revestidos por

película, dispersíveis, gastro resistentes ou de libertação prolongada, cápsulas moles,

supositórios), líquidas (solução injetável de 75 mg/2 ml, colírio, solução para pulverização

cutânea, solução bucal) e outras como gel, emplastro medicamentoso ou sistema

transdérmico. Os comprimidos, cápsulas e supositórios apresentam-se nas doses de 12.5,

25, 46.5, 50, 75 e 100 mg (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

30

3.1.6.5. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

No caso da cirurgia de cataratas, em cães e gatos, está recomendada a administração de 1

gota a cada 3 minutos, durante as 2 horas que antecedem a cirurgia, apesar de os

protocolos destas intervenções variarem muito (BSAVA, 2011).

Uma vez que a dose terapêutica está apresentada apenas em termos de gotas oculares,

não foi possível determinar a quantidade das formulações farmacêuticas sólidas a

administrar por via oral – formulações estas que são as mais frequentemente existentes em

casa dos donos –, pelo que se apresenta apenas a simulação das quantidades tóxicas em

cães, com base na menor dose tóxica reportada pelo VPIS.

Tabela 5. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas sólidas de diclofenac existentes

em Portugal a partir das quais a exposição provoca sintomatologia em cães, considerando a

menor concentração (2,5 mg/kg) que a literatura refere como tóxica, segundo Campbell et

al, 2000).

Apresentação CP CM CG

12,5 mg  (1+1/5)  (2+3/5)  (4)

25 mg 3/5  (1+1/3)  (2)

46,5 mg 1/3 2/3  (1)

50 mg 1/3 2/3  (1)

75 mg 1/5 2/5 2/3

100 mg 1/7 1/3 1/2

Legenda:

Cão pequeno (CP): 6 kg Cão médio (CM): 13 kg Cão grande (CG): 20 kg

Em caso de administração única, o animal pode ingerir uma unidade inteira sem risco de

ocorrência de intoxicação (entre parêntesis está referida a quantidade superior a uma

unidade que causa intoxicação).

3.1.7. Manifestações clínicas nas intoxicações por AINEs

A sintomatologia relacionada com intoxicações com AINES segue um padrão

gastrointestinal, renal, cardiovascular e de depressão do SNC.

Para a generalidade destas substâncias ativas, as intoxicações ligeiras (cuja toxicidade da

dose envolvida depende da espécie a que

,

se referem) geralmente restringem-se a

sintomatologia gastrointestinal como vómito e diarreia, com possibilidade de hematemese e

hematoquézia ou melena. Em doses consideradas elevadas, para a espécie em questão,

podem ocorrer adicionalmente outras alterações já referidas, como erosão ou ulceração

(com ou sem perfuração) no estômago, duodeno e, ocasionalmente, no cólon, anemia

 (…)

31

secundária às hemorragias do trato gastrointestinal, supressão primária da medula óssea ou

formação de corpos de Heinz (no caso dos gatos), alterações na agregação plaquetária, IRA

oligúrica ou anúrica (e sintomatologia associada, como poliúria, polidipsia, azotémia e

creatinina e BUN elevados), edemas, hepatopatias, fibrilhação ventricular, taquipneia,

dispneia, depressão do SNC, fraqueza muscular, ataxia, hiperestesia e tremores. A nível

geral pode ocorrer hipertermia (com ou sem posterior hipotermia), dor abdominal derivada

das lesões no trato gastrointestinal e a nível renal, desidratação devida às perdas que

ocorrem no mesmo, hipersiália, náusea, letargia e anorexia. Casos extremos resultam em

choque hemorrágico, secundário à ulceração, ou choque séptico, secundário a peritonite, e

situações de coma e/ou morte por falência orgânica múltipla podem ocorrer dentro de um

dia (ou mais) após intoxicação quando os animais não recebem tratamento precoce (Khan,

2010; Richardson, 2000; Gfeller et al., 1998; Osweiler et al., 2011; Plumb, 2005).

Os efeitos da intoxicação por AINES são maioritariamente dose-dependentes e observam-

se em 2 a 6 horas após a ingestão de uma dose tóxica, embora as hemorragias decorrentes

de erosões ou úlceras ou peritonite séptica, resultante da perfuração gastrointestinal,

possam ocorrer somente 12 horas a 5 dias após a exposição oral. Os efeitos a nível renal

manifestam-se em 12 horas a 5 dias, e as alterações no SNC verificam-se em 1 a 2 horas

após a ingestão de doses muito elevadas de ibuprofeno (Khan, 2010; Gfeller et al., 1998;

Osweiler et al., 2011).

O prognóstico é favorável se a intoxicação for detetada numa fase inicial, se o tratamento

instituído for rápido e adequado e se o animal não se encontrar debilitado por condições

subjacentes. Por outro lado, se estas condições não se verificarem, o prognóstico varia

entre reservado a mau (Khan, 2010; Gfeller et al., 1998; Osweiler et al., 2011).

3.2. Paracetamol

3.2.1. Caracterização da substância

O paracetamol é um derivado sintético não opiáceo do p-aminofenol com propriedades

antipiréticas e analgésicas semelhantes às do ácido acetilsalicilico mas sem as significativas

propriedades anti-inflamatórias e anti-agregantes deste. O paracetamol atua no aumento do

limiar da dor por inibição das COX e pode também inibir os mediadores químicos que

sensibilizam os recetores da dor. Embora o mecanismo de ação exato seja desconhecido,

esta substância também inibe os efeitos dos pirogénios ao bloquear a síntese de

prostaglandinas a nível do SNC. Tem uma boa margem de segurança em humanos quando

usado nas doses recomendadas tendo o seu uso substituído o dos salicilatos nas últimas

décadas, pelo seu risco reduzido de ulceração gástrica, em comparação com aqueles

(Fitzgerald et al., 2006; Khan, 2010; Richardson, 2000; BSAVA, 2011; Campbell et al.,

2000;).

32

3.2.2. Mecanismo de toxicidade

Em condições normais, o paracetamol é rapidamente absorvido do trato gastrointestinal e é

uniformemente distribuído pela maioria dos tecidos, com uma percentagem de

aproximadamente 25% a sofrer ligação às proteínas plasmáticas (Campbell et al., 2000;

Plumb, 2005).

Em condições normais e na maioria das espécies, o paracetamol é eliminado principalmente

por glucuronidação e sulfatação, formando metabolitos inativos que são excretados pela

bílis e urina, enquanto a via de oxidação tem um desempenho muito reduzido (com doses

baixas de paracetamol, apenas 3-5% do mesmo é metabolizado por oxidação). A pequena

parte da dose total, que é metabolizada através das oxidases do citocromo P450, forma um

metabolito altamente reativo, a N-acetil-para-benzoquinoneimina (NAPQI). Este metabolito é

posteriormente inativado no fígado por conjugação com a glutationa e é metabolizado em

compostos não tóxicos que são excretados na urina (Khan, 2010; Richardson, 2000;

Campbell et al., 2000).

Com o aumento da dosagem de paracetamol quer a via da glucuronidação, quer a da

sulfatação encontram-se saturadas e passa a existir uma maior mobilização da via oxidativa.

Com a saturação destas vias, e o possível esgotamento das reservas de glutationa abaixo

de 70% dos valores normais (numa primeira fase esgota-se no fígado e depois nos glóbulos

vermelhos), a NAPQI liga-se às membranas dos hepatócitos e, por peroxidação, lesa as

suas camadas lipídicas, o que leva à morte destas células. Nos cães, o fígado é, de facto, o

órgão alvo da NAPQI pois os hepatócitos são as células mais sensíveis a este metabolito

tóxico do paracetamol. Em gatos, por outro lado, os eritrócitos são as células mais

suscetíveis a este metabolito, com alteração quer do ferro do grupo heme (que a NAPQI

oxida ao estado férrico, o que converte a hemoglobina em metemoglobina), quer dos grupos

sulfidrilo da globina (Allen, 2003). A diferença de suscetibilidade entre diferentes tecidos de

cães e gatos deve-se ao facto de a hemoglobina canina ter 4 grupos sulfidril por molécula

(tal como a maioria das espécies, à exceção dos humanos, que têm 2) e a hemoglobina

felina possuir 8, sobre os quais a desnaturação pode ocorrer. A consequência dos efeitos ao

nível da hemoglobina, particularmente em gatos, é a formação de corpos de Heinz, que são

cadeias de hemoglobina que sofrem desnaturação pois a NAPQI reage com os grupos

sulfidril da hemoglobina em vez de se conjugar com os grupos sulfidril da glutationa, que

entretanto se esgotam com a administração de paracetamol. Os corpos de Heinz precipitam

e migram para as membranas celulares onde fragilizam as células, resultando em hemólise

intravascular. A este propósito, importa referir que os gatos têm uma relativa deficiência em

metemoglobina-redutase nos eritrócitos, sendo a metemoglobinémia a mais precoce e

acentuada característica de intoxicação por paracetamol nesta espécie, enquanto em cães

apenas se verifica som sobredosagens muito elevadas (Fitzgerald et al., 2006; Harvey,

1976; Khan, 2010; Richardson, 2000; Souza & Amorim, 2008; Campbell et al., 2000).

33

Na presença de glutationa, a metemoglobina é reduzida novamente a hemoglobina. No

entanto, e para além dos níveis já naturalmente baixos de glutationa em gatos, quando os

níveis de paracetamol no organismo são elevados, há não só a depleção como também a

inibição de síntese de glutationa, pelo que esta fica indisponível para efetuar a redução.

Desta forma, a metemoglobina acumula-se e, quando as lesões oxidativas ultrapassam a

capacidade dos eritrócitos, as células não são suficientemente oxigenadas e instala-se

hipóxia generalizada (Campbell et al., 2000).

3.2.3. Toxicidade em animais

Uma vez que a utilização do paracetamol não é comum em medicina veterinária, os dados

científicos relativos ao perfil de efeitos adversos em animais são reduzidos. Estão referidas

doses recomendadas para cães mas mesmo com essas existe o potencial para a ocorrência

de efeitos tóxicos a nível renal, hepático, gastrointestinal e hematológico (Plumb, 2005).

Em cães, uma dose de 200 mg/kg de paracetamol originou, em 4 horas, metemoglobinémia

de 18,8% em 4 horas e uma dose de 500 mg/kg originou um nível de 51,9%. Em gatos, a

substância é extensamente metabolizada por sulfatação, com 5% a ser metabolizada por

oxidação e 1% por glucuronidação. A via de sulfatação torna-se limitada na exposição a

doses de 60 mg/kg; com 120 mg/kg a sulfatação decresce para 57%, a oxidação sobe para

12% e a glucuronidação para 16%. De acordo com o VPIS, a exposição a

,

uma dose de 60

mg/kg originou metemoglobinémia de 21,7% em 4 horas e a exposição a 120 mg/kg originou

metemoglobinémia de 45%, no mesmo tempo (VPIS, 2000).

Desde o lançamento do VPIS em 1992, o paracetamol está entre as substâncias mais

referidas nas consultas a este serviço. Anualmente, mais de 80% dessas consultas

envolvem cães e 18% envolvem gatos, nos quais os casos são geralmente mais graves,

resultando em morte em 25% dos mesmos. Segundo a experiência do VPIS, a maioria dos

casos em cães são relativos à ingestão acidental de embalagens deixadas ao acesso dos

animais, enquanto a maioria dos casos em gatos acontece pela administração pelos donos

na tentativa de aliviar dores, febre e outras situações não específicas (VPIS, 2000).

Segundo a experiência do VPIS, é possível compreender que a componente individual do

metabolismo do paracetamol nos animais é determinante para o quadro clínico desenvolvido

e para o respetivo prognóstico da intoxicação.

Na tabela seguinte são resumidos alguns dos casos de intoxicação, em cães e gatos,

reportados ao VPIS

34

Tabela 6. Casos de intoxicação por paracetamol, em cães e gatos, reportados ao VPIS

(VPIS, 2000)

Animal

Doses de

exposição

Sintomas Tratamento

Cão 330 mg/kg e

555 mg/kg

Inaparentes Indução de emese.

Administração de

acetilcisteína

Cão 545 mg/kg Ocorrência de vómito, diarreia

e edema facial 12 horas após

exposição.

Deteção de icterícia e urina

castanha 48 horas após

exposição.

Administração de

acetilcisteína com

recuperação total do

animal.

Cão 285 mg/kg diarreia hemorrágica,

desidratação e colapso

Tratamento de suporte

Administração de

acetilcisteína mas morte do

animal

Cão 330 mg/kg Ocorrência de vómito, ataxia,

taquicardia, taquipneia e

hematúria

Eutanásia do animal

Gato

(8 meses)

93 mg/kg Sinais de toxicidade severa Tratamento de suporte

Administração de

acetilcisteína e diuréticos

Morte do animal 12 horas

após exposição.

Gatos 500mg Sinais de toxicidade severa Administração de antídotos

Tratamento de suporte

Morte dos animais

Gato

(12

meses)

1,6 gr

(administração

fraccionada ao

longo de 48

horas)

Sinais de toxicidade severa Tratamento agressivo com

acetilcisteína, ácido

ascórbico, fluidoterapia e

transfusão sanguínea.

Morte do animal

Gato

(7 meses)

214 mg/kg Ocorrência de edema facial,

cianose, depressão e piréxia

Administração de

acetilcisteína, cimetidina,

corticosteroides e

fluidoterapia.

Resposta favorável do

animal.

3.2.4. Manifestações clínicas nas intoxicações por paracetamol

Os sintomas e sinais de intoxicação por paracetamol geralmente surgem em 4-12 horas

após a exposição e as manifestações precoces podem incluir cianose progressiva,

taquicardia e taquipneia – todas elas dependentes do grau de metemoglobinémia –,

depressão, hipersiália profusa, vómito, diarreia, anorexia, edema facial (principalmente

submandibular) e das patas, hematúria, anemia, mucosas inicialmente pálidas e outras

35

evidências de hemólise. Posteriormente, a metemoglobinémia leva a que as mucosas

fiquem cianóticas, com tom acastanhado ou acinzentado e geralmente acompanha-se de

dispneia, fraqueza, icterícia e necrose hepática. A exposição a doses muito elevadas

provoca nefrotoxicidade, caracterizada por necrose tubular proximal (Richardson, 2000,

Campbell et al., 2000).

A morte em cães ocorre principalmente por necrose hepática severa (forma mais comum é a

necrose centro-lobular) e geralmente verifica-se 24-36 horas após exposição sem

tratamento. A principal causa de morte em gatos é a insuficiência respiratória derivada de

metemoglobinémia severa (Richardson, 2000; Campbell et al., 2000).

Existem efeitos que poderão ser observados apenas a partir dos 2-7 dias após exposição,

como hemoglobinúria, hemólise intravascular, icterícia e outros sinais de lesões hepáticas.

Por vezes são reportadas situações de coma, convulsões e edema pulmonar, estando

relacionadas com casos de pior prognóstico. Ocasionalmente é reportada

queratoconjuntivite seca aguda em cães e oligúria em gatos (Khan, 2010; Richardson, 2000;

Campbell et al., 2000).

Embora o prognóstico seja favorável se o animal for tratado rápida e agressivamente, os

casos com sinais severos de metemoglobinémia ou lesão hepática têm prognóstico

reservado a mau. Nos animais sobreviventes, pode ser necessário proceder ao tratamento

para a necrose hepática durante meses e os parâmetros bioquímicos (hepáticos, urinários e

sanguíneos) demoram até 3 semanas a retomar os valores normais (Richardson, 2000;

Campbell et al., 2000).

3.2.5. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

Em Portugal podemos encontrar o paracetamol em formulações sujeitas a receita médica ou

de venda livre, como substância ativa única ou combinada com diversas substâncias, como

o ácido ascórbico, tramadol, ácido acetilsalicílico, cafeína, codeína e pseudoefedrina, entre

outras (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

O fármaco está disponível no mercado em formas farmacêuticas sólidas (comprimidos

simples, revestidos por película ou efervescentes, cápsulas, granulado efervescente, pó

efervescente, pó para solução oral e supositórios) e líquidas (xarope, solução oral e gotas

orais em solução). As apresentações sólidas apresentam doses de 250, 325, 400, 500, 650,

800 ou 1000 mg, se em comprimidos, e 125, 250, 325 e 500 mg, se supositórios. As formas

farmacêuticas líquidas apresentam-se nas concentrações de 24, 32, 40 e 100 mg por ml

(Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

36

3.2.6. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

Em cães, o paracetamol pode ser utilizado por via oral no controlo de dor ligeira a moderada

e como antipirético. Provoca poucos efeitos a nível gastrointestinal e pode ser administrado

a pacientes com úlceras gástricas. A administração parentérica do paracetamol pode ser útil

como adjuvante da analgesia no período pré-operatório em cães, especialmente em animais

que têm intolerância a AINEs. No entanto, a margem de segurança da dose terapêutica é

reduzida e, devido à elevada quantidade de paracetamol nos compridos utilizados em

humanos, o risco de sobredosagem é grande (Plumb, 2005; BSAVA, 2011).

Dodman (1992) e McLaughlin (2000) referem a dose de 15 mg/kg PO TID para analgesia

em cães. Já Kelly (1995) refere a dose de 10 mg/kg PO BID para a mesma indicação

terapêutica.

Os sinais clássicos de toxicidade geralmente não são observados a menos que a dose

ingerida pelo animal exceda 100 mg/kg, dose com a qual é possível a ocorrência de

hepatotoxicidade. Com 200 mg/kg pode ocorrer metemoglobinémia. Também é possível

verificar-se toxicidade com doses mais baixas que as referidas, se as exposições forem

repetidas (BSAVA, 2011; Campbell et al., 2000; Khan, 2010; Richardson, 2000).

Não existem doses consideradas seguras para administração em gatos, uma vez que a sua

deficiência em glucuronil-transferase compromete bastante o metabolismo do paracetamol

(Plumb, 2005; BSAVA, 2011). Existem registos de toxicidade consequente a exposições de

gatos a 10-14 mg/kg desta substância. Em regra, uma dose única de 250-500 mg é

potencialmente fatal para os gatos. Se uma dose não provocar, aparentemente, efeitos

negativos, uma próxima administração nas 4-24 horas seguintes aumenta o risco de

intoxicação, o que é importante nos casos em que os donos administram o medicamento

aos seus gatos e acham que não há problema porque o animal não piorou, e passado

algumas horas repetem a administração, tal como faria um ser humano (Campbell et al.,

2000; Khan, 2010; Richardson, 2000).

37

Tabela 7. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de paracetamol existentes em

Portugal a partir das quais a quantidade provoca hepatotoxicidade e metemoglobinémia em

cães segundo Campbell et al (2000), Khan (2010)

,

e Richardson (2000).

Hepatotoxicidade (a partir de 100

mg/kg)

Metemoglobinémia (a partir de 200

mg/kg)

Apresentação* CP CM CG CP CM CG

250 mg (2+2/5)  (5+1/5)  (8)  (4+4/5)  (10+2/5)  (16)

325 mg (1+4/5)  (4)  (6+1/7)  (3+2/3)  (8)  (12+1/3)

400 mg (1+1/2)  (3+1/4)  (5)  (3)  (6+1/2)  (10)

500 mg (1+1/5  (2+3/5)  (4)  (2+2/5)  (5+1/5)  (8)

650 mg

 (2)  (3)  (1+4/5)  (4)  (6+1/7)

800 mg 3/4  (1+5/8)  (2+1/2)  (1+1/2)  (3+1/4)  (5)

1000 mg 3/5  (1+1/3)  (2)  (1+1/5)  (2+3/5)  (4)

24 mg/ml 25 ml 54 ml 83,3 ml 50 ml 108,3 ml 166,7 ml

32 mg/ml 18,8 ml 40,6 ml 62,5 ml 37,5 ml 81,3 ml 125 ml

40 mg/ml 15 ml 32,5 ml 50 ml 30 ml 65 ml 100 ml

100 mg/ml 6 ml 13 ml 20 ml 12 ml 26 ml 40 ml

* Não foram consideradas as formulações em supositórios, pela baixa probabilidade de

serem administradas a animais.

Legenda:

Cão pequeno (CP): 6 kg Cão médio (CM): 13 kg Cão grande (CG): 20 kg

Em caso de administração única, o animal pode ingerir uma unidade inteira sem risco de

ocorrência de intoxicação (entre parêntesis está referida a quantidade superior a uma

unidade que causa intoxicação).

- Entre 1 e 9/10 da formulação.

 (…)

38

Tabela 8. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de paracetamol existentes em

Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica e fatal em gatos, segundo Campbell et al

(2000), Khan (2010) e Richardson (2000).

Tóxica (a partir de 10 mg/kg) Fatal (a partir de 250 mg/kg)

Apresentação* GP GM GG GP GM GG

250 mg 1/10 1/7 1/5  (2+1/2)  (3+1/2)  (4+1/2)

325 mg 1/13 1/10 1/7

 (1+ )  (2+2/3)  (3+2/5)

400 mg 1/16 1/11 1/10  (1+3/5)  (2+1/5)  (2+4/5)

500 mg 1/20 1/14 1/11  (1+1/4)  (1+3/4)  (2+1/4)

650 mg FATAL 1/18 1/14  (1)  (1+2/5)  (1+2/3)

800 mg FATAL FATAL 1/18 4/5  (1)  (1+2/5)

1000 mg FATAL FATAL FATAL 5/8

 (1)

24 mg/ml 1ml 1,5 ml 1,9 ml 26 ml 36,5 ml 46,9 ml

32 mg/ml 0,8 ml 1,1 ml 1,4 ml 19,5 ml 27,3 ml 35,2 ml

40 mg/ml 0,6ml 0,9 ml 1,1 ml 15,6 ml 21,9 ml 28,1 ml

100 mg/ml 0,3 ml 0,4 ml 0,5 ml 6,3 ml 8,8 ml 11,3 ml

* Não foram consideradas as formulações em supositórios, pela baixa probabilidade de serem

administradas a animais.

Legenda:

Gato pequeno (GP): 2,5 kg Gato médio (GM): 3,5 kg Gato grande (GG): 4,5 kg

Em caso de administração única, o animal pode ingerir uma unidade inteira sem risco de

ocorrência de intoxicação (entre parêntesis está referida a quantidade superior a uma

unidade que causa intoxicação).

- Entre 1 e 9/10 da formulação.

3.3. Loperamida

3.3.1. Caracterização da substância

A loperamida é um agonista opióide fraco, com pouca atividade analgésica e cuja

administração em humanos é indicada para o tratamento antidiarreico e também como

adjuvante de tratamentos de rehidratação, pois inibe a motilidade gastrointestinal e a

propulsão excessiva por atuação nos recetores do plexo mioentérico, geralmente sem ação

central (Campbell et al., 2000, Plumb, 2005). A loperamida tem uma potente ação anti-

peristáltica e anti-secretória no trato gastrointestinal. O fármaco desempenha os seus efeitos

farmacológicos reduzindo o peristaltismo no intestino grosso, o que é conseguido pelo

aumento das contrações circulares e diminuição das contrações longitudinais do músculo

 (…)

39

liso intestinal. Esta ação resulta no prolongamento da duração do trânsito intestinal,

permitindo uma maior absorção de fluidos e electrólitos. O processo é mediado por

recetores opióides e, presumidamente, também por bloqueio dos canais de cálcio. Apesar

das suas propriedades, a loperamida não aumenta a duração do esvaziamento gástrico

(Campbell et al., 2000).

3.3.2. Mecanismo de toxicidade

A loperamida é uma substância relativamente bem absorvida a partir do trato

gastrointestinal, sendo de seguida metabolizada no fígado e a sobredosagem por ingestão

resulta num aparecimento rápido de sinais clínicos ligeiros, sendo raros os casos graves ou

fatais (Campbell et al., 2000).

Em doses terapêuticas não tem efeitos no sistema nervoso central e não atravessa a

barreira hematoencefálica (Campbell et al., 2000). No entanto, em cães da raça Collie ou

descendentes da mesma, existe predisposição genética para a ocorrência de reações

adversas a determinadas substâncias, entre as quais se destaca a loperamida, mesmo

quando administrada em doses recomendadas para outras raças da espécie canina. A

sensibilidade destas raças deriva de uma mutação no gene MDR1, responsável pela

codificação da produção da glicoproteína-P que impede a difusão de determinadas

substâncias através da barreira hematoencefálica. Deste modo, a existência da mutação

permite que substâncias como a loperamida, ivermectina e vincristina, entre outras,

contactem diretamente com o sistema nervoso central, o que leva a manifestações de

toxicidade (Plumb, 2005; Colégio de Medicina Veterinária WSU, 2012; MarVistaVet, 2011).

Em caso de sobredosagem, os efeitos tóxicos são devidos à ativação dos recetores opióides

no sistema nervoso central, assim como aos efeitos na contratilidade do músculo liso

intestinal atrás descritos (Campbell et al., 2000).

3.3.3. Toxicidade em animais

As intoxicações ocorrem com muito maior frequência devido a exposições acidentais por

ingestão de especialidades de venda livre que os donos têm em casa do que por

sobredosagem após administração pelos donos ou pelos médicos veterinários (VPIS, 2000).

Todos os casos reportados ao VPIS recuperaram sem sequelas, exceto um caso fatal de um

cachorro de raça Yorkshire Terrier de 6 semanas (VPIS, 2000).

Os cães da raça Collie e os seus cruzamentos são mais suscetíveis a intoxicação, sendo a

DL50, para a generalidade das raças, referida como 40 mg/kg. A exposição a doses tão

baixas como 0.63 mg/kg pode provocar vómito e doses entre 1.25-5 mg/kg por dia podem

resultar em efeitos clínicos mais graves associados ao vómito, como depressão, hipersiália

40

e perda de peso. A ingestão de 5 mg/kg resultou em parésia dos membros posteriores e em

outros casos produziu enterite hemorrágica (VPIS, 2000).

Segundo alguns casos rececionados pelo VPIS, exposição a doses entre 0.5-0.8 mg/kg, em

raças não relacionadas com Collie, provocou apenas vómito. Em casos de administrações

prolongadas de doses entre 1.25-5 mg/kg/dia foram reportados sintomas como hipersiália,

cianose, hipotermia, bradicardia, perda de peso e enterite hemorrágica. No caso da

exposição de um Yorkshire Terrier de 6 semanas a uma dose de 14.3 mg/kg, administrada

pelo dono, ocorreu colapso, coma e morte (VPIS, 2000).

Já a exposição a uma dose de 0,12 mg/kg num Collie provocou hipersiália, inapetência e

vocalização. Num outro cão de raça Collie, a exposição a uma dose de 0,42 mg/kg resultou

em sedação profunda e não responsiva à medicação, bradicardia, depressão respiratória,

constrição pupilar e hipotermia; o animal recuperou com tratamento de suporte (VPIS,

2000).

3.3.4. Manifestações clínicas nas intoxicações por loperamida

Como já foi referido, os cães de raça Collies e os seus cruzamentos são mais suscetíveis

aos efeitos da loperamida, surgindo nestes uma sintomatologia mais grave que em outras

raças, em relação a uma mesma dose. Os efeitos podem surgir em 30 minutos, mas em

média verificam-se 6 horas após uma só exposição aguda. A sintomatologia pode persistir

por 4-24 horas e consiste mais frequentemente em vómito, hipersiália, obstipação, dor

abdominal, constrição ou ausência de reação pupilar, vocalização, andar em círculos,

pressionar a cabeça, descoordenação e ataxia (por vezes apenas nos membros

posteriores). Em casos mais graves pode ocorrer depressão, diarreia sanguinolenta,

hipotermia, bradicardia, bradipneia, cianose, sonolência, coma e colapso (Campbell et al.,

2000).

3.3.5. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

Em Portugal, a loperamida está disponível

,

como medicamento de venda livre ou de receita

obrigatória, como substância ativa única ou associada ao simeticone para um efeito

antiflatulento. É comercializado na dose de 2 mg sob a forma de cápsulas, comprimidos,

comprimidos revestidos ou comprimidos orodispensíveis e na concentração de 0,2 mg/ml

em solução oral (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

3.3.6. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

Esta substância está indicada para o uso em medicina veterinária no tratamento de diarreia

crónica e aguda não específica e síndrome do cólon irritável, na dose de 0,04-0,2 mg/kg oral

BID ou TID (BSAVA, 2011). Em cães observa-se que o medicamento produz algum efeito

41

sedativo. A administração de loperamida a gatos é controversa pois pode ser observada

hiperexcitabilidade (Plumb, 2005). Além disso, não foi possível obter doses tóxicas

concretas em gatos, uma vez que as ocorrências reportadas com esta substância são

apenas relativas a cães. Segundo a experiência do VPIS, doses superiores a 0.1 mg/kg

produzem efeitos tóxicos em raças caninas Collie ou relacionadas.

Tabela 9. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de loperamida existentes em

Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica para cães de raça não relacionada com

Collie, considerando a menor concentração (0,8 mg/kg) que a literatura refere como tóxica

(segundo Campbell et al., 2000).

Apresentações CP CM CG

2 mg 2+2/5 5+1/5 8

0,2 mg/ml 24 ml 52 ml 80 ml

Legenda:

Cão pequeno (CP): 6 kg Cão médio (CM): 13 kg Cão grande (CG): 20 kg

Tabela 10. Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de loperamida existentes em

Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica para cães de diferentes raças Collie,

considerando o peso de cães jovens e cães adultos referido pelo Collie Clube de Portugal

(2011).

Legenda:

Em caso de administração única, o animal pode ingerir uma unidade inteira sem risco de

ocorrência de intoxicação (entre parêntesis está referida a quantidade superior a uma

unidade que causa intoxicação).

- Entre 1 e 9/10 da formulação.

Rough Collie Border Collie

Apresentações 15 kg 25 kg 10 kg 18 kg

2 mg 3/4 (1+1/4) 1/2

0,2 mg/ml 7,5 ml 12,5 ml 5 ml 9 ml

 (…)

42

3.4. Benzodiazepinas

3.4.1. Caracterização das substâncias

As benzodiazepinas (BZD) são substâncias com diversas indicações terapêuticas

(ansiolíticas, sedativas, relaxantes musculares, hipnóticas, estimulantes do apetite e

anticonvulsivas) para várias espécies (Khan, 2010; Campbell et al., 2000; Plumb, 2005,

Osweiler et al., 2011).

Os efeitos farmacológicos das BZD resultam da interação com os recetores do ácido gama

aminobutírico (GABA) nos neurónios pós-sinápticos. O efeito traduz-se numa sedação mais

ou menos acentuada, com utilidade terapêutica a vários níveis. Através de mecanismos não

totalmente determinados, os efeitos comportamentais decorrentes da exposição a BZD são

principalmente o resultado da depressão dos níveis subcorticais do SNC (principalmente o

sistema límbico, tálamo e hipotálamo), o que afeta o estado de vigília, a ansiedade, a tensão

muscular, a atividade epileptogénica e a memória (Crowell-Davis, 2008; Plumb, 2005).

As BZD têm uma ampla margem de segurança e em doses terapêuticas os efeitos

cardiovasculares e respiratórios são mínimos. Em medicina veterinária utilizam-se três

destas substâncias: o diazepam, o alprazolam e o midazolam (Khan, 2010; Osweiler et al.,

2011; Campbell et al., 2000)

Segundo refere Crowell-Davis (2008), a Food and Drug Administration (FDA - USA) não

tinha, até aquela data, aprovado qualquer BZD para o tratamento de problemas

comportamentais em animais domésticos. No entanto, várias BZD de uso humano são

frequentemente usadas em animais, nomeadamente no tratamento de ansiedade, medos e

fobias. Outras indicações das BZD são o tratamento anticonvulsivo, em complemento à

anestesia e no relaxamento da musculatura esquelética (em situações de espasmos uretrais

e tétano, por exemplo).

O diazepam é o fármaco de eleição no controlo, a curto prazo, de crises convulsivas

epilépticas severas e status epilepticus em cães e gatos. O efeito anti-convulsivo em cães

só é mantido por 20 minutos, pelo que o diazepam deve fazer parte de um protocolo de

tratamento mais completo, não sendo eficaz como tratamento de manutenção nas

convulsões. No entanto, em gatos é eficaz como medicamento de manutenção. Pode ainda

ser usado em medicina comportamental, no controlo de ansiedade e fobias dos animais

(BSAVA, 2011).

O midazolam provoca os mesmos efeitos e tem as mesmas indicações que o diazepam mas

é mais potente que este, tem início e duração de ação mais curtos e provoca menos

irritação nos tecidos. As duas substâncias podem ser usadas em combinação no maneio de

emergência de convulsões e status epilepticus. Muitas vezes é utilizado em combinação

com a quetamina em protocolos anestésicos, para contrariar a hipertonicidade muscular

causada por esta (BSAVA, 2011).

43

O alprazolam é utilizado como ansiolítico, tendo uma diversidade de efeitos a nível cognitivo,

incluindo inibição da memória. Em cães e gatos é aplicado nos tratamentos de estados de

ansiedade e situações de fobias, especialmente casos explícitos de pânico. O seu curto

tempo de semi-vida e o rápido início de atuação tornam esta substância útil em episódios

agudos. Embora doses elevadas (>0.25 mg/kg), embora possam causar alguma sedação,

bloqueiam significativamente a memória, o que pode ser útil em terapias comportamentais

de animais de companhia (BSAVA, 2011).

Em cães e gatos, as BDZ utilizadas como substância única não proporcionam uma sedação

segura em indivíduos saudáveis, podendo inclusivamente ocorrer uma estimulação do SNC

que varia entre o aumento da atividade motora até uma excitabilidade acentuada. O risco de

excitabilidade/sedação é proporcional ao estado de saúde do animal e enquanto animais

saudáveis geralmente ficam sobre estimulados, animais doentes são facilmente sedados

(embora tal nem sempre esteja garantido). Para obter efeitos sedativos, os protocolos mais

frequentes incluem a utilização de BZD associadas a opióides, o que, segundo as

indicações do BSAVA (2011), confere segurança à sedação em cães mas não em gatos,

devendo nesta espécie optar-se por um protocolo mais consistente.

3.4.2. Cinética e Metabolismo

As BZD são lipofílicas e sofrem uma rápida absorção no trato gastrointestinal. Ligam-se em

grande percentagem às proteínas plasmáticas e atravessam com facilidade a barreira

hemato-encefálica. A sua metabolização ocorre no fígado, principalmente por

glucoronidação e muitos, como o diazepam, têm metabolitos reativos, pelo que a duração

dos efeitos associados a estes é muito superior. Este aspeto torna os gatos particularmente

sensíveis, não só pela deficiência da espécie em glucuronil-transferase como também em

glutationa, que intervém na destoxificação dos metabolitos reativos. A administração crónica

de BZD, principalmente de diazepam, pode resultar em insuficiência hepática fulminante em

gatos, para a origem da qual existem diferentes teorias, embora o mecanismo concreto seja

desconhecido (Khan, 2010; Campbell et al., 2000; Plumb, 2005; Osweiler et al., 2011).

3.4.3. Toxicidade em animais

As BZD são relativamente seguras (Crowell-Davis, 2008) pois têm toxicidade baixa em cães

e gatos e a sobredosagem tem de ser elevada para produzir efeitos adversos

potencialmente fatais. A título de exemplo, a DL50 do diazepam por exposição por via

parentérica em cães é > 800 mg/kg (VPIS, 2000).

De acordo com Center et al. (1996), foram analisados 11 casos de falência hepática

fulminante associada à repetição da administração de diazepam em gatos, na dose de 1.25

44

e 2,5 mg PO SID ou BID, na tentativa de modificar o comportamento de micção

inapropriada. Os sinais

,

clínicos surgiram em 5-11 dias após o início da administração de

diazepam. Cinco dos onze gatos avaliados apresentaram letargia, ataxia e anorexia nas

primeiras 96 horas de tratamento e todos os gatos em estudo desenvolveram icterícia nos

primeiros 11 dias de tratamento. À exceção de um animal, todos os gatos morreram (alguns

deles sujeitos a eutanásia) até 15 dias após o início do tratamento com diazepam. A análise

histológica do tecido hepático de cada gato revelou necrose centrolobular, proliferação

celular e hiperplasia dos ductos biliares, associada a inflamação supurativa no interior dos

ductos. Os autores consideraram a hepatotoxicidade verificada como idiossincrática, uma

vez que todos os animais (exceto um) foram tratados com doses recomendadas para a

espécie.

Em cães, a exposição a uma dose de 22 mg/kg de diazepam apenas causou ataxia e

letargia. Já a administração de 1 mg/kg de diazepam causou depressão respiratória e a

administração de 40 mg/kg da mesma substância provocou sedação prolongada, hipotensão

e hipotermia (VPIS, 2000).

3.4.4. Manifestações clínicas nas intoxicações por benzodiazepinas

O início da sintomatologia de intoxicação e a sua duração são rápidos, variando entre 2 e 12

horas (Crowell-Davis, 2008). Em cães ocorre com maior frequência excitação paradoxal do

SNC e em gatos ocorrem principalmente alterações comportamentais e insuficiência

hepática (Plumb 2005). Outras manifestações clínicas gerais incluem depressão do SNC,

disforia, ataxia, sonolência, tremores musculares, hipotermia, hipotensão, bradicardia,

fraqueza, desorientação, náusea, vómito e coma, podendo ocorrer também depressão

respiratória nos casos mais graves. A nível hepático ocorre necrose idiopática fulminante,

principalmente em gatos expostos a diazepam (Crowell-Davis, 2008), com manifestações de

desidratação, icterícia, anorexia e coagulopatias. Em 40 a 50% dos casos em cães e gatos,

especialmente em animais expostos a doses altas, ocorre um efeito paradoxal,

caracterizado por hiperatividade, hiperestesia, hipersiália, desorientação, agressividade, e

hipertermia e só depois depressão do sistema nervoso central (Khan, 2010; Campbell et al.,

2000; Osweiler et al., 2011).

3.4.5. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

Em Portugal, o diazepam, midazolam e alprazolam são vendidos como medicamentos

sujeitos a receita médica e todos eles como substância ativa única (Prontuário Terapêutico -

Infarmed, 2012).

45

O diazepam (Valium®) é comercializado na forma sólida (comprimidos e cápsulas simples

ou de libertação prolongada, nas doses de 3, 5, 6 e 10 mg) ou líquida (suspensão oral de

0,4 mg/ml, injeção de 10 mg/2ml ou solução rectal de 5 ou 10 mg/2,5 ml). O alprazolam

(Xanax®) é comercializado na forma de comprimidos simples ou de libertação modificada,

com doses de 0.25, 0.5, 1, 2 e 3 mg. O midazolam tem apenas uma apresentação em

Portugal, como comprimidos revestidos de 15 mg (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

3.4.6. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

A aplicação terapêutica de midazolam em animais é referida como administração em bolus

IV ou retal e de seguida infusão contínua, após estabilização do animal. Contudo, em

Portugal não é comercializado midazolam em formas farmacêuticas líquidas, pelo que a sua

dose recomendada não será aqui referida (BSAVA, 2011).

Tabela 11. Doses recomendadas para administração de diazepam em cães e gatos, de

acordo com diferentes indicações terapêuticas.

Tabela 12. Doses recomendadas para administração de alprazolam em cães e gatos, de

acordo com diferentes indicações terapêuticas.

Diazepam

Indicação terapêutica Dose

Ansiolítico em cães 0.5-2 mg/kg PO a cada 4 horas (Crowell-Davis, 2008)

Ansiolítico em gatos

0.1-1 mg/kg PO a cada 4 horasn (Crowell-Davis,

2008)

Maneio de emergência de

convulsões e status epilepticus

0,5-1 mg/kg em bolus IV ou rectal, em cães e gatos,

repetindo após 10 minutos se não surtir efeito, até 3

vezes; infusão contínua para controlar status

epilepticus ou convulsões repetitivas: 1 mg/kg/hora

(cães) ou 0.5 mg/kg/hora (gatos) (BSAVA, 2011)

Relaxamento muscular em cães 2-10 mg/cão PO TID (BSAVA, 2011)

Estimulante do apetite em gatos 0.5-1 mg/kg IV, uma dose (BSAVA, 2011)

Alprazolam

Indicação terapêutica Dose

Ansiolítico em cães 0.0125-0.2 5 mg/kg PO TID (Crowell-Davis, 2008)

Ansiolítico em gatos 0.02-0.1 mg/kg PO a cada 4 horas (Crowell-Davis, 2008)

46

De seguida apresentam-se as quantidades tóxicas das formulações existentes em Portugal

em relação às BZD mais conhecidas pela população, o diazepam e alprazolam. Não foi

possível obter referências quanto a doses terapêuticas ou tóxicas do midazolam.

Em relação a doses tóxicas no cão, não existem valores bem definidos. Segundo os casos

reportados ao VPIS (VPIS, 2000), 1 mg/kg foi a dose mais baixa à qual se seguiram

sintomas de toxicidade, o que levanta dúvidas pois a dose terapêutica reportada por

Crowell-Davis (2008) para feitos ansiolíticos em cães é 0,5-2 mg/kg PO a cada 4 horas. Os

gatos manifestam a toxicidade mesmo com doses consideradas terapêuticas, devido ao

carácter idiossincrático das reações nessa espécie, não sendo também possível determinar

uma dose tóxica concreta (Crowell-Davis, 2008).

O alprazolam é utilizado terapeuticamente em menor dose que o diazepam, o que

subentende a sua maior potência e os efeitos tóxicos com quantidades mais baixas que as

referidas para o diazepam.

3.5. Medicamentos do aparelho respiratório

A tosse é um reflexo do organismo que, apesar de ser um mecanismo de defesa natural,

torna-se um problema quando é persistente e muito intensa, o que leva a quem sofre esse

incómodo a recorrer a medicamentos.

De acordo com as informações recolhidas do estudo desenvolvido no âmbito deste trabalho

(ver Parte II), ainda que a tosse não seja uma das situações para a qual os donos

declaradamente mais automedicam os seus animais, e cujos medicamentos específicos não

são aqueles que mais frequentemente intoxicam cães ou gatos, nas respostas obtidas nos

questionários entregues a proprietários de animais de companhia tornou-se evidente que os

denominados “Xaropes para a tosse” são medicamentos considerados inofensivos, mesmo

se administrados sem recomendação veterinária. De facto, a eficácia que muitos dos

medicamentos para o alívio da tosse têm em humanos, aliada à sua comercialização

geralmente sem receita médica obrigatória, levam a que os proprietários de cães e gatos

não reconheçam inconvenientes na administração dos mesmos. A aparente segurança em

humanos pode, contudo, não se verificar em animais de companhia, seja pela posologia

utilizada ou pela substância em si.

Determinados antitússicos ou expetorantes podem ser administrados a cães e gatos como

tratamento para casos particulares de tosse crónica (BSAVA, 2011). No entanto, a

administração deve ser recomendada por um médico veterinário e fundamentada num

diagnóstico diferencial devidamente efetuado, uma vez que a tosse pode surgir nestes

animais por diversas razões e episódios repetidos devem ser investigados para determinar

essa causa, tendo em consideração que a administração destes medicamentos pode

47

mascarar os sintomas e permitir a permanência e/ou evolução de uma patologia no

organismo.

3.5.1. Antitússicos

3.5.1.1. Dextrometorfano

3.5.1.1.1. Caracterização da substância

É um derivado morfínico sintético com ação antitússica central que, quando administrado na

dose recomendada, aumenta o limiar de estimulação do centro da tosse por inibição dos

estímulos aferentes, aliviando temporariamente a tosse causada por irritação da garganta e

brônquios. Atua sobre o sistema nervoso central sem afetar a atividade ciliar e não tem

capacidade sedativa ou aditiva, o que, aliás, foi a propriedade que na década de 50 levou à

,

sua aprovação pela FDA-USA e preferência em prol da codeína, a substância antitússica

mais utilizada nessa altura mas que provocava dependência física e sedação (Infarmed,

2012).

3.5.1.1.2. Doses terapêuticas recomendadas versus toxicidade em animais

A dose terapêutica recomendada para administração em cães é 0.05-0.1 mg/kg, até o

máximo de 5 mg BID a QID (Provet, 2012). No entanto, segundo o BSAVA (2011), o

dextrometorfano é uma substância sobre a qual existe pouco conhecimento do efeito em

cães e, principalmente, em gatos, pelo que deve ser administrada com especial precaução

nestes animais.

Em doses elevadas pode ocorrer depressão respiratória, sedação e outros efeitos no

sistema nervoso central e TGI, como agitação, ataxia, nervosismo, midríase, tremores,

sonolência, vómito e diarreia. Alguns sintomas podem coincidir com aqueles da síndrome

serotoninérgica (agitação, nervosismo, tremores) (Infarmed, 2012).

3.5.1.1.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

O dextrometorfano encontra-se disponível em diversos medicamentos não sujeitos a receita

médica para constipações e tosse seca, irritativa e persistente, na forma de xarope ou

solução oral, como substância única ou associado a efedrina, para efeitos

descongestionantes. Apresenta-se nas concentrações de 1, 1.33, 1.8 e 2 mg/ml. (Prontuário

Terapêutico - Infarmed, 2012).

48

3.5.1.2. Codeína

3.5.1.2.1. Caracterização da substância

A codeína é um derivado opióide, de estrutura similar à da morfina, com propriedades

sedativas e aditivas mas com aplicação na supressão da tosse, no alívio de dores ligeiras a

moderadas e como antidiarreico. Como substância analgésica tem 1/10 da potência da

morfina mas a capacidade antitússica é semelhantes em ambas (Khan, 2010).

3.5.1.2.2. Doses terapêuticas recomendadas versus toxicidade em animais

Segundo Riviere & Papich (2009), a eficácia clínica da codeína como analgésico não está

reportada em animais e, devido à existência de analgésicos mais adequados, a

administração deste opióide para o referido efeito em medicina veterinária raramente é

indicada. Pode, no entanto, ser utilizada no alívio de tosse persistente em cães, na dose de

0.5-2 mg/kg PO BID, dose esta que também está referida para utilização em gatos (BSAVA,

2011) embora não tenha aplicação frequente, pois os gatos têm maior sensibilidade aos

opióides devido a uma distribuição diferentes dos recetores opióides no SNC em relação

aos cães (Montenegro, 2009). A duração do tratamento depende da causa a ser tratada, da

resposta à terapêutica e do desenvolvimento de efeitos adversos.

Ainda que apresente uma relativa segurança e eficácia quando recomendada por um

veterinário, a codeína pode desencadear efeitos adversos, principalmente quando os

animais têm condições subjacentes de insuficiência cardíaca crónica, doença respiratória

avançada, asma, pneumonia ou quando há aumento da pressão intracraniana. Por esta

razão é importante que os donos estejam conscientes dos perigos da automedicação, pois a

tosse causada por factores irritantes, de resolução mais simples, pode ser confundida com

aquela derivada das referidas doenças, e a administração indevida de medicamentos para a

tosse contendo codeína pode agravar uma situação que os donos não conseguem distinguir

(Petplace, 2012).

A toxicidade é dose-dependente e é mais evidente quando a sobredosagem ocorre em

gatos. Os sintomas mais característicos são excitação, ataxia, espasmos musculares,

convulsões, depressão respiratória, sedação, vómito e constipação (efeito com o qual se

relaciona a indicação da codeína como anti-diarreico) (BSAVA, 2011, Petplace, 2012).

Embora tenha menor potencial aditivo que a morfina, também se verificam sintomas de

dependência aquando da descontinuação após uma terapêutica prolongada (Petplace,

2012).

3.5.1.2.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mecado em Portugal

A codeína está registada apenas para uso em humanos e em Portugal é comercializada

como medicamento sujeito a receita médica na forma de comprimidos, cápsulas,

49

supositórios (formas sólidas nas doses de 7.5, 8, 30 e 60 mg), xarope e solução oral (formas

líquidas nas concentrações de 2 e 2.2 mg/ml). Apresenta-se como substância ativa única ou

em combinação com paracetamol, com feniltoxolamina, com paracetamol e buclizina ou com

ácido acetilsalicílico e cafeína (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

3.5.2. Expetorantes

3.5.2.1. Bromexina

3.5.2.1.1. Caracterização da substância

A bromexina é um secretolítico bronquial, de uso humano mas também indicado para uso

em animais como vitelos, suínos, aves e animais de companhia em situações em que as

secreções excessivas do aparelho respiratório dificultam a função respiratória e os

mecanismos normais de remoção de muco pois está biodisponível nas vias aéreas onde

desintegra a estrutura das fibras de ácido polimucossacárido da expectoração mucóide e

aumenta a actividade dos cílios traqueobronquiais, produzindo um muco menos viscoso e

mais fácil de expelir. (BSAVA, 2011; Provet, 2012).

3.5.2.1.2. Doses terapêuticas recomendadas versus toxicidade em animais

Em cães está recomendada na dose de 3-15 mg/cão IM BID ou 2-2.5 mg/kg PO BID, e em

gatos 3 mg/gato IM SID ou 1 mg/kg PO SID (BSAVA, 2011).

De acordo com o CVMP/EMA (1999), embora não tenham sido observados efeitos adversos

em cães tratados com 4 mg de bromexina IM BID durante 6 semanas, doses de 10-20

mg/kg causaram bradicardia em cães e gatos, com uma fase transitória de aumento da

pressão arterial em gatos e diminuição em cães. Já doses de 40 mg mg/kg induziram

náuseas e vómito em cães, devido à hiperacidificação do suco gástrico. Não obstante, a

toxicidade aguda da bromexina é baixa, sendo a DL50 oral em cães superior a 21500 mg/kg

Num estudo referiu 1 mg/kg de bromexina como a dose mais baixa com a qual se verifica a

existência de efeito (LOEL), após exposição de cães a esta substância nas doses de 0, 1,

25 e 100 mg/kg durante 104 semanas. Nas diferentes doses, observou-se aumento do peso

do fígado e dos níveis de FAS, aumento da incidência de convulsões, diminuição do peso da

próstata, ligeira diminuição dos parâmetros relativos a eritrócitos e aumento dos níveis de

colesterol (CVMP/EMA, 1999).

Os sinais clínicos da intoxicação incluem vómito, náusea, sedação, episódios convulsivos

curtos, epistaxis, hemorragias nas câmaras oculares, perda de pêlo, taquipneia e aumento

da profundidade respiratória. As necrópsias de animais de laboratório expostos a esta

substância revelaram evidências consistentes com irritação e ulceração do TGI

(CVMP/EMA, 1999).

50

3.5.2.1.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

Em Portugal, a bromexina é comercializada como substância ativa única em medicamento

não sujeito a receita médica, nas formulações de xarope, solução oral, gotas orais e

comprimidos. As apresentações existentes são de 0.8, 1.6 e 2 mg/ml e 8 mg (Prontuário

Terapêutico - Infarmed, 2012).

3.5.2.2. Carbocisteína

3.5.2.2.1. Caracterização da substância

A carbocisteína é um aminoácido que após administração oral, se distribui no tecido

pulmonar e modifica as características reológicas das secreções do trato respiratório,

diminuindo a viscosidade e facilitando a expulsão das mesmas. A sua atividade específica

sobre as células mucossecretoras permite a normalização da produção de muco em

situações em que esteja alterada. Tem propriedades antagonistas das quininas locais, que

estão na origem da inflamação da mucosa e dos espasmos brônquicos, pelo que atua

também como um anti-inflamatório das mucosas brônquica, faríngea, laríngea, sinusal e

auricular média (Infarmed, 2012).

3.5.2.2.2. Doses terapêuticas recomendadas versus toxicidade em animais

Não foram encontradas referências à sua possível indicação terapêutica em animais, ou

respetivas

,

follows a

characterization of the active substances present in medicines that more frequently cause

intoxications, highlighting its toxicity and administration risks to dogs and cats.

The current national outlook of dogs and cats medication without veterinarian advise was

analysed through the veterinarians and owners perspective, considering parameters as non-

specialized counselling, substances primary involved, owners motivations, degree of the

population’s awareness to the danger and proposals to reduce the occurrences.

At the end of this study it was possible to conclude that the medication of dogs and cats

without veterinarian advise is a reality with which most veterinarians in Portugal deal daily.

The lack of proper information available to the owners and the existence of non-specialized

advising sources appear to be the primary causes to the occurrence of situations involving

inappropriate medication that compromise animals health and welfare.

Key words: medicines, intoxication, dog, cat, veterinarian advise.

iv

Índice geral

Agradecimentos i

Resumo ii

Abstract iii

Índice geral

Índice de figuras

Índice de tabelas

Índice de gráficos

Lista de abreviaturas e símbolos

iv

viii

viii

x

xii

Breve descrição das atividades realizadas durante o Estágio Curricular xiv

Introdução

1

Parte I - Revisão bibliográfica: medicação de cães e gatos pelos

proprietários sem aconselhamento médico-veterinário

3

1. Factores que influenciam a manutenção dos animais de companhia 3

1.1. Condição socioeconómica 3

1.2. Extrapolação da automedicação humana aos animais sem

aconselhamento de qualquer fonte

3

1.3. Criadores e funcionários de lojas de animais 5

1.4. Internet 5

1.5. Aconselhamento por farmacêuticos 6

1.5.1. Farmacologia veterinária inserida no mestrado integrado de Ciências

Farmacêuticas em Portugal

7

1.5.1.1. Instituições de ensino com abordagem obrigatória 8

1.5.1.2. Instituições de ensino sem abordagem especificada no plano

curricular

8

1.5.1.3. Instituições de ensino com abordagem opcional

8

2. Serviços de informações e apoio especializado a intoxicações em

animais

9

2.1. Centre National d'Informations Toxicologiques Vétérinaires (CNITV) 9

2.2. Veterinary Poisons Information Service (VPIS) 9

2.3. Centro de Informação Antivenenos (CIAV)

11

3. Medicamentos administrados aos animais sem aconselhamento

médico-veterinário

15

3.1. Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) 16

3.1.1. Enquadramento dos AINEs 16

3.1.2. Toxicidade dos AINEs

17

3.1.3. Ácido acetilsalicílico 19

3.1.3.1. Caracterização da substância 19

3.1.3.2. Cinética e metabolismo 19

3.1.3.3. Toxicidade em animais 19

3.1.3.4. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal 20

3.1.3.5. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

20

3.1.4. Ibuprofeno 22

3.1.4.1. Caracterização da substância 22

3.1.4.2. Cinética e metabolismo 23

3.1.4.3. Toxicidade em animais 23

3.1.4.4. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal 23

v

3.1.4.5. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas 24

3.1.5. Nimesulida 25

3.1.5.1. Caracterização da substância 25

3.1.5.2. Toxicidade em animais 26

3.1.5.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal 27

3.1.5.4. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

27

3.1.6. Diclofenac 28

3.1.6.1. Caracterização da substância 28

3.1.6.2. Cinética e metabolismo 28

3.1.6.3. Toxicidade em animais 29

3.1.6.4. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal 29

3.1.6.5. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

30

3.1.7. Manifestações clínicas nas intoxicações por AINEs 30

3.2. Paracetamol 31

3.2.1. Caracterização da substância 31

3.2.2. Mecanismo de toxicidade 32

3.2.3. Toxicidade em animais 33

3.2.4. Manifestações clínicas nas intoxicações por paracetamol 34

3.2.5. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal 35

3.2.6. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

36

3.3. Loperamida 38

3.3.1. Caracterização da substância 38

3.3.2. Cinética e metabolismo versus mecanismo de toxicidade 39

3.3.3. Toxicidade em animais 39

3.3.4. Manifestações clínicas nas intoxicações por loperamida 40

3.3.5. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal 40

3.3.6. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

40

3.4. Benzodiazepinas 42

3.4.1. Caracterização das substâncias 42

3.4.2. Cinética e metabolismo 43

3.4.3. Toxicidade em animais 43

3.4.4. Manifestações clínicas nas intoxicações por benzodiazepinas 44

3.4.5. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal 44

3.4.6. Doses terapêuticas recomendadas versus doses tóxicas

45

3.5. Medicamentos do aparelho respiratório 46

3.5.1. Antitússicos 47

3.5.1.1. Dextrometorfano 47

3.5.1.1.1. Caracterização da substância 47

3.5.1.1.2. Doses terapêuticasrecomendadas versus toxicidade em animais 47

3.5.1.1.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

47

3.5.1.2. Codeína 48

3.5.1.2.1. Caracterização da substância 48

3.5.1.2.2. Doses terapêuticas recomendadas versus toxicidade em animais 48

3.5.1.2.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

48

vi

3.5.2. Expetorantes

49

3.5.2.1. Bromexina 49

3.5.2.1.1. Caracterização da substância 49

3.5.2.1.2. Doses terapêuticas recomendadas versus toxicidade em animais 49

3.5.2.1.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

50

3.5.2.2. Carbocisteína 50

3.5.2.2.1. Caracterização da substância 50

3.5.2.2.2. Doses terapêuticas recomendadas versus toxicidade em animais 50

3.5.2.2.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

50

3.6. Ultralevure (UL – 250®) 51

3.6.1. Caracterização do medicamento 51

3.6.2. Mecanismos de ação 51

3.6.3. Efeitos adversos versus requisitos de eficácia

51

4. Permetrina 52

4.1. Caracterização da substância 52

4.2. Mecanismos de ação 52

4.3. Cinética e metabolismo 52

4.4. Toxicidade em animais 53

4.5. Manifestações clínicas nas intoxicações por permetrina 55

4.6. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

56

5. Medicação de cães e gatos sem aconselhamento veterinário no

âmbito de áreas especializadas de Medicina Veterinária

56

5.1. Obstetrícia 56

5.2. Dermatologia 58

5.3. Oftalmologia

59

PARTE II – Estudo sobre a perspetiva de proprietários e médicos

veterinários clínicos de animais de companhia quanto à medicação sem

aconselhamento veterinário.

60

1. Objetivos 60

2. Material e métodos 60

2.1. Questionários 60

2.2. Distribuição dos questionários 61

2.3. População alvo 61

2.4. Processamento das respostas obtidas com os questionários 62

2.5. Análise estatística 62

3. Resultados e Discussão de Resultados 62

3.1. Respostas de proprietários de animais de companhia 62

3.1.1. Caracterização da amostra inquirida 63

3.1.1.1. Espécie animal de que é proprietário 63

3.1.2. Apreciação de atitudes que influenciam a saúde e bem-estar animal 64

3.1.3. Medicação do animal sem aconselhamento médico-veterinário 65

vii

3.2. Respostas de Médicos Veterinários clínicos de animais de companhia 75

3.2.1. Ocorrência de medicação de animais de companhia pelos

proprietários sem aconselhamento médico-veterinário

75

3.2.2. Existência online de informações credíveis sobre saúde e bem-estar

animal

80

3.2.3. Campanhas de sensibilização da população e publicidade relativa a

conceitos de saúde e bem-estar animal

81

3.2.4. Intoxicações de gatos com permetrina 83

3.3. Apreciação crítica dos questionários inicialmente elaborados

84

Conclusão

87

Bibliografia

89

Anexos

94

Anexo 1. Poster exibido no 12º Congresso Internacional da Associação

Europeia de Farmacologia e Toxicologia Veterinária (EAVPT).

95

,

doses recomendadas.

Estudos de toxicidade crónica por exposição, durante 160 dias, de cães a doses 5-10 vezes

superiores à dose diária máxima prevista para o ser humano (adultos: 15 ml, 2 a 4 vezes por

dia) não provocaram variações significativas dos parâmetros estudados, nomeadamente o

peso corporal, perfis sanguíneos e renais e peso dos órgãos principais, nem alterações

anatomo-patológicas a nível dos órgãos examinados (Infarmed, 2012).

Como efeitos da sobredosagem de carbocisteína em humanos estão referidos sintomas

dose-dependentes como náusea, vómito, diarreia, desconforto gástrico, raramente

hemorragias gastrointestinais e erupções cutâneas. Em doentes asmáticos pode ocorrer

broncoconstrição e dispneia (Infarmed, 2012).

3.5.2.2.3. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

É uma substância comercializada individualmente ou em associação com o sobrerol

(também mucolítico), como medicamento não sujeito a receita médica. Em Portugal existe

na forma de cápsulas, xarope ou solução oral nas apresentações de 400 mg e 20 ou 50

mg/ml (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012).

51

3.6. Ultralevure (UL – 250®)

O Ultralevure é um dos medicamentos que os donos mais consideram como inofensivo e

também dos mais frequentemente administrados para resolver situações de diarreia.

3.6.1. Caracterização do medicamento

O Ultralevure é um medicamento apresentado como pó para suspensão oral ou cápsulas,

ambos na dose de 250 mg, cuja substância ativa é a levedura não patogénica

Saccharomyces boulardii. Está indicado como antidiarreico em situações em que existam

alterações da flora intestinal, uma vez que a estabiliza (Infarmed, 2012).

As leveduras não patogénicas possuem algumas características que as diferenciam das

bactérias e a sua resistência natural aos antibióticos constituiu uma base interessante para a

exploração da sua utilização como probióticos e, neste aspeto em particular, o S. boulardii é

a variedade mais amplamente testada em ensaios experimentais e clínicos, revelando

resultados importantes (Penna, Filho, Calçado, Junior & Nicoli, 2000).

3.6.2. Mecanismos de ação

Os mecanismos de ação sugeridos para explicar os efeitos benéficos dos probióticos são

basicamente os mesmos utilizados pela microbiota digestiva normal para exercer as suas

funções, isto é, mecanismos de compensação ou reforço da atividade da flora microbiana

gastrointestinal através de ações de proteção ecológica, estimulação do sistema imunitário e

efeitos tróficos na mucosa intestinal (Penna et al, 2000).

3.6.3. Efeitos adversos versus requisitos de eficácia

Como já foi referido, o S. boulardii é uma levedura não patogénica, sem impacto negativo

sobre o trato gastrointestinal. De facto, em estudos em humanos, não são conhecidos

probióticos capazes de se instalarem no ecossistema gastro-intestinal mais do que a curto

prazo, mesmo após uma exposição prolongada, já que a microbiota local, perturbada ou

não, impede essa colonização. No entanto, a sobrevivência em si não é suficiente para a

eficácia de um probiótico, tendo este que se apresentar em níveis populacionais

suficientemente elevados para ter um impacto relevante no local onde é esperado que

desenvolva a sua função. A ingestão diária de um probiótico em quantidade adequada é,

portanto, indispensável para manter níveis artificialmente elevados do microrganismo no

ecossistema digestivo, permitindo que ele desenvolva o efeito benéfico desejado (Penna et

al, 2000).

52

Segundo Pahwa, Fuloria, Kumar & Singh (2007), não foi possível determinar com exatidão a

DL50 do S. boulardii, em ratos, pois é superior a 3g/kg. Não se observaram efeitos tóxicos

em cães expostos à dose oral de 1g/dia durante 6 semanas nem em ratos e coelhos

expostos a uma dose per os de 300mg/kg/dia durante 6 meses. Estes resultados revelam a

fraca toxicidade do S. boulardii, mesmo em casos de administração crónica com

quantidades relativamente elevadas.

4. Permetrina

Entre a comunidade veterinária, é unânime a opinião sobre o risco que decorre da

exposição de gatos a produtos sob a forma de unções puntiformes (spot-on) contendo

permetrina, uma substância extremamente eficaz no controlo de diversos ectoparasitas,

nomeadamente insetos, mas que em determinadas formulações se apresenta com

concentrações potencialmente fatais para gatos.

4.1. Caracterização da substância

A permetrina pertence ao grupo I dos piretróides, que por sua vez são compostos sintéticos

derivados das piretrinas. Embora mais estáveis e eficazes, os piretróides têm uma

toxicidade menor em relação às piretrinas (Ramesh, 2010; Richardson, 2000; Campbell et

al., 2000; Osweiler et al., 2011).

4.2. Mecanismos de ação

A permetrina é uma substância neurotóxica que atua nos canais de sódio voltagem-

dependentes das terminações nervosas. Em condições normais, as despolarizações de

membrana que ocorrem no sistema nervoso implicam a abertura de canais de sódio

axonais, o que permite um influxo controlado de iões sódio para o interior destas estruturas.

A principal ação da permetrina ocorre nestes canais, por diminuição do seu pico de

condutância, o que prolonga reversivelmente o estado de abertura dos canais e o influxo de

sódio é aumentado, impedindo a despolarização de membrana. Consequentemente à não

ocorrência da despolarização há um bloqueio na condução axonal, resultando em estímulos

nervosos repetitivos (Meyer, 1999; Richardson, 2000).

4.3. Cinética e metabolismo

A permetrina é uma substância altamente lipossolúvel, que se distribui com facilidade por

todo o organismo, à exceção do sistema nervoso central. O seu metabolismo ocorre

principalmente através de hidrólise e oxidação por enzimas microssomais hepáticas, bem

como por glucuronidação, pelo que, na maioria das espécies, é rapidamente metabolizada

53

no fígado e excretada principalmente na urina em poucos dias. No entanto, os gatos têm

uma grande sensibilidade mesmo a doses baixas desta substância, pela sua deficiência em

glucuronil-transferase e pela taxa de hidrólise mais lenta em relação a outras espécies

(Meyer, 1999; Richardson, 2000; Campbell et al., 2000; Osweiler et al., 2011).

4.4. Toxicidade em animais

Atendendo à ação terapêutica pretendida, os efeitos da alteração nas despolarizações de

membrana em insetos são agitação, descoordenação e paralisia. Contudo, em ratos, nos

quais a DL50 da permetrina foi reportada como sendo 2000 mg/kg, desenvolveu-se

hiperexcitação, agressividade, hiperestesia e tremores corporais generalizados (Hansen,

2006; Richardson, 2000).

Apesar das contra-indicações de utilização, em gatos, que constam dos rótulos e RMC dos

medicamentos e produtos de uso veterinário, bem como na literatura cientifica, e mesmo na

internet, os casos de intoxicação em gatos, por exposição a unções punctiformes (spot-on)

que contêm permetrina, continuam a ocorrer nos dias de hoje, o que pressupõe que os

avisos são ignorados ou não são adequados ou visíveis o suficiente para prevenir o uso

inapropriado naquela espécie animal (Sutton, Bates & Campbell, 2007).

Figura 1. Informação de contra-indicação de uso em gatos na embalagem de medicamento

de uso veterinário.

Figura 2. Pormenor do alerta na embalagem individual de cada forma farmacêutica do

medicamento apresentado na Figura 1.

54

Figura 3. Outros exemplos de informação de contra-indicação de uso em gatos na

embalagem de medicamentos de uso veterinário.

Embora tenham uma boa margem de segurança em cães, com um risco relativamente baixo

de ocorrência de efeitos adversos, os referidos medicamentos/produtos formulados

exclusivamente para cães podem ser fatais em gatos, mesmo se aplicados em pequenas

quantidades (Richardson, 2000; Volmer, Khan, Knight & Hansen, 1998).

Segundo os registos do VPIS, um gato de 3,5 anos e 4,5 kg, acidentalmente

,

tratado com um

inseticida com permetrina formulado para uso em cães, desenvolveu convulsões,

taquicardia, hiperestesia, midríase e trismo ligeiro. Após a administração de diazepam,

lavagem, colocação de colar isabelino e administração de tratamento de suporte e dieta com

pouca gordura, o animal recuperou totalmente ao fim de 48 horas. Já um gato de 4 kg foi

tratado com um spray para pulgas com permetrina e butóxido de piperonilo e em 5 horas

apresentava hipersiália profusa, hiperestesia e convulsões, que culminaram com a morte do

animal, apesar do tratamento de suporte administrado. Em relação a situações registadas

em cães, um cão de 9 semanas de idade, cruzado de Collie, foi tratado com um inseticida

contendo permetrina e butóxido de piperonilo e em 5 horas apresentava hipersiália, dispneia

e dor abdominal. Mais tarde desenvolveu stress respiratório agudo e edema pulmonar,

tendo morrido 13 horas após a exposição, apesar da instituição agressiva de oxigenoterapia

e outros tratamentos de suporte. Num outro caso, um Yorkshire Terrier de 2 meses de idade

foi tratado com um inseticida com permetrina e em 2 horas apresentava tremores, hipersiália

e convulsões. Apesar da sua hospitalização, entrou em colapso e morreu (VPIS, 2000).

A particularidade e maior frequência das intoxicações com permetrina em gatos não

desvalorizam a ocorrência em cães. De facto, nos cães a margem de segurança é grande

mas podem apresentar-se com sintomas relativamente preocupantes após uma exposição

excessiva à substância ou hipersensibilidade à mesma. Assim, e excluindo os casos de

hipersensibilidade pelo seu carácter menos comum, há a assinalar algumas situações em

que os cães estão em risco de intoxicação: podem ingerir acidentalmente as embalagens do

produto, que estejam ao seu alcance em casa - o comportamento exploratório e pouco

cuidadoso dos cães, aliado ao armazenamento indevido destes químicos, representa um

risco importante para a ocorrência de intoxicações por ingestão e a preocupação nestes

casos é acrescida uma vez que a absorção oral da permetrina é maior que a absorção

55

cutânea. Outra situação possível é devida a erros na colocação do produto spot-on, pois

caso o líquido escorra para zonas do corpo ao alcance da boca, o animal pode lamber ao

tentar limpar-se. Outro erro de colocação consiste em não se dever friccionar o local de

aplicação pois o produto está formulado para se difundir naturalmente e em segurança pela

pele do animal e a fricção estimula a circulação local e facilita a absorção, aumentando a

toxicidade. Por último, medicamentos como o Advantix® são apresentados em quatro

posologias diferentes, que devem ser cumpridas em todos os casos pois estão formuladas

para intervalos de peso específicos dos cães. Assim, por exemplo, o conteúdo de uma

pipeta indicada para um cão de 25 kg não deve ser dividido por vários cães pequenos, pois

há o risco de sobredosagem da substância (Gfeller et al., 1998; Osweiler et al., 2011).

No caso dos gatos, a intoxicação ocorre com mais frequência por exposição cutânea mas

também por ingestão após limpeza do produto aplicado cutaneamente ou ainda por

exposições secundárias, por via oral ou cutânea, após o contacto com cães aos quais o

produto foi aplicado (Sutton et al., 2007; Campbell et al., 2000)

A adição de substâncias como o metoprene ou o butóxido de piperonilo aos produtos com

permetrina, que acontece com maior frequência em agroquímicos mas também no Kawu®

champô, leva a que a ação da permetrina seja prolongada, uma vez que as referidas

substâncias apresentam interação com a permetrina, pois inibem a atividade das enzimas

do citocromo P450, diminuindo a eliminação da substância (Campbell et al., 2000).

4.5. Manifestações clínicas nas intoxicações por permetrina

Os sinais clínicos de intoxicação podem surgir num intervalo entre 30 minutos até 70 horas

após exposição, variando com a taxa de absorção e os hábitos de higiene do animal,

mantendo-se em média 2 a 3 dias (Richardson, 2000; Osweiler et al., 2011).

Nos gatos, os sintomas neurológicos periféricos iniciam-se na cabeça e progridem pelo resto

do corpo, verificando-se principalmente hiperestesia, tremores generalizados (incluindo das

orelhas, pele, bigodes e patas), fasciculações musculares, hipertermia e convulsões.

Dependendo da formulação e via exposição, outras ocorrências possíveis em intoxicações

de cães e gatos incluem hipersiália, diarreia, anorexia, ataxia, tremores, espasmos,

midríase, taquicardia, hiperexcitabilidade, vocalizações, paraestesia (associada à

hiperatividade dos nervos sensoriais cutâneos), polidipsia, hiper ou hipotermia, pirexia,

dispneia, taquipneia, broncoespasmos, fraqueza muscular (com ou sem stress respiratório

associado) e morte por paragem respiratória. A relativa especificidade dos referidos

sintomas deve-se ao facto de os canais de sódio se localizaram em grande número na

musculatura periférica, glândulas salivares e sistema nervoso central (Ramesh, 2010;

Richardson, 2000; Campbell et al., 2000; Osweiler et al., 2011).

56

Os tremores e convulsões descontrolados e prolongados têm efeitos preocupantes como

hipertermia e mioglobinúria, podendo esta originar insuficiência renal aguda. Por outro lado,

os sinais neurológicos não tratados e a fraqueza muscular derivada dos tremores e

convulsões pode levar a stress respiratório, paragem cardíaca e síncope (Osweiler et al.,

2011).

4.6. Formas farmacêuticas disponíveis no mercado em Portugal

O recurso a formulações em unção puntiforme (spot-on) no controlo de parasitas em cães e

gatos é frequente, considerando que atualmente estão disponíveis diversos

medicamentos/produtos de uso veterinário, de venda não sujeitos a receita médica, em

farmácias e lojas de animais, além dos próprios centros de atendimento médico-veterinário

(CAMVs). Assim, de modo acessível e pouco dispendioso, os donos podem comprar

produtos de aplicação simples e rápida, que asseguram eficácia até 60 dias no controlo de

pulgas, piolhos, ácaros, carraças, moscas e mosquitos picadores. Além da aplicação tópica

no controlo destes ectoparasitas, a permetrina utiliza-se também frequentemente como

insecticida em instalações e na agricultura (Richardson, 2000; Sutton et al., 2007; Campbell

et al, 2000).

Em Portugal encontram-se atualmente no mercado 5 produtos contendo permetrina na sua

composição, sendo que dois deles apresentam uma concentração baixa e podem ser

aplicados em cães e gatos: o Kawu® champô, que contém 0.2% de permetrina e 1% de

butóxido de piperonilo, e o Oridermyl®, uma pomada auricular que contém 1% de

permetrina, além de neomicina, nistatina e triancinolona.

Os outros três medicamentos estão formulados exclusivamente para cães: o Advantix®,

unção punctiforme com 4 apresentações de acordo com o peso dos animais, em pipetas de

0.4, 1, 2.5 e 4 ml, que contêm 40% de permetrina e 10% de imidaclopride; o Pulvex® Spot,

unção punctiforme em embalagens de 1 e 2 ml constituído apenas por permetrina na

concentração de 65%; e o Defendog® Spray, uma formulação com 2% de permetrina

(Simposium Veterinário Apifarma, 2012).

5. Medicação de cães e gatos sem aconselhamento veterinário no âmbito de

áreas especializadas de Medicina Veterinária

5.1. Obstetrícia

Na área da reprodução veterinária, os métodos cirúrgicos são os mais seguros e eficazes

para impedir a reprodução na espécie canina e felina. No entanto, nem sempre é possível

submeter as fêmeas ao procedimento, seja por questões financeiras ou da condição do

próprio animal. Nessas situações existem substâncias contracetivas que se podem utilizar e

57

para as quais a orientação do médico veterinário é fundamental, pois são medicamentos

que não são isentos de efeitos adversos ou contraindicações e que são devem obedecer a

uma posologia particular devidamente calendarizada.

Os anticoncecionais

,

utilizados em cadelas e gatas tendem a retardar ou suprimir o estro e

são principalmente constituídos por progestagénios – compostos sintéticos com ação

semelhante à progesterona –, encontrando-se sob a forma de comprimidos ou injeções. No

entanto, existem fases específicas do ciclo éstrico do animal para se administrar o

anticoncecional, o que é relativamente fácil de identificar na cadela, pois os cios são mais

evidentes, mas não na gata, por ser um animal que apresenta vários cios por ano.

A administração de progestagénios a uma fêmea imediatamente ou pouco tempo após o

cruzamento implica uma grande possibilidade de ainda se encontrar em cio, ou seja, na fase

de estro ou proestro. As cadelas que se encontrem numa fase tardia do proestro, estro ou

diestro têm elevações coincidentes ou recentes de estrogénios que, em simultâneo com

níveis elevados de progestagénio podem produzir uma estimulação anormal do aparelho

reprodutivo e consequentes patologias uterinas como piómetras e metrites, cuja indicação

para resolução é geralmente cirúrgica, com ovariohisterectomia.

Apesar da existência de anticoncecionais específicos para cadelas e gatas (Piludog®,

Megecat®, Pilusoft®), existem outros de uso humano aos quais podem ser intencionalmente

expostas, dependendo do bom senso dos proprietários. De facto, estão disponíveis no

mercado pílulas contracetivas de venda não sujeita a receita médica, constituídas por

progestagénios, em exclusivo ou em combinação com estrogénios, e cuja administração em

animais está contraindicada.

No Hospital escolar da FMV, na secção de reprodução e obstetrícia, raramente são

observados casos de fêmeas com piómetras consequentes a medicação com

progestagénios não aconselhada pelo veterinário mas aconselhada ou não pelo

farmacêutico. No entanto, há conhecimento de que essas situações ocorrem e o

DepoProvera® é referido como o medicamento mais frequentemente envolvido. O

DepoProvera® tem na sua composição o acetato de medroxiprogesterona, um

progestagénio de uso humano que em caso algum deverá ser vendido em farmácias sem

receita médica, pois embora tenha aplicação em clínica veterinária, tem um protocolo de

aplicação específico e possíveis efeitos secundários graves, que incluem piómetra e metrite,

alterações mamárias e alterações comportamentais indesejadas (Romagnoli e Concannon,

2005; Romich, 2005).

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58

5.2. Dermatologia

Os problemas dermatológicos em animais de companhia são um dos motivos mais comuns

para a visita aos CAMVs e nem sempre são situações fáceis de resolver, podendo implicar

mais tempo e despesas do que os donos inicialmente consideravam. O facto de

aparentarem ser problemas de simples resolução leva a que muitos casos sejam

subvalorizados pelos proprietários e também nesta especialidade veterinária ocorre

medicação dos animais pelos proprietários sem aconselhamento veterinário.

A medicação sem aconselhamento veterinário com consequências mais consideráveis na

área da dermatologia refere-se à aplicação de corticosteroides tópicos. Existem vários

medicamentos que têm na sua composição corticosteroides tópicos com potência elevada,

podendo a exposição prolongada aos mesmos desencadear efeitos cutâneos e sistémicos

graves, dos quais se destacam a Síndrome de Cushing iatrogénica e a adaptação cutânea.

De acordo com a especialista, Professora Doutora Ana Mafalda Martins, as situações de

Síndrome de Cushing iatrogénico ocorrem frequentemente em animais de companhia em

consequência de exposições tópicas, as quais promovem a introdução excessiva de

corticosteroides no organismo, com sintomatologia muito subtil numa fase inicial desta

doença que, além de poder passar despercebida aos donos, é variável entre os animais,

embora o aumento do apetite e do consumo de água, de peso e de frequência da micção

sejam indícios suspeitos.

No caso da adaptação cutânea, a Professora Doutora Ana Mafalda Martins refere que a

aplicação prolongada de pomadas com corticosteróides provoca uma adaptação da pele a

estes fármacos, levando à perda da sua espessura por diminuição da produção de

colagénio e à habituação à sua ação, pelo que estas substâncias deixam de ter eficácia.

Esta habituação tem o efeito paradoxal de levar a que a pele reaja mal quando a

administração tópica é descontinuada, o que leva a que o quadro se torne mais severo e

que a pele passe a necessitar da substância para manter a sua integridade.

Ainda segundo a mesma especialista, outras situações verificadas na clínica de

dermatologia, de ocorrência menos frequente, derivadas à medicação sem aconselhamento,

são a ingestão de produtos tópicos pelos animais na tentativa de limparem a pele ou o pêlo,

a aplicação de produtos cicatrizantes, cuja ingestão abundante leva à ocorrência de

hipervitaminose A; a utilização de Betadine® não diluído durante um longo período, que

adquire um efeito agressivo sobre a pele; e a administração de tratamentos caseiros, como

unguentos e cataplasmas, com recurso frequente a aloé vera. Esta é uma planta cujo

extrato tem propriedades benéficas para humanos mas é potencialmente tóxico para cães e

gatos, devido à sua constituição em saponinas (ASPCA, 2012). De acordo com a página

oficial do Departamento de Ciências Animais da Universidade de Cornell, nos Estados

Unidos, a ingestão de produtos com concentrações elevadas de extratos de aloé vera pode

59

resultar em sintomas como vómito, diarreia, anorexia, alteração evidente da cor da urina,

depressão e tremores, especialmente em gatos (Un. Cornell, 2012).

5.3. Oftalmologia

Os problemas oculares são frequentes em animais de companhia e nos últimos anos tem-se

verificado um grande avanço nas técnicas e tecnologias aplicadas à oftalmologia veterinária.

Duas situações comuns são conjuntivites e úlceras da córnea que, para os proprietários,

podem ser indistinguíveis e levar a situações de automedicação com substâncias que

agravam seriamente o quadro. A conjuntivite está associada a sintomas pouco específicos

como hiperémia, corrimento ocular e edema da conjuntiva e ocorre por diversas causas

exógenas (bactérias, vírus, fungos, parasitas, corpos estranhos, entre outros) e endógenas

(deficiências na quantidade ou qualidade lacrimal, entrópion, entrópion, entre outros),

inclusivamente, em vários casos, é uma situação secundária a outras doenças oculares,

perioculares ou sistémicas. Sucede que os estadios iniciais do desenvolvimento de úlceras

da córnea têm sintomatologia semelhante a uma conjuntivite e não são detetáveis à vista

desarmada, só sendo reveladas pela aplicação de fluoresceína sobre o globo ocular pois

esta é retida pelo epitélio lesionado da córnea (Giuliano, 2004).

De acordo com a especialista Professora Doutora Esmeralda Delgado são relativamente

frequentes as consultas a animais de companhia aos quais foi aplicada em casa uma

pomada ou colírio anti-inflamatório para “curar uma conjuntivite” que na verdade

corresponde a um caso de úlcera da córnea. Segundo a sua experiência, ao identificar

sintomas oculares nos seus animais, a maioria dos proprietários dirige-se à farmácia antes

de levar o animal a uma consulta veterinária, justificando-se por falta de dinheiro ou de

tempo. Aqui, o perigo recai principalmente no aconselhamento para a administração de

medicamentos com corticosteroides na sua composição. Os corticosteroides tópicos são

unicamente recomendados em casos de animais com infeções controladas, na ausência de

herpesvírus felino ou outros agentes infeciosos primários e com a estrutura da córnea

íntegra, verificada pela ausência de retenção de fluoresceína, o que apenas pode ser

determinado por um médico veterinário (Khan, 2010; Maggs, Miller & Ofri, 2008).

Existem diversas formulações no mercado,

,

compostas por corticosteróides em associação

com outros antibióticos ou apenas por prednisolona ou dexametasona, que são

potencialmente administráveis pelos proprietários aos animais com aparentes sintomas de

conjuntivite (Prontuário Terapêutico - Infarmed, 2012). A dispensa de todos estes

medicamentos requer receita médica mas, segundo o que foi possível apurar, vários

medicamentos sujeitos a receita médica são vendidos livremente caso o farmacêutico tenha

conhecimento de que é para administração num animal por utentes com os quais exista uma

relação de “confiança”.

60

PARTE II – Estudo sobre a perspetiva de proprietários e médicos veterinários clínicos

de animais de companhia quanto à medicação sem aconselhamento veterinário.

1. Objetivos

Este estudo teve como objetivo recolher informações, a nível nacional, acerca da realidade

atual da prática de medicação em cães e gatos sem aconselhamento veterinário. Uma vez

que se trata de um problema observado com frequência nos CAMVs, cuja importância é por

diversas vezes referida pelos clínicos e em relação ao qual não existem dados estatísticos

abrangentes, fez todo o sentido procurar saber qual a perspetiva não só dos médicos

veterinários, que contactam com esta realidade, como dos proprietários, que muitas vezes

negam ter praticado tais atos. Outro dos objetivos foi apurar o grau de conhecimento dos

proprietários de animais de companhia quanto a determinadas questões de saúde e bem-

estar animal e interpretar algumas das suas respostas, de moda a ter a perceção dos

aspetos sobre os quais os médicos veterinários devem insistir, através da sensibilização e

transmissão de informações mais direcionadas para os seus clientes.

2. Material e métodos

2.1. Questionários

Foi realizado um estudo descritivo observacional com base dois questionários distintos. Um

dos questionários foi destinado a proprietários de animais de companhia e continha 15

questões, 13 delas de resposta obrigatória (Anexo 3). Neste foram colocados três tipos de

questões: questões generalistas sobre o inquirido (idade, animais à sua responsabilidade e

frequência e motivação das idas ao veterinário), questões relativas à medicação

propriamente dita dos seus animais sem aconselhamento médico-veterinário (já realizada ou

com hipótese de acontecer no futuro - estas questões originaram as respostas de maior

relevância para o objectivo deste estudo) e também questões relativas à utilização e

importância da internet como fonte de aconselhamento sobre saúde animal. A

particularidade da colocação deste último grupo de questões prende-se com o pressuposto,

prévio ao início desta investigação, de que a internet seria uma fonte a que muitos

proprietários recorriam para pesquisar informações de saúde animal. Através de todas estas

questões pretendia-se obter respostas com um elevado grau de sinceridade, de modo a

retirar conclusões o mais aproximadas possível da realidade.

O outro questionário, destinado a médicos veterinários clínicos de pequenos animais era

composto por 20 questões, 14 delas de resposta obrigatória (Anexo 4) e direcionado para

diferentes temas: na primeira parte, as questões eram relativas à ocorrência de intoxicações

por medicação realizada pelos proprietários sem aconselhamento médico-veterinário

61

(justificações, substâncias envolvidas, desfecho, entre outras). Foram também colocadas

questões relacionadas com a importância da internet como fonte de aconselhamento dos

proprietários para assuntos relacionados com saúde animal (pelos mesmos motivos já

descritos para o inquérito preenchido por proprietários); com a importância da existência de

publicidade consciencializadora para os perigos da medicação de animais de companhia

sem aconselhamento médico-veterinário; e com a ocorrência de intoxicações de gatos por

exposição à permetrina. No final do inquérito, com preenchimento de caráter opcional, foi

solicitado aos clínicos que deixassem um comentário que traduzisse a sua experiência

pessoal quanto a este tema. Aquando da construção do inquérito, não era previsível que

esta última questão desse um contributo tão valioso para o desenvolvimento do trabalho e

interpretação das respostas, quer dos clínicos, quer dos proprietários, como posteriormente

se verificou.

Ambos os inquéritos foram elaborados com perguntas de escolha múltipla (com ou sem

opção de resposta aberta) e de resposta descritiva, utilizando, no caso dos proprietários, um

vocabulário corrente e acessível.

Este estudo não poderia ter sido realizado sem a abordagem à perspetiva de proprietários e

de médicos veterinários em simultâneo, pois era expectável que as respostas dos primeiros

não fossem totalmente honestas, e que aquelas dos segundos traduzissem de modo mais

fidedigno o panorama nacional atual.

2.2. Distribuição dos questionários

A distribuição a ambas as populações alvo foi feita em papel, se entregues pessoalmente, e

online, através do serviço Google Docs, divulgando o respetivo link de acesso com recurso a

redes de comunicação social (email, facebook) e através de uma das newsletters semanais

da revista Veterinária Atual, no período de 11-01-2012 a 31-05-2012. Foi pessoalmente

desenvolvida uma base de dados nacional (continente e ilhas) de todas os CAMVs

constantes nos registos da OMV e Páginas Amarelas, com os respetivos contactos, tendo

sido enviados questionários para cerca de 370 contactos de email de consultórios, clínicas e

hospitais veterinários do país. Até à data limite para início da análise estatística dos dados,

foram obtidas respostas de 254 médicos veterinários e 978 proprietários de animais de

companhia.

2.3. População alvo

O objetivo inicial do presente estudo foi recolher um elevado número de respostas relativas

a adultos moradores em diversas zonas de Portugal, atualmente proprietários de cães e/ou

gatos ou que já o tivessem sido, de modo a que fossem representantes, enquanto amostra,

da generalidade da população correspondente a estas características. Por outro lado, no

62

que respeita aos médicos veterinários, o objetivo foi também obter um elevado número de

respostas de clínicos de animais de companhia de todo o país, de modo a que as mesmas

pudessem traduzir a realidade atual do país.

Contudo, para além da breve descrição colocada no início do inquérito quanto à população

alvo pretendida, os métodos selecionados para a distribuição dos inquéritos não permitiram

atribuir critérios de inclusão ou exclusão dos inquiridos, pelo que qualquer indivíduo que

tenha acedido ao questionário via internet o poderia ter preenchido e enviado.

2.4. Processamento das respostas obtidas com os questionários

Todas as respostas preenchidas online foram inseridas automaticamente na base de dados

criada pelo Google Docs. Todas as respostas obtidas em papel foram posteriormente

inseridas online como se se tratasse de um preenchimento através do link de acesso

disponibilizado para este fim.

2.5. Análise estatística

Numa fase inicial da análise dos dados obtidos foi verificado que existia um grande número

de respostas abertas, paralelamente às opções de resposta pré-definidas, pelo que foi

necessário reclassificar o maior número possível de respostas abertas nas opções

disponibilizadas ou criar novas opções que englobassem várias dessas respostas, de modo

a obter conclusões simplificadas.

Para a análise estatística dos dados foi utilizado o software R - A language and environment

for statistical computing - Development Core Team, 2012, versão i386 2.15.1.

Foram utilizados métodos de estatística descritiva, dos quais resultaram tabelas de

distribuição de frequências, tendo posteriormente sido construídos gráficos de barras e

diagramas circulares que exibem os resultados obtidos.

3. Resultados e Discussão de Resultados

3.1. Respostas de proprietários de animais de

,

companhia

As respostas obtidas através dos 978 questionários preenchidos por proprietários de

animais de companhia no âmbito deste estudo permitiram analisar algumas atitudes e

noções de saúde animal da população nacional e elaborar gráficos ilustrativos para poder

apreciar com facilidade a proporção das diferentes respostas.

63

3.1.1. Caracterização da amostra inquirida

A idade dos proprietários de animais de companhia foi a primeira questão colocada em

ambos os questionários e o seu objetivo foi adquirir dados potencialmente utilizáveis para

completar conclusões obtidas com as questões seguintes, como por exemplo verificar se

determinados conhecimentos e procedimentos são característicos de alguma das faixas

etárias. Nesta questão, as respostas obtidas com os questionários entregues a médicos

veterinários revelou resultados muito díspares em relação às respostas dadas pelos

proprietários, com 95% dos inquiridos a classificar os seus clientes na faixa etária 31-60

anos, enquanto apenas 50% dos proprietários se auto classificaram nesse intervalo (gráficos

5a e 5b). A justificação proposta para esta discrepância prende-se com o facto de os

proprietários saberem exatamente a sua idade e a referirem no seu questionário, enquanto

os médicos veterinários não conhecem bem a maioria dos seus clientes e, numa visão

generalista, atribuem-nos ao intervalo mais abrangente relativo à população adulta. Por esta

razão, apenas os dados da idade obtidos nos questionários entregues aos proprietários

foram considerados para efeitos de ligação a outras respostas.

Gráfico 5a. Idade (inquérito para proprietários dos animais de companhia) (esquerda).

Gráfico 5b. Faixa etária dos proprietários de animais que se apresentam à consulta

(inquérito para médicos veterinários) (direita).

3.1.1.1. Espécie animal de que é proprietário

A segunda questão colocada aos proprietários foi qual a espécie do animal que tinham à

sua responsabilidade e em que número. Inicialmente, o propósito desta questão era apenas

cativar o(a) inquirido(a) para o preenchimento do questionário, criando algum grau de

empatia por demonstrar interesse num tema pessoal. De facto, e regra geral, os

proprietários têm orgulho em ser detentores de animais de companhia e sentem satisfação

em comunicá-lo, principalmente se se tratar de um elevado número de animais. No entanto,

ao longo do desenvolvimento da análise dos resultados, este demonstrou ser um parâmetro

muito mais útil que a expectativa inicial, pois permitiu compará-lo com outras questões e

assim obter resultados mais interessantes, como será descrito adiante. A maior proporção

de respostas (41%) indica o cão (um ou mais) como única espécie de animal de estimação

64

(gráfico 6). Em percentagens idênticas (26% e 27%, respetivamente) colocam-se os

proprietários de gatos (um ou mais) em exclusivo e os donos de cães e gatos em conjunto

(com ou sem associação de outras espécies animais como aves, peixes, répteis e

leporídeos, entre outros).

Gráfico 6. Animal(ais) de que é proprietário.

3.1.2. Apreciação de atitudes que influenciam a saúde e bem-estar animal

Para avaliar as atitudes perante o bem-estar e estado sanitário dos animais de companhia,

foram colocadas várias questões cujas respostas são apresentadas e analisadas de

seguida.

Na questão relativa à frequência de visitas ao médico veterinário com o animal de

estimação, era possível assinalar mais do que uma resposta e as opções mais assinaladas,

com cerca de 55% dos inquiridos selecionar cada uma delas, foram “1-2 vezes por ano, para

vacinação e/ou desparasitação” (subentende consultas de rotina) e “Sempre que repare em

algum problema com o animal”, embora só apenas 16 pessoas tenham assinalado as duas

em simultâneo (gráfico 7). Tal como nas alíneas anteriores, os dados obtidos com esta

questão também se revelarem úteis para posteriormente apresentar informações mais

detalhadas, ao relacioná-los com outros. A análise das respostas a esta questão em

paralelo com a idade dos inquiridos revelou que os grupos que selecionaram cada opção se

distribuem uniformemente pelas três faixas etárias.

65

Gráfico 7. Frequência de visitas ao médico veterinário com o animal (esquerda).

Gráfico 8. Atitude ao verificar um problema de saúde ou alteração do comportamento do

animal (direita).

Quanto à primeira atitude tomada pelo proprietário em caso de problema de saúde ou

alteração do comportamento do animal, o objetivo da questão era determinar diretamente a

proporção da população que evitava a ida à consulta veterinária. A percentagem da

população que refere a administração de medicamentos de uso humano existentes em casa

sem aconselhamento veterinário como primeira atitude é mínima (<1%), enquanto a maioria

das respostas recaíram nas opções “Vou ao veterinário o mais depressa possível” (45%) e,

em segundo lugar, “Se não parecer grave, espero 1-2 dias sem fazer nada, para ver se

melhora” (34%), o que, de certa forma, pode implicar quer algum grau de recusa quanto à

ida a consultas, quer a noção de que várias situações clínicas são passageiras e auto

limitantes (gráfico 8). O relacionamento destes dados com o fator “Idade” permitiu apurar as

seguintes informações adicionais. Enquanto a resposta “Espero 1-2 dias” foi selecionada por

proprietários da faixa etária <30 anos e 30-60 anos em proporções aproximadas, as opções

“Consulto a Internet” e “Aconselho-me com amigos/familiares” foram assinadas

maioritariamente por proprietários da faixa etária <30 anos. Embora a resposta “Vou ao

veterinário o mais depressa possível” seja a mais escolhida entre as três faixas etárias,

destaca-se na faixa etária 30-60 anos. Nas faixas etárias <30 anos e >60 anos não existe

uma diferença muito marcada entre o número de proprietários que assinalou “Vou ao

veterinário o mais depressa possível” e “Espero 1-2 dias”.

3.1.3. Medicação do animal sem aconselhamento médico-veterinário

No que se refere às questões mais diretamente relacionadas com o assunto central deste

trabalho, apresentam-se de seguida as respostas fornecidas pelos proprietários de animais

de companhia.

Em concordância com as expectativas iniciais de que poucos proprietários admitem tê-lo

feito, apenas 11% dos inquiridos assumiram já ter medicado os seus animais sem

66

aconselhamento médico-veterinário. Este é um valor relativamente baixo enquanto

percentagem mas é também relevante pois representa 107 pessoas. Apenas 6 dessas

pessoas pertenciam à faixa etária >60 anos e as restantes distribuíram-se de forma idêntica

pelas outras duas faixas etárias consideradas.

Na amostra que já medicou sem aconselhamento veterinário, atualmente 10 pessoas são

proprietárias de gatos (um ou mais, sem cães), 52 são proprietárias de cães (um ou mais,

sem gatos) e 45 têm cães e gatos em simultâneo. Na mesma amostra, apenas 2 pessoas

assinalaram a administração de medicamentos de uso humano existentes em casa como

primeira atitude em caso de problema de saúde com o animal, enquanto a maioria (53/107)

refere que espera 1-2 dias para ver se o animal melhora ou, de acordo com a segunda

maior percentagem (26/107), vai ao veterinário o mais depressa possível. Assim, é

percetível que nem todos os proprietários que já medicaram os seus animais recorrem à

automedicação como primeira atitude, aliás, quase nenhum assume fazê-lo. Quem mais

assumiu essa atitude foram os que esperam 1-2 dias pela recuperação do animal, sendo

possível supor que durante esse tempo o medicam para ver se o animal recupera,

dispensando a consulta médico-veterinária.

Para verificar se os dados obtidos estão em concordância com o comentário que um(a)

veterinário(a) deixou no final do seu questionário – “(…) a maioria dos animais que vêm

intoxicados à clínica são de clientes que normalmente não os trazem a fazer

,

consultas de

rotina (…)” –, foram analisadas as respostas dos proprietários que já medicaram sem

aconselhamento veterinário, de onde se verificou que 53.3% (57/107) levam o animal 1-2

vezes por ano ao veterinário para procedimentos de rotina, 39.3% (42/107) fazem-no

sempre que verificam um problema com o animal e 24.3% (26/107) deslocam-se ao médico

veterinário apenas quando há uma situação grave com o animal, que não se possa resolver

sem consulta. Assim, limitando a interpretação dos resultados exclusivamente às respostas

dadas, quem mais pratica a medicação sem aconselhamento veterinário são os proprietários

que efetuam consultas de rotina, o que não é facilmente explicável. Por um lado, a grande

maioria dos proprietários inquiridos referiram que levam o seu animal 1-2 vezes por ano ao

veterinário ou fazem-no sempre que detetam um problema com o mesmo, o que remete

para uma maior consideração pela saúde e bem-estar animal. Por outro lado, a grande

dedicação dos proprietários pode impeli-los a tentar ajudar os animais através da

medicação, quando acontecem casos que lhes parecem pouco graves e talvez

solucionáveis sem uma consulta médico-veterinária.

Foi pedido aos proprietários que assumiram a medicação dos seus animais que indicassem

que medicamentos tinham administrado, com possibilidade de assinalar mais do que uma

resposta. Ben-u-ron®/Panadol®, Ultralevure®, Brufen®/Nurofen® e antibióticos foram as

67

opções mais assinaladas, com percentagens muito distantes em relação às outras respostas

(gráfico 9a).

Gráfico 9a. Medicamento(s) administrado(s) aos animais de companhia sem

aconselhamento médico-veterinário.

Selecionando alguns dos medicamentos mais tóxicos e frequentemente administrados em

animais de companhia e relacionando as respostas dadas a esta questão com outras do

inquérito, foi possível verificar que das 30 pessoas que administraram ben-u-

ron®/Panadol®, 15 são atualmente proprietárias de cães, 4 são proprietárias de gatos e 11

são proprietárias das duas espécies em simultâneo. Entre as 22 pessoas que administraram

Brufen®/Nurofen®, 14 são proprietárias de cães, 2 são proprietárias de gatos e 6 são

proprietárias das duas espécies. Por último, entre as 4 pessoas que administraram

Aspirina®, 3 são proprietárias de cães e 1 é proprietária das duas espécies.

Em relação aos proprietários detentores de cães e gatos em simultâneo, não foi questionado

a qual das espécies o medicamento foi administrado. Também para os atuais proprietários

de cães ou de gatos em separado, a afirmação de que a medicação foi feita nestas espécies

é subjetiva, pois nada indica com certeza que a medicação tenha sido realizada nestes

animais ou em animais anteriores.

Em relação aos medicamentos que mais são utilizados na medicação sem aconselhamento

médico-veterinário, ainda que o ben-u-ron®/Panadol® tenha sido assinalado por proporções

idênticas de proprietários colocados nas faixas etárias <30 anos e 30-60 anos, a opção

Brufen®/Nurofen® foi selecionada maioritariamente por proprietários com idade inferior a 30

anos e as opções Ultralevure® e antibióticos foram maioritariamente selecionadas por

proprietários com idade entre 30-60 anos. Em suma, os medicamentos mais administrados

pela faixa etária mais jovem foram, por ordem decrescente, o ben-u-ron®/Panadol®, o

Brufen®/Nurofen® e antibióticos; na faixa etária entre os 30 e os 60 anos foram o ben-u-

ron®/Panadol®, o Ultralevure®, os antibióticos e o Brufen®/Nurofen®; e na faixa etária

superior a 60 anos foram o Brufen®/Nurofen® e o Ultralevure®.

68

Ao analisar as respostas dadas quanto à justificação para medicar os animais sem

aconselhamento veterinário, foi possível verificar que a distribuição das respostas foi

relativamente uniforme entre as opções disponíveis, nenhuma delas se colocando acima de

20% (gráfico 9b). Uma considerável percentagem de proprietários referiu, como resposta

livre, o facto de a medicação ter sido anteriormente aconselhada pelo veterinário para uma

situação idêntica, resposta essa que se assemelha à opção “Porque outro animal meu já

tomou e melhorou”, perfazendo a soma de ambas um total de 34% de donos que se

baseiam em experiências anteriores para a medicação dos seus animais, o que coloca esta

justificação como a mais frequente.

Gráfico 9b. Motivação para a medicação sem aconselhamento médico-veterinário.

Ao relacionar a motivação para a medicação com a idade de quem a efectuou, verificou-se

que as respostas “Por sugestão da Internet” e “Por sugestão de amigos/familiares” foram

destacadamente mais assinaladas pelos proprietários colocados na faixa etária mais jovem

e a opção “É muito eficaz em pessoas” foi assinalada em maior número por proprietários

com idade entre os 30 e os 60 anos.

Entre a população inquirida, 47% indicou os gatos como a espécie mais sensível a doses

erradas de medicação, ainda que não lhes tenha sido questionado se sabiam o motivo para

tal. Uma pequena percentagem (7%) considera os cães como a espécie mais sensível e

praticamente metade do total da amostra desconhece de todo a resposta correta. Esta

questão permitiu verificar que a proporção de proprietários que reconhece a fragilidade dos

gatos em termos de metabolismo de medicamentos é elevada, embora não alcance a

maioria.

69

Gráfico 10. Espécie mais sensível a doses erradas de medicação – respostas dos

proprietários.

Numa outra questão, foi perguntado aos proprietários se tinham conhecimento da existência

de medicamentos utilizados com segurança quer em cães quer em gatos e de outros que,

se administrados a gatos, são potencialmente fatais. Foi dado o exemplo de desparasitantes

e a análise das respostas revelou a incorreta formulação da pergunta, pois o objetivo era

direcionar a questão para os desparasitantes externos (nomeadamente com permetrina na

constituição), que até há pouco tempo não eram classificados como medicamentos. Assim,

não é possível ter a certeza de que os inquiridos não consideraram outros tipos de

medicamentos ou produtos, o que confere alguma subjetividade à interpretação dos

resultados. Ainda assim, a percentagem dos proprietários que assinalaram “Sim” (55%) não

difere muito da percentagem de quem desconhece (45%). Além disso, foi possível apurar

que entre a amostra que desconhece os possíveis efeitos fatais de determinados

desparasitantes/medicamentos, 45.8% têm gatos (sem cães), e 16.7% têm cães e gatos em

simultâneo (com ou sem outros animais), o que são dados a ter em conta pois, ainda que a

percentagem de proprietários de gatos (sem cães) seja muito superior, a posse simultânea

de cães e gatos pode promover a exposição de ambas as espécies ao mesmo produto, o

que, tratando-se de produtos com permetrina, pode levar a situações muito graves nos

gatos. Notar também que nestes casos particulares, a aplicação do desparasitante

corretamente adquirido para colocação num cão não invalida que o proprietário considere

inofensivo “aproveitar a última gota do líquido na pipeta e meter no gato”, como foi referido

por um(a) veterinário(a) no comentário final do seu inquérito. Quanto à idade dos

proprietários, nenhuma das faixas etárias se destaca em relação ao conhecimento ou

desconhecimento do perigo de determinados produtos aquando da aplicação/administração

a gatos, verificando-se igualdade de respostas entre as faixas etárias <30 anos e 30-60

anos.

A questão relativa aos medicamentos considerados inofensivos para animais, mesmo

quando administrados sem aconselhamento veterinário, revelam um dado importante para a

interpretação da forma de pensar dos proprietários. Ainda que a grande maioria das

respostas tenha recaído na opção “Nenhum dos anteriores” (44%) (gráfico 11), a segunda

Gato

47%

Não

sabe

46%

Cão

7%

70

resposta mais frequente foi “ben-u-ron®/Panadol®” (17%),

,

nomes correspondentes ao

paracetamol que, na prática clínica, é a substância que os médicos veterinários mais

identificam como estando na origem de intoxicações em animais por medicação sem

aconselhamento veterinário (ver análise dos dados dos questionários de médicos

veterinários).

Gráfico 11. Medicamentos considerados inofensivos quando administrados sem

aconselhamento veterinário, ainda que em doses consideradas baixas pelo proprietário.

A terceira resposta mais selecionada para as substâncias consideradas inofensivas é o

Ultralevure® (17%), que é, de facto, um medicamento inócuo, embora a sua administração

possa não resolver em nada o problema do animal, nos casos em que a diarreia seja

derivada de causas persistentes. O vasto número de proprietários que referiram respostas

abertas idênticas permitiu agrupá-las na resposta “Não sei, não dou nada sem consultar o

veterinário”. A resposta “Aspirina®” não foi das mais assinaladas (6%), surgindo em número

igual à resposta “Todos os anteriores”. A justificação para esta última resposta ter um

número razoável de seleções (55/978), prende-se não só com a hipótese de os proprietários

realmente considerarem todos os medicamentos enumerados inofensivos mas também com

a possibilidade de a questão/opção de resposta ter sido mal interpretada, uma vez que o

enunciado refere “(…) quando administrados sem aconselhamento veterinário, mesmo em

doses que considere baixas” e alguns proprietários deixaram o comentário “Todos os

medicamentos podem ser inofensivos desde que recomendados pelo veterinário quanto à

dose e frequência de administração”.

A análise destas respostas em função da idade dos proprietários revelou resultados muito

interessantes na medida em que a faixa etária mais jovem se destacou bastante das outras

duas e muitos destes proprietários consideraram inofensivos vários medicamentos

colocados nas opções que as outras faixas etárias assinalaram em percentagens

71

consideravelmente baixas. Medicamentos como o Brufen®/Nurofen®, Antibióticos,

Aspirina®, Antidepressivos/calmantes e Voltaren® foram assinalados em maior proporção

pelos proprietários mais jovens, enquanto o ben-u-ron®/Panadol®, Imodium® e xaropes

para a tosse foram principalmente assinalados pelos proprietários na faixa etária 30-60

anos.

Sendo a internet uma ferramenta tão disponível e utilizada hoje em dia, as respostas dos

proprietários traduziram isso mesmo, ao serem questionados sobre a consulta dos

conteúdos existentes online ou a utilidade de novos conteúdos colocados por fontes

credíveis (gráfico 12). Assim, praticamente metade da população inquirida (49%), assume

aceder à internet na procura de casos semelhantes quando deteta alterações no seu animal,

embora o façam apenas para se informar melhor, até levarem o animal ao veterinário. Já

30% dos inquiridos afirma não confiar no conteúdo da internet quanto a questões médicas, o

que subentende o conhecimento da lacuna existente quanto à obtenção de informações

credíveis. Relativamente a esta opção, os proprietários que a assinalaram pertencem, em

proporções idênticas, às faixas etárias <30 anos e 30-60 anos. Ao analisar os dados

concretos da opção “Não acedo”, foi surpreendente verificar que 36% dos proprietários que

assinalaram esta resposta pertencem à faixa etária mais jovem. Como já foi referido na

análise de questões anteriores, os donos nesta faixa etária foram os que mais responderam

“ Consulto a Internet” e “Por sugestão da Internet” nas perguntas relativas à primeira atitude

em caso de problema com o animal e motivo para a medicação sem aconselhamento

veterinário, respetivamente. Neste sentido, não era expectável que uma percentagem de

36% da população que referiu que não acede à internet para procurar informações de saúde

animal pertencesse à faixa etária mais jovem. Por outro lado, entre a reduzida amostra que

referiu aceder à internet para obter essas informações (sem referir que essa procura tinha

um propósito meramente informativo e de seguida o animal iria ao veterinário), 65% dos

inquiridos pertencem à faixa etária <30 anos.

Gráfico 12. Frequência da consulta da internet para procurar explicação/solução para

problema com o animal, em alternativa a uma consulta veterinária.

72

A presença de informações de saúde animal fidedignas online é bem aceite pela grande

maioria dos inquiridos (82%), que a consideram útil embora não substitua uma ida ao

veterinário (gráfico 13). No entanto, a segunda resposta mais assinalada (11%) refere que o

acesso a essa informação evitaria muitas deslocações ao veterinário, o que corrobora a

hesitação dos clínicos quanto a esta problemática, pois, se por um lado a dispensa de uma

ida do animal ao veterinário em prol da consulta da informação disponível na internet

desagrada os clínicos (visto que, entre outros factores, essa informação seria generalista e

determinados casos têm particularidades individuais que os proprietários podem não saber

interpretar), por outro lado, quer a informação online esteja presente ou não, existirão

sempre proprietários que evitam levar os seus animais à consulta, geralmente por questões

económicas, pelo que a colocação de orientações fundamentadas na internet poderia, no

mínimo, prevenir algumas ocorrências infelizes devidas exclusivamente a falta de

informação.

Gráfico 13. Importância da existência de informações acreditadas de saúde e bem-estar

animal na Internet.

Para avaliar a intenção da população para realizar futuramente medicação sem

aconselhamento médico-veterinário (independentemente de já o ter feito antes ou não), foi

questionada qual a situação que levaria a tal atitude, caso o animal estivesse com um

problema de saúde (gráfico 14a). Era pedida apenas uma resposta mas a análise dos

resultados foi dificultada pelo grande número de respostas livres associadas à descrição da

opção “Em caso de emergência”. De facto, 9.2% (91/978) das respostas recaíram nessa

opção, embora a análise dos exemplos dados tenha reunido 6 respostas a referir “Não dou

nada sem aconselhamento veterinário, ia ao veterinário assim que possível” e 15 respostas

a referir “Se não pudesse ir logo ao veterinário”, o que, na realidade, são respostas idênticas

a duas das opções disponibilizadas.

73

Gráfico 14a. Situação que justificaria a medicação do animal sem aconselhamento

veterinário.

Em relação à idade, os proprietários que assinalaram a resposta “Nunca, levaria sempre ao

veterinário”, “Em caso de emergência” e “Em qualquer situação” distribuem-se

uniformemente pelas três faixas etárias consideradas. Por outro lado, em termos de

percentagem, as opções “Não podia ir logo ao veterinário” e “Por conselho de

familiares/amigos/Internet” foram maioritariamente selecionadas por proprietários da faixa

etária mais jovem.

Independentemente da interpretação incorreta de alguns proprietários quanto ao enunciado

desta questão, como situações de emergência mais referidas surgem a febre (19/91),

diarreia (15/91), dor (13/91), vómito (9/91) e envenenamento (8/91) (gráfico 14b).

Gráfico 14b. Situações de emergência.

Ao analisar as respostas dos proprietários quanto à perspetiva de a saúde dos animais

poder piorar ao administrar medicamentos de uso humano sem aconselhamento veterinário,

foi possível verificar que a grande maioria (91%) reconhece essa possibilidade (gráfico 16) e

que as respostas foram assinaladas em igual proporção pelas faixas etárias <30 anos e 30-

60 anos. No entanto, entre os proprietários que o reconhecem, 10.1% (90/890) já

medicaram os seus animais sem orientação do médico veterinário. Entre o mesmo grupo de

proprietários que reconhece o perigo, 73% (650/890) referiram que em situação alguma

74

medicariam sem a indicação veterinária mas 11.3% (101/890) medicariam se houvesse um

problema com o animal e não

,

pudessem levá-lo com brevidade ao veterinário, 8.5%

(76/890) medicariam em caso de emergência e apenas 2% (18/890) medicaria em qualquer

situação. Em contrapartida, entre os proprietários que consideram que a situação não pode

piorar com a administração de medicamentos sem aconselhamento médico-veterinário,

19.3% (17/95) já o fizeram anteriormente.

Estes resultados permitiram determinar que existe uma considerável percentagem de

proprietários que, mesmo reconhecendo o perigo da medicação não aconselhada pelo

médico veterinário, já medicaram os seus animais e/ou medicariam em caso de emergência

ou caso o animal tivesse um problema de saúde e não pudesse ser imediatamente levado

ao médico veterinário. Por outro lado, entre os proprietários que consideraram não poder

ocorrer agravamento do estado de saúde do animal ao administrar medicamentos, a

percentagem dos que já medicaram é maior, evidenciando que o desconhecimento pelo

perigo inerente a tal prática tem de facto a forte probabilidade de resultar em consequências

mais graves para o animal do que a condição de que inicialmente sofria.

Para finalizar o inquérito, foi questionado aos proprietários qual consideravam ser a principal

razão pela qual a medicação de animais de companhia sem aconselhamento veterinário era

contraindicada e as respostas, fundamentadas ou por palpite, revelam um bom nível de

sensibilização da população para este assunto em particular. Assim, a grande maioria (82%)

reconhece que os órgãos dos animais não funcionam exatamente como os dos humanos e

também diferem entre as espécies animais. A segunda resposta mais selecionada (10%)

não está, contudo, totalmente incorreta, ao indicar que alguns animais têm um peso muito

baixo e é difícil determinar a dose terapêutica correta para eles. Das respostas abertas 35

tinham significado idêntico, o que permitiu reuni-las na opção “Porque só o veterinário sabe

o que não é tóxico/fatal para os animais”.

Gráfico 15. Justificação para a contraindicação da medicação de animais sem

aconselhamento veterinário.

75

3.2. Respostas de Médicos Veterinários clínicos de animais de companhia

3.2.1. Ocorrência de medicação de animais de companhia pelos proprietários sem

aconselhamento médico-veterinário

No que respeita à causa da maioria das intoxicações por medicamentos em cães e gatos,

81% dos clínicos inquiridos referiram a automedicação realizada pelos proprietários e,

nesses casos, 95% referem essas situações como consequência da exposição a

medicamentos de uso humano, não prescritos para o animal em questão. De facto, a

proporção de intoxicações provocadas pela administração de medicamentos de uso

veterinário é muito reduzida (5%).

Gráfico 16. Causa das intoxicações por medicamentos em cães e gatos e tipo de

medicamentos envolvidos.

A comprovar a oportunidade do tema subjacente aos questionários, 40% dos clínicos

referiram que consultam frequentemente animais que foram medicados pelos proprietários

sem aconselhamento médico-veterinário, enquanto 45% consultam ocasionalmente e 10%

consultam com muita frequência (gráfico 17). Em relação à espécie, não existe uma grande

discrepância entre cães e gatos enquanto espécie mais frequentemente consultada com

quadros de intoxicação por medicamentos, ainda que os gatos detenham uma ligeira

maioria (54%) (gráfico 18). Apenas uma médica veterinária respondeu que nunca havia

consultado qualquer animal nessas condições, por ter terminado o curso recentemente e ter

poucos meses de experiência profissional.

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Automedicação Acidental

M. uso

humano

95%

M. uso

veterinário

5%

Fr

eq

u

ên

ci

a

re

la

ti

va

d

e

r

e

sp

o

st

as

(

%

)

76

Gráfico 17. Frequência no atendimento a animais já medicados pelos proprietários, sem

aconselhamento veterinário, antes da consulta (esquerda).

Gráfico 18. Espécie mais frequentemente consultada por intoxicação com medicamentos

(direita).

Segundo os médicos veterinários, as situações em que os proprietários automedicam os

seus animais e não o admitem quando questionados são raras (2%) (gráfico 19). Ainda que

uma grande parte dos proprietários assuma espontaneamente a automedicação dos

animais, seja por completo desconhecimento do perigo inerente ou por ter receio de não ter

administrado o medicamento correto, na maioria das intoxicações causadas por

automedicação a confissão por parte dos proprietários está dependente da gravidade das

consequências ou da relevância dessa informação para a resolução do problema, sendo

que, muitas vezes, os proprietários não têm conhecimento para diferenciar situações, pelo

que a insistência dos clínicos é suficiente para levar à confissão. Segundo a opinião pessoal

de alguns médicos veterinários inquiridos, a capacidade de ouvir o proprietário sem tecer

críticas ou recriminações sobre os seus procedimentos deixa os mesmos mais confortáveis

para descrever honestamente o que já administraram/aplicaram aos animais.

Gráfico 19. Confissão dos proprietários quanto à medicação dos animais sem

aconselhamento veterinário.

Também, segundo a opinião dos clínicos, os proprietários que medicam os seus animais

sem qualquer aconselhamento fazem-no por ignorância do perigo que daí pode advir, mais

do que por qualquer outra razão, mas sempre na tentativa de ajudar o seu animal quando

este tem um problema. Uma vez admitida a automedicação, as principais justificações

referidas ao veterinário são o facto de o medicamente administrado ser eficaz em pessoas

(61%) ou ter sido recomendado na farmácia (59%) (gráfico 20). Na opção de resposta

aberta adjacente a esta questão, 2% dos médicos veterinários referiram a tentativa de

77

dispensar a consulta como a principal causa que leva os proprietários a automedicar. A

particularidade desta resposta está no facto de, juntamente com o argumento “Não podia ir

logo com o animal ao veterinário”, serem os pilares da motivação dos proprietários, estando

os outros argumentos numa posição secundária, uma vez que, caso as consultas

veterinárias fossem gratuitas e localmente acessíveis, a medicação com outras justificações

dificilmente aconteceria.

Gráfico 20. Justificação dos proprietários para a medicação dos animais sem

aconselhamento veterinário.

A última questão do inquérito, de resposta não obrigatória, solicitava aos médicos

veterinários que deixassem a sua opinião pessoal sobre o tema, baseada na sua

experiência clínica. Dos inquiridos 38% (96/255) dos inquiridos preencheram essa questão

e, desses, 47% (45/96) salientaram, entre outros aspetos, o seu desagrado pelo papel dos

farmacêuticos e técnicos de farmácia no aconselhamento da população quanto a assuntos

relacionados com a saúde animal, assim como pelo facto de algumas farmácias venderem

medicamentos e produtos de uso veterinário, em particular vacinas, antibióticos e

desparasitantes, geralmente não sendo solicitada a apresentação de receita médica, nos

casos em que é obrigatória.

A situação que mais frequentemente impele os proprietários a medicar os seus animais é

relativa ao sintoma mais generalista com que um médico veterinário clínico se depara na

sua prática diária: apatia/depressão (58%) (gráfico 21). Na questão de resposta obrigatória

que gerou este dado em particular, “Apatia/depressão” era uma opção de escolha múltipla.

Analisando as respostas abertas dadas a esta questão, 4% dos médicos veterinários

referiram “Dor” e 9% referiram “Febre” ou “Suposta febre” como as condições que mais

levam os proprietários a automedicar cães e gatos, o que, eventualmente, poderia também

ser a opinião dos médicos veterinários que assinalaram a referida opção disponível. Por

outro lado, a resposta “Problemas de locomoção” foi das mais selecionadas, o que, por si

78

só, subentende uma situação em que os proprietários

,

consideram que o animal está com

dores, automedicando nesse sentido.

Gráfico 21. Situações que levam à medicação dos animais sem aconselhamento veterinário.

O paracetamol e o ibuprofeno são distintamente as substâncias mais envolvidas em

intoxicações em animais de companhia, com praticamente 90% dos médicos veterinários a

referir o primeiro e 70% a referir o segundo (gráfico 22). Ainda que os antibióticos e os

desparasitantes ocupem posições de destaque na escala, apresentam percentagens

distantes dos dois primeiros, com cerca de 40% das referências dos clínicos para cada um

deles. Há que assinalar que “Diarreia” foi a segunda situação mais referida como base para

a automedicação feita pelos proprietários, embora os medicamentos antidiarreicos não

tenham sido referidos por nenhum clínico como medicamentos mais frequentemente

envolvidos em intoxicações em animais. Do mesmo modo, “Vómito” foi a quarta situação

mais referida e apenas 2 clínicos referiram a metoclopramida como um medicamento

causador de intoxicações em cães e gatos.

Gráfico 22. Substâncias envolvidas na medicação dos animais sem aconselhamento

veterinário.

79

Quando questionados sobre a assistência a casos de animais medicados sem

aconselhamento veterinário, 76% dos médicos veterinários referiram que já se depararam

com situações de agravamento da condição inicial (para a qual o animal foi medicado pelos

proprietários) pelo menos uma vez na sua prática clínica e que os pacientes mais sujeitos a

tal são gatos (69%) (gráfico 23). A maioria dos casos de intoxicação com agravamento da

condição inicial do animal resulta em cura, com ou sem sequelas (46% e 31%,

respetivamente), uma vez administrado o tratamento adequado. No entanto, não é possível

ignorar que 18% dos médicos veterinários referiram a morte como resultado direto e,

desses, 89% (31/35) referiram que os gatos são os mais frequentemente sujeitos a esse

desfecho. A interpretação destes dados não está isenta de alguma subjetividade pois a

respetiva questão estava incluída num conjunto de quatro questões cujas respostas

estavam interligadas e, de facto, a interpretação do desfecho dos casos de agravamento de

uma condição inicial em cães e gatos não é linear, estando dependente do medicamento

administrado e do tempo decorrido entre a administração e a intervenção do veterinário. No

entanto, a interpretação das quatro questões em simultâneo seria complexa, pois uma das

referidas questões era de resposta aberta. Ainda assim, a análise preliminar das quatro

questões permitiu apurar que a substância mais vezes envolvida no agravamento da

condição clínica inicial do animal é o ibuprofeno em cães (seguido do paracetamol e do

diclofenac) e o paracetamol em gatos (seguido da permetrina e do ibuprofeno – é de

salientar que a permetrina foi referida em grande número como resposta a esta questão por

ser uma substância que se destaca bastante no agravamento da condição clínica normal

dos gatos, embora não se trate propriamente de uma substância que agrava um quadro

patológico inicial, o que era, de facto, a questão colocada no enunciado). Os sintomas mais

frequentemente verificados em animais com quadros de intoxicação por medicamentos de

uso humano são vastos e incluem gastroenterite (com ou sem hematemese, hematoquézia

ou melena), diversos sintomas derivados de insuficiência renal e/ou hepática, dor

abdominal, edemas subcutâneos, cianose, desidratação, hipotermia, sialorreia, ataxia e

convulsões, em grau moderado a muito grave.

80

Gráfico 23. Ocorrência de atendimento a animais de companhia com agravamento do

quadro clínico inicial devido a medicação sem aconselhamento médico-veterinário, espécie

envolvida e desfecho.

3.2.2. Existência online de informações credíveis sobre saúde e bem-estar animal

Pelo que foi possível interpretar com as respostas obtidas ao questionar os médicos

veterinários acerca das justificações mais frequentes dos proprietários que automedicam e,

contra as expectativas iniciais quando o questionário foi estruturado, a internet não é uma

das fontes de aconselhamento a que os proprietários mais recorrem, tendo apenas 8% dos

médicos veterinários assinalado essa opção. Nesse sentido, foi inquirido aos clínicos que

importância atribuíam à existência de páginas online com informação credível para

orientação dos proprietários em casos de problemas com os seus animais (gráfico 24). Em

concordância com a opinião deixada por um(a) médico(a) veterinário(a) no seu questionário

“Não é possível controlar toda a má informação que existe na internet. Por isso, e já que não

se pode evitar que os donos se aconselhem online, é preferível existir informação válida e

segura a que possam aceder”. 72% dos médicos veterinários referiram que deveria existir

essa informação online, em páginas que reunissem apenas informação básica para os

proprietários, como procedimentos totalmente contraindicados e conselhos para a melhor

manutenção dos animais de companhia. Apenas uma pequena proporção (4%) dos médicos

veterinários acredita que seria benéfico existir informação detalhada para os proprietários e

24% referem mesmo que as informações veterinárias não deveriam estar de todo acessíveis

aos mesmos, de forma mais ou menos detalhada, de modo a evitar possíveis mal

entendidos acerca das instruções transmitidas, uma vez que a interpretação das mesmas é

subjetiva e cada caso tem particularidades.

81

Gráfico 24. Relevância da existência na internet de informações veterinárias credíveis para

consulta pelos proprietários e tipo de informação.

Entre os médicos veterinários que consideraram útil a existência de informações veterinárias

oficiais online, a maioria considera que se deveriam desenvolver páginas gerais sobre o

tema, de forma a centralizar a consulta, em vez de a divulgação ficar ao critério individual de

cada clínica ou hospital veterinário.

3.2.3. Campanhas de sensibilização da população e publicidade relativa a

conceitos de saúde e bem-estar animal

As opiniões “Os proprietários só obtêm informação geral após a primeira consulta e, muitas

vezes, depois de graves erros terem sido cometidos” e “É imperativo que surjam ações de

sensibilização que atinjam uma maior percentagem da população, pois só o que vamos

dizendo nas consultas não chega”, obtidas em questionários de diferentes médicos

veterinários, traduzem um conceito generalizado entre os clínicos referente à necessidade

de campanhas de sensibilização para a população detentora de animais de companhia, pois

a influência do clínico abrange apenas os clientes com que contacta e é, de certo modo,

impossível prever a atuação dos proprietários não informados perante um problema de

saúde dos seus animais.

Assim, nenhum clínico assinalou a opção que referia que não eram necessárias campanhas

de sensibilização com foco na medicação de animais sem aconselhamento veterinário por já

existir informação suficiente para os proprietários (gráfico 25). A maioria das respostas

(56%) recaiu sobre a necessidade de existir mais publicidade sobre medicamentos enquanto

grupo geral, embora uma percentagem próxima, igualmente elevada (43%), tenha indicado

que deveriam ser referidos medicamentos específicos, para alertar sobre os perigos que

existem para cães e gatos, particularmente com determinadas substâncias muito acessíveis

aos proprietários, eficazes, de venda livre e muito frequentemente utilizadas em humanos.

82

Gráfico 25. Relevância de campanhas de sensibilização e publicidade para alertar quanto

aos perigos da medicação de animais de companhia sem aconselhamento veterinário.

Existe, contudo, um contrassenso no que respeita à sensibilização da população para o

perigo dos medicamentos administrados a animais sem recomendação veterinária. Segundo

a opinião deixada por um(a) médico(a) veterinário(a),

,

“É importante informar os donos mas

também ter cuidado com a forma como essa informação é dada. Penso que dar exemplos

de medicamentos específicos com os respetivos nomes pode ter o efeito perverso de chegar

a quem pretende livrar-se de animais. Tive em consulta um proprietário de cães que me

confessou saber que podia matar os gatos da vizinhança com o ectoparasiticida dos cães ou

com ben-u-ron. Ou seja, é importante as pessoas saberem que podem matar o seu animal

de companhia medicando-o por autorrecreação, mas não dar-lhes ferramentas para se

livrarem de animais indesejados”.

A publicidade associada a campanhas de sensibilização foi referida por 67% dos médicos

veterinários como devendo estar em permanência em locais públicos como hospitais,

centros de saúde e, especialmente, em farmácias, com apenas 16% a considerar que

deveria estar em permanência exclusivamente em hospitais e clínicas veterinárias (gráfico

26). Esta questão possuía a hipótese de atribuir uma resposta livre, pelo que alguns

veterinários deixaram outras sugestões além das disponíveis, como a publicidade dever ser

divulgada nos meios de comunicação social, nos portais da OMV e DGAV e nas

embalagens dos medicamentos, pelas empresas que os comercializam. Independentemente

da via e frequência da divulgação, é unânime entre os clínicos que as informações deverão

ser sempre elaboradas por médicos veterinários.

56%

43%

1% Sim, para

medicamentos no

geral

Sim, para

medicamentos

específicos

Sim, para

medicamentos gerais

e específicos

83

Gráfico 26. Local e frequência das campanhas de sensibilização e publicidade para

alertarem quanto aos perigos da medicação de animais de companhia sem aconselhamento

veterinário.

3.2.4. Intoxicações de gatos por exposição à permetrina

A última questão colocada no inquérito abordava a experiência no atendimento a gatos

intoxicados com permetrina. Pelo que foi possível apurar, a percentagem de clínicos que

nunca se depararam com gatos nesta situação é muito reduzida (6%), enquanto

praticamente metade dos inquiridos (51%) lidam ocasionalmente com os referidos casos e

20% lidam com frequência (gráfico 27). Estes dados obtidos são simplesmente indicativos

do panorama de frequências, pois não foi possível relacionar esta questão com outras

presentes no inquérito de forma a obter conclusões significativas em termos de padrões de

ocorrência, o que teria sido possível caso o inquérito questionasse, por exemplo, qual a

zona do país a que as respostas eram relativas. Contudo, foi possível determinar que entre

os 79 veterinários que referiram que os desparasitantes eram das substâncias mais vezes

envolvidas em intoxicações em animais de companhia, 25,3% (20/79) consultam

frequentemente gatos intoxicados com permetrina.

Gráfico 27. Frequência no atendimento a gatos intoxicados com permetrina.

84

3.3. Apreciação crítica dos questionários inicialmente elaborados

Após a realização da análise de todos os resultados, tornaram-se evidentes algumas falhas

significativas na formulação de diferentes questões, quer no questionário entregue a

proprietários quer naquele entregue a médicos veterinários. Além disso, ao longo do

processo de análise surgiram ideias para novas questões que não foram abordadas e cuja

interpretação das respostas seria de grande interesse para o âmbito do presente estudo

As faixas etárias disponibilizadas em ambos os modelos de inquérito revelaram-se algo

limitantes, principalmente naquele distribuído a proprietários de animais de companhia, pois

representam intervalos demasiado extensos. Teria sido interessante interpretar

considerações e atitudes relativamente a faixas etárias mais curtas.

Não foi questionado o distrito em que moravam os proprietários ou aquele em que os

clínicos exerciam a sua atividade, o que seriam informações importantes para averiguar dois

aspetos importantes deste estudo: por um lado, se os questionários foram efetivamente

preenchidos por indivíduos (proprietários ou clínicos) de todo o país, como foi inicialmente

pretendido. Por outro, face à ruralidade/urbanização de determinados distritos, seria

possível compreender se existe um padrão de ocorrências ou grau de sensibilização da

população característico de determinadas zonas de Portugal.

Também as faixas etárias disponibilizadas no questionário para proprietários foram algo

limitantes na fase de análise de dados. O facto de a grande maioria dos questionários para

proprietários ter sido divulgada através de email e redes sociais online, paralelamente à

disponibilização da opção da faixa etária “< 30 anos” tornou impossível evitar que

proprietários muito jovens preenchessem o inquérito na posição de proprietários, quando, na

verdade, a situação mais provável é que os seus animais de companhia se encontrem à

responsabilidade de outros elementos da família e, nestes casos, os inquiridos não tinham

as informações necessárias dar respostas totalmente reais. Ainda assim, a vastíssima

amplitude de indivíduos que tem acesso às redes sociais e a facilidade com que as

informações circulam nesses meios permite concluir que o recurso aos mesmos foi uma

opção apropriada para a difusão dos inquéritos, tendo permitido a obtenção de uma amostra

certamente mais heterogénea do que a que seria possível caso os mesmos tivessem sido

entregues pessoalmente. A este propósito, há que salientar a elevada probabilidade de uma

considerável proporção de respostas de proprietários não ter sido honesta, nomeadamente

em relação a uma anterior medicação dos animais sem aconselhamento veterinário, uma

vez que o âmbito dos inquéritos era evidente e os proprietários nem sempre quiseram

admitir eventuais ocorrências, pois estava, de certo modo, implícita na conotação negativa

inerente a essas atitudes.

O número de respostas obtidas por parte de proprietários com idade acima de 60 anos foi

insatisfatório pois representa uma proporção de inquiridos muito reduzida comparativamente

85

às outras faixas etárias disponibilizadas. A população mais idosa representa uma amostra

significativa dos proprietários de animais de companhia em Portugal e teria sido importante

analisar a sua perspetiva acerca da medicação de cães e gatos sem aconselhamento

veterinário. Contudo, como já foi referido, o email e redes sociais foram os meios mais

utilizados para a difusão dos questionários, meios esses aos quais a adesão se verifica

principalmente por faixas etárias inferiores a 60 anos.

Em diversas questões presentes no inquérito para proprietários estava disponível a opção

de resposta livre, para os casos em que as restantes opções não de adaptassem à

realidade do proprietário/animal. Esta particularidade revelou-se prejudicial à análise final

dos resultados pois um vasto número de proprietários respondeu escolhendo esta hipótese,

o que originou um número bastante elevado de respostas de difícil enquadramento na

estatística. Acresce ainda que muitas das respostas livres dadas pelos proprietários

correspondiam, de facto, a hipóteses já disponíveis em outras alíneas da mesma questão,

mas apresentavam-se escritas com um vocabulário pessoal. Por este motivo, e após a

análise das respostas livres, muitas delas foram reclassificadas nas opções existentes para

cada questão, permitindo obter resultados mais abrangentes. As respostas de difícil

enquadramento nas opções disponíveis traduziram-se em percentagens relativamente

baixas, pelo que não foram consideradas.

Quer no questionário para proprietários, quer naquele para médicos veterinários, foi

atribuído especial destaque à importância da internet como factor de influência para a

decisão dos proprietários para medicar os seus animais sem aconselhamento veterinário,

tendo sido colocada mais do que uma questão nesse sentido. Como se verificou

posteriormente, a internet tem uma influência global

,

Anexo 2. Caracterização das instituições de ensino em Portugal que

lecionam o mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas quanto à abordagem

ao tema de medicamentos de uso veterinário e saúde animal.

96

Anexo 3. Questionário distribuído a proprietários de animais de companhia. 100

Anexo 4. Questionário distribuído a médicos veterinários clínicos de animais

de companhia.

102

Anexo 5. Dados complementares obtidos nos questionários, não exibidos na

análise estatística.

104

a) Questionário para proprietários de animais de companhia 104

b) Questionário para médicos veterinários clínicos de animais de companhia 106

viii

Índice de Figuras

Índice de Tabelas

Figuras 1

Informação de contra-indicação de uso em gatos na embalagem de

medicamento de uso veterinário. 53

Figura 2

Pormenor do alerta na embalagem individual de cada forma farmacêutica

do medicamento apresentado na Figura 1. 54

Figura 3

Outros exemplos de informação de contra-indicação de uso em gatos na

embalagem de medicamentos de uso veterinário. 54

Tabela 1.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas, contendo ácido

acetilsalicílico, existentes em Portugal que podem ser responsáveis pela

ocorrência de toxicidade em cães e gatos, segundo Osweiler et al

(2011). 22

Tabela 2.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas, contendo ibuprofeno,

existentes em Portugal, a partir das quais a exposição em cães provoca

sintomatologia gastrointestinal, renal e nervosa, segundo Richardson

(2000). 24

Tabela 3.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas, contendo ibuprofeno,

existentes em Portugal a partir das quais a exposição em gatos provoca

sintomatologia gastrointestinal, renal e nervosa, segundo Richardson

(2000). 25

Tabela 4.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de nimesulida

existentes em Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica para

cães (segundo Costa et al, 2007 e Ramesh et al, 2001) e gatos

(segundo Richardson, 2000). 28

Tabela 5.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas sólidas de diclofenac

existentes em Portugal a partir das quais a exposição provoca

sintomatologia em cães, considerando a menor concentração (2,5

mg/kg) que a literatura refere como tóxica, segundo Campbell et al,

2000). 30

Tabela 6.

Casos de intoxicação por paracetamol, em cães e gatos, reportados ao

VPIS (VPIS, 2000) 34

Tabela 7.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de paracetamol

existentes em Portugal a partir das quais a quantidade provoca

hepatotoxicidade e metemoglobinémia em cães segundo Campbell et al

(2000), Khan (2010) e Richardson (2000). 37

Tabela 8.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de paracetamol

existentes em Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica e fatal

em gatos, segundo Campbell et al (2000), Khan (2010) e Richardson

(2000). 38

ix

Tabela 15.

Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado em Ciências

Farmacêuticas em Portugal com abordagem de caráter exclusivo e

opcional ao tema de medicamentos de uso veterinário e saúde animal e

caracterização individual. 98

Tabela 16.

(continuação). Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado

em Ciências Farmacêuticas em Portugal com abordagem de caráter

exclusivo e opcional ao tema de medicamentos de uso veterinário e

saúde animal e caracterização individual. 99

Tabela 17.

Proporção das respostas obtidas na questão 5 (Se respondeu Sim [à

questão “Já deu medicamentos de uso humano ao seu animal sem

consultar o veterinário?”], qual(is) o(s) medicamento(s)?). 104

Tabela 18.

Proporção das respostas obtidas na questão 8 (Que medicamentos de

uso humano acha que são inofensivos para o seu animal quando

administrados sem aconselhamento veterinário, mesmo em doses que

ache baixas?). 105

Tabela 19.

Proporção das respostas obtidas na questão 11 (Exemplo de situação

de emergência [no seguimento da questão “Em que situação daria um

medicamento ao seu animal (para baixar febre, parar vómitos ou

diarreia, antibiótico, anti-inflamatório) sem aconselhamento

veterinário?]). 105

Tabela 9.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de loperamida

existentes em Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica para

cães de raça não relacionada com Collie, considerando a menor

concentração (0,8 mg/kg) que a literatura refere como tóxica (segundo

Campbell et al., 2000).

41

Tabela 10.

Quantidades mínimas das formas farmacêuticas de loperamida

existentes em Portugal a partir das quais a quantidade é tóxica para

cães de diferentes raças Collie, considerando o peso de cães jovens e

cães adultos referido pelo Collie Clube de Portugal (2011). 41

Tabela 11.

Doses recomendadas para administração de diazepam em cães e

gatos, de acordo com diferentes indicações terapêuticas.

45

Tabela 12.

Doses recomendadas para administração de alprazolam em cães e

gatos, de acordo com diferentes indicações terapêuticas. 45

Tabela 13.

Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado de Ciências

Farmacêuticas em Portugal com abordagem de caráter obrigatório do

tema de medicamentos de uso veterinário e saúde animal e

caracterização individual. 96

Tabela 14.

Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado de Ciências

Farmacêuticas em Portugal cujo plano de curricular não enquadra

qualquer abordagem ao tema de medicamentos de uso veterinário e

saúde animal e caracterização individual. 97

x

Tabela 20.

Proporção das respostas obtidas na questão 13 (Qual pensa ser a

principal razão pela qual não se deve dar medicamentos sem indicação

do veterinário aos nossos animais?).

106

Tabela 21

Proporção das respostas obtidas na questão 7 (Quais as situações que

mais frequentemente levam os donos a medicar os seus animais sem

aconselhamento veterinário?). 106

Tabela 22

Proporção das respostas obtidas na questão 8 (Quando os proprietários

assumem a medicação dos animais, que substâncias

ativas/medicamentos são mais frequentemente administrados?). 107

Índice de Gráficos

Gráfico 1. Proporção de indivíduos intoxicados em 2010 (CIAV, 2011). 12

Gráfico 2.

Proporção dos tipos de consultante em 2010 (CIAV, 2011). 12

Gráfico 3.

Proporção de intoxicações em diferentes espécies animais em 2010

(CIAV, 2011). 13

Gráfico 4.

Principais agentes de intoxicações em animais (CIAV, 2011). 13

Gráfico 5.

Idade (inquérito para proprietários dos animais de companhia)

(esquerda). 63

Gráfico 5a.

Faixa etária dos proprietários de animais que se apresentam à consulta

(inquérito para médicos veterinários) (direita). 63

Gráfico 6.

Animal(ais) de que é proprietário. 64

Gráfico 7.

Frequência de visitas ao médico veterinário com o animal (esquerda). 65

Gráfico 8.

Atitude ao verificar um problema de saúde ou alteração do

comportamento do animal (direita). 65

Gráfico 9a.

Medicamento(s) administrado(s) aos animais de companhia sem

aconselhamento médico-veterinário. 67

Gráfico 9b.

Motivação para a medicação sem aconselhamento médico-veterinário. 68

Gráfico 10.

Espécie mais sensível a doses erradas de medicação. 69

Gráfico 11.

Medicamentos considerados inofensivos quando administrados sem

aconselhamento veterinário, ainda que em doses consideradas baixas

pelo proprietário. 70

Gráfico 12.

Frequência da consulta da internet para procurar explicação/solução

para problema com o animal, em alternativa a uma consulta veterinária. 71

xi

Gráfico 13. Importância da existência de informações acreditadas de saúde e bem-

estar animal na internet.

72

Gráfico

14a.

Situação que justificaria a medicação do animal sem aconselhamento

veterinário. 73

Gráfico

14b.

Situações de emergência. 73

Gráfico 15

Justificação para a contraindicação da medicação de animais sem

,

relativamente menor, sendo o

aconselhamento por farmacêuticos o mais referido como fonte de eventual informação para

os proprietários e potencialmente perigosa ou fatal para os animais. Assim, teria sido

interessante dirigir aos proprietários pelo menos uma questão relativa ao grau de confiança

no aconselhamento em farmácias quanto a questões de saúde animal, com o objetivo de

obter respostas sinceras mas, ainda assim, recorrendo a um vocabulário estratégico para

direcionar o seu raciocínio para a consciencialização da importância do aconselhamento por

um médico veterinário em situações de problemas de saúde animal.

No questionário para proprietários, entre as opções relativas aos medicamentos com os

quais os inquiridos medicaram os seus animais, por lapso não constou a opção “Calmantes

e antidepressivos”, como era inicialmente pretendido. No entanto, essa opção surge como

possibilidade de resposta na questão relativa aos medicamentos considerados pelos

proprietários como inofensivos para os animais, ainda que administrados sem

aconselhamento veterinário.

Em ambos os modelos de inquérito foram raras as questões cujas respostas não

envolveram um grau considerável de subjetividade ou de menor assertividade. Apesar do

86

elevado número de inquéritos respondidos, a ausência de informação sobre a difusão

efetivamente abrangente a todo o território nacional não confere à amostra um carácter

garantidamente representativo. Além disso, o facto de existirem questões no inquérito

destinado a clínicos cuja resposta dependia do preenchimento da questão anterior – que por

sua vez solicitava a seleção de uma ou mais opções –, de apenas uma proporção muito

reduzida de proprietários ter assinalado nos seus questionários que já haviam medicado

animais sem aconselhamento veterinário, da existência de várias contradições nas

respostas destes e de alguns enunciados terem formulações incorretas, levaram à

conclusão de que a interpretação dos resultados deve ser considerada como sugestiva, pois

não espelha, em todos os parâmetros questionados, a realidade com exatidão. Assim,

embora seja possível adiantar que as respostas obtidas de médicos veterinários são

credíveis e representativas do panorama nacional, o grau de sinceridade das respostas

obtidas de proprietários está certamente influenciado pela noção que os próprios têm das

críticas clínicas e sociais atribuíveis às suas atitudes para com os animais, o que confere

uma considerável subvalorização à proporção das respostas dadas por estes.

87

Conclusão

Este trabalho permitiu concluir que os médicos veterinários clínicos inquiridos – e a maioria

deles com frequência – consultam animais expostos a medicamentos previamente

administrados pelos proprietários e reconhecem que a maior percentagem dos casos deve-

se à falta de informação destes e à tentativa de tomar as atitudes menos dispendiosas.

Infelizmente, muitas vezes os finais são trágicos ou, quando os animais sobrevivem, os

proprietários acabam por gastar mais dinheiro do que custaria o tratamento da situação

inicial.

Por outro lado, foi possível constatar que a realidade verificada pelos médicos veterinários

não foi assumida pelos proprietários nos inquéritos preenchidos, uma vez que apenas uma

proporção muito reduzida destes admitiu já ter medicado os seus animais anteriormente.

Ainda que maioria dos proprietários reconheça que a saúde dos animais pode piorar em

caso de medicação com medicamentos de uso humano e venda livre, sem aconselhamento

veterinário, a realidade é que diversos desses medicamentos são considerados inofensivos

pelos proprietários, mesmo quando administrados sem o referido aconselhamento.

A generalidade dos CAMVs têm à disposição contactos para emergências e é importante os

médicos veterinários mostrarem disponibilidade para esclarecer os clientes e assim

incentivar a que estes telefonem caso tenham dúvidas, antes que possam agir de forma

perigosa para o animal. A preferência dos clínicos, em caso de contacto telefónico, é que os

animais sejam levados até eles para uma melhor avaliação, mas caso tal não seja possível,

os proprietários podem, no mínimo, ser alertados para os perigos da medicação indevida.

Uma grande consternação dos médicos veterinários prende-se com a posição das farmácias

em relação à saúde animal, em duas vertentes diferentes: por um lado, a venda de

medicamentos e produtos veterinários sem a necessidade de apresentar receita médica, os

quais consideram dever ser apenas disponibilizados em canais veterinários ou, no máximo

com receita obrigatória. Segundo os médicos veterinários, é inconcebível que sejam

vendidos antibióticos, vacinas, imunizantes, anestésicos, desparasitantes, anticoncecionais

ou produtos otológicos específicos, todos eles de uso veterinário, sem uma receita médica

que o indique. Por outro lado, os médicos veterinários reconhecem a escassez ou ausência

de preparação técnica e científica dos farmacêuticos e técnicos de farmácia no que respeita

à saúde animal e consideram ser crucial que essa formação lhes seja incutida, pois são

estes os profissionais de saúde que mais induzem os proprietários em erro quanto à

administração de medicamentos de uso humano e venda livre.

88

A medicação dos animais sem aconselhamento veterinário está associada à própria

automedicação em humanos e ambos os casos são difíceis de evitar, pois relacionam-se

bastante com uma questão de mentalidade social. Muitas vezes as pessoas colocam

crianças e animais no mesmo patamar de tolerância a medicamentos e consideram que

dosagens infantis de medicação não prejudicam os animais ou, numa outra perspetiva,

encaram os medicamentos que não estão sujeitos a receita médica como tendo baixa

toxicidade, para pessoas ou animais. Contudo, ainda que as dificuldades económicas de

muitas famílias levem muitos médicos veterinários a acreditar que o número deste tipo de

intoxicações se vá acentuar nos tempos mais próximos, outros verificam na sua prática

diária que atualmente existe uma maior tendência para a educação e autoaprendizagem no

que respeita à saúde animal e acreditam que o papel da DGAV e OMV é fundamental

enquanto responsáveis pela união da classe veterinária no sentido da consciencialização da

população. Até à conclusão desta dissertação não foi possível apurar o interesse da OMV

quanto à criação de um projeto para desenvolver um centro nacional de apoio a intoxicações

em animais, à semelhança dos que já existem em Inglaterra e França, por exemplo. A

existência de tal serviço, desenvolvido e gerido por médicos veterinários especializados em

toxicologia e urgência clínica, entre outras áreas, e com a organização de uma base de

dados nacional, iria certamente representar, a longo prazo, uma diminuição na incidência

dos casos de intoxicações em animais de companhia e de produção, com origem

medicamentosa ou outra, pois a análise de prevalência de ocorrências em determinados

meios permitiria prevê-las e investir maiores esforços de sensibilização junto a populações

específicas.

As campanhas de sensibilização (periódicas ou permanentes) que os veterinários

consideram ser fundamentais para a diminuição destas ocorrências infelizes nos animais de

companhia requerem o apoio integral de instituições do estado como a OMV, câmaras

municipais, juntas de freguesia e também de associações de apoio a animais e empresas

com consciência social ativa, pois todos os possíveis projetos criados nesse sentido

necessitam de fundos de desenvolvimento, de organização e de visibilidade social.

Para terminar, há que salientar que, apesar de existir ainda um longo caminho a percorrer

até a sociedade se uniformizar quanto à opinião de que o veterinário tem o papel mais

importante na orientação para o que é melhor e mais seguro para os animais, a mentalidade

do público está, de facto,

,

a evoluir no que respeita a noções de saúde e bem-estar animal e

deverão continuar a ser investidos mais e melhores esforços junto aos proprietários, sempre

com a ambição de atingir a mais vasta consciencialização possível, pois só assim é possível

diminuir o número de casos dramáticos causados simplesmente por falta de informação.

89

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94

ANEXOS

95

Anexo 1. Poster exibido no 12º Congresso Internacional da Associação Europeia de

Farmacologia e Toxicologia Veterinária (EAVPT).

96

Anexo 2. Caracterização das instituições de ensino em Portugal que lecionam o mestrado

integrado em Ciências Farmacêuticas quanto à abordagem ao tema de medicamentos de

uso veterinário e saúde animal.

Tabela 13. Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado de Ciências

Farmacêuticas em Portugal com abordagem de caráter obrigatório do tema de

medicamentos de uso veterinário e saúde animal e caracterização individual.

Semestre

/ Ano

curricular

UC

Objetivos/Temas

abordados

Observações

Universidade

Fernando

Pessoa

(Porto)

semestre

Medicamentos

e Aditivos de

Uso

Veterinário

Farmacocinética

Comparada e Formulações

Farmacêuticas Particulares

em Medicina Veterinária,

entre outros.

Instituto

Superior de

Ciências da

Saúde Egas

Moniz

(Caparica)

2º ano /

5º ano

Fisiologia

Animal /

Medicamentos

de Uso

Veterinário

Módulo de Fisiologia

Animal integrado na

UC Fisiologia

Humana, no 2º ano

curricular; módulo de

Medicamentos de

Uso Veterinário

integrado na UC

Farmacoterapia, no

5º ano curricular.

Faculdade

de Farmácia

da

Universidade

de Coimbra

semestre

Preparações

de Uso

Veterinário

Diferenças fisiológicas entre

espécies animais e

respetivas influências na

administração de fármacos;

formas farmacêuticas

utilizadas em animais e

vantagens e inconvenientes

da sua administração em

diferentes espécies;

algumas doenças comuns

em animais, sua prevenção

e medicação adequada.

Antes da instituição

do Processo de

Bolonha era uma UC

opcional, com grande

adesão anual pelos

alunos.

97

Tabela 14. Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado de Ciências

Farmacêuticas em Portugal cujo plano de curricular não enquadra qualquer abordagem ao

tema de medicamentos de uso veterinário e saúde animal e caracterização individual.

Observações

Escola Superior de Saúde

da Universidade do

Algarve

São organizados seminários e ações de formação que

permitem aos alunos contactar com a realidade específica

dos medicamentos veterinários. Em resposta à questão

relativa à escassa formação que os futuros farmacêuticos

recebem nesta área, em diferentes instituições do país, a

Professora Dulce Estêvão, Diretora do Curso de Farmácia

da Escola Superior de Saúde da UALG, deixa a sua opinião

pessoal “(…) De facto, o contacto que temos tido com

médicos veterinários que têm vindo falar com os nossos

alunos mostra exatamente o que descreve, infelizmente. É

por esse motivo que continuamos a fazer o esforço para

colocar os nossos estudantes em contacto que este tipo de

formação (nem que seja por pouco tempo) pois

entendemos que devem estar sensibilizados para a

questão.”

Instituto Superior de

Ciências de Saúde – Norte

(Paredes)

Atualmente, a formação que os alunos graduados no

ISCSN possuem na área de medicamentos veterinários é a

decorrente de uma breve integração na unidade curricular

de Prática de Farmácia e também durante o estágio

curricular em farmácia comunitária, embora, por vezes, a

referida prática se limite a medicamentos de uso veterinário

para animais de companhia de pequeno porte. Apesar da

diminuição da duração do plano de estudos e supressão

desta disciplina em exclusividade, continuam a ser feitas

menções aos medicamentos de uso veterinário,

enquadradas em diversas unidades curriculares.

98

Tabela 15. Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado em Ciências

Farmacêuticas em Portugal com abordagem de caráter exclusivo e opcional ao tema de

medicamentos de uso veterinário e saúde animal e caracterização individual.

Semestre /

Ano

curricular

UC

Objetivos / Temas

abordados

Observações

Univ.

Lusófona

5º ano

Medicamentos

de Uso

Veterinário

Identificar particularidades

das diferentes espécies

animais e respetivos

condicionantes em termos

terapêuticos, e as suas

implicações em termos

terapêuticos. Os alunos

devem compreender o

papel do farmacêutico na

Saúde Pública

Veterinária, integrar

conceitos de bem-estar

animal versus escolhas

do consumidor, de

resistências a antibióticos

e de boas práticas na

administração de

medicamentos

veterinários.

Média de 25 inscrições

anuais.

Outras opções

juntamente com

Medicamentos de Uso

Veterinário:

Medicamentos à Base de

Plantas, Cosmetologia e

Dispositivos Médicos.

UBI 5º ano

Medicamentos

de Uso

Veterinário

Reconhecer as

particularidades das

diferentes espécies

animais e patologias mais

frequentes em animais de

companhia, assim como

farmacologia e

tratamentos veterinários.

Saber aconselhar e

dispensar os principais

tipos de medicamentos e

preparações de uso

veterinário na perspetiva

das farmácias

comunitárias.

Outras opções

juntamente com

Medicamentos e

Produtos de Uso

Veterinário: Fitoterapia e

Medicinas Naturais e

Análises Químico-

biológicas de Aplicação à

Clínica.

99

Tabela 16 (continuação). Instituições de ensino que lecionam o mestrado integrado em

Ciências Farmacêuticas em Portugal com abordagem de caráter exclusivo e opcional ao

tema de medicamentos de uso veterinário e saúde animal e caracterização individual.

Semestre /

Ano

curricular

UC

Objetivos / Temas

abordados

Observações

FFUL 7º semestre

Medicamentos

e Produtos de

Uso

Veterinário

Particularidades

específicas das

diferentes espécies

animais, grupos

farmacoterapêuticos

mais utilizados em

animais de

companhia,

aconselhamento

farmacêutico,

Medicamentos de Uso

Veterinário versus

Medicamentos de Uso

Humano (diferenças e

semelhanças),

utilização do

medicamento de uso

humano em Medicina

Veterinária.

24 inscrições no ano letivo

2011/2012.

Outras opções juntamente com

Medicamentos de Uso

Veterinário: lista de 10 UC

opcionais, incluindo Farmácia

Hospitalar, Nutrição e Dietética,

Imunofarmacologia e

Bacteriologia Clínica

Laboratorial.

Além da UC opcional, o plano

de estágio em Farmácia

Comunitária, realizado

obrigatório para todos os

alunos, inclui módulos cujos

conteúdos englobam o tema

Medicamentos e Produtos de

Uso Veterinário.

FFUP 4º ano

Medicamentos

de Uso

Veterinário

Outras opções juntamente com

Medicamentos de Uso

Veterinário: lista de 19 UC

opcionais, incluindo

Dermofarmácia e Cosmética,

Endocrinologia, Cuidados

Farmacêuticos e Dispositivos

Médicos.

Medicamentos de Uso

Veterinário é uma UC

disponibilizada de acordo com a

disponibilidade dos docentes.

Não consta do plano curricular

desde o ano letivo 2008/2009.

100

Anexo 3. Questionário distribuído a proprietários de animais de companhia.

101

102

Anexo 4. Questionário distribuído a médicos veterinários clínicos de animais de companhia.

103

104

Anexo 5. Dados complementares obtidos nos questionários, não exibidos na análise

estatística.

No seguimento da análise e interpretação dos resultados obtidos com os inquéritos

entregues a proprietários e médicos veterinários clínicos de animais de companhia no

âmbito do presente

,

trabalho, apresentam-se de seguida as proporções de respostas dadas

a algumas questões em particular, uma vez que, para facilitar a visualização dos respetivos

gráficos, não foram incluídas nos mesmos todas as opções de resposta disponíveis nos

inquéritos.

a) Questionário para proprietários de animais de companhia

Tabela 17. Proporção das respostas obtidas na questão 5 (Se respondeu Sim [à questão “Já

deu medicamentos de uso humano ao seu animal sem consultar o veterinário?”], qual(is)

o(s) medicamento(s)?).

Medicamento %

ben-u-ron®/Panadol® 27,9

Ultralevure® 25,11

Brufen®/Nurofen® 20,46

Antibóticos 20,46

Imodium® 6,51

Cremes cutâneos 5,58

Aspirina® 3,72

Xaropes para a tosse 3,72

Colírio 3,72

Nimed® 2,79

Maxilase® 2,79

Voltaren® 1,86

105

Tabela 18. Proporção das respostas obtidas na questão 8 (Que medicamentos de uso

humano acha que são inofensivos para o seu animal quando administrados sem

aconselhamento veterinário, mesmo em doses que ache baixas?).

Medicamento %

Nenhum dos anteriores 44,37

ben-u-ron®/Panadol® 16,97

Ultralevure® 16,77

Brufen®/Nurofen® 8,69

Antibióticos 6,75

Xaropes para tosse 6,54

Não sabe/"não dou nada" 6

Aspirina® 5,62

Todos os anteriores 5,62

Imodium® 4,4

Antidepressivos/calmantes 4,4

Nimed® 3,07

Voltaren® 3,07

Tabela 19. Proporção das respostas obtidas na questão 11 (Exemplo de situação de

emergência [no seguimento da questão “Em que situação daria um medicamento ao seu

animal (para baixar febre, parar vómitos ou diarreia, antibiótico, anti-inflamatório) sem

aconselhamento veterinário?]).

Situações de emergência %

"Febre" 19,76

Diarreia 15,6

Dor 13,52

Vómito 9,36

Não sabe 8,32

Envenenamento 8,32

Feridas infetadas 5,2

Prostração 3,12

Alergia 3,12

Infeções 2,08

Inflamação 2,08

106

Tabela 20. Proporção das respostas obtidas na questão 13 (Qual pensa ser a principal

razão pela qual não se deve dar medicamentos sem indicação do veterinário aos nossos

animais?).

Razões para não medicar %

Organismo dos animais funciona de modo diferente 81,18

Peso baixo 9,92

Alergias às substâncias 3,89

Só o veterinário sabe o que dar 3,5

É difícil dar medicamentos em casa, eles não gostam 0,51

Hipóteses 1 e 3 0,3

Não sei 0,3

Todas as anteriores 0,2

Outras 0,2

b) Questionário para médicos veterinários clínicos de animais de companhia

Tabela 21. Proporção das respostas obtidas na questão 7 (Quais as situações que mais

frequentemente levam os donos a medicar os seus animais sem aconselhamento

veterinário?).

Situações %

Apatia/depressão 57,87

Diarreia 49,21

Problemas de locomoção 41,34

Vómito 36,22

Problemas cutâneos 19,69

Tosse 18,9

Otites 17,32

Espirros/Alergias 11,02

Febre 9,36

Problemas oculares 7,48

Dor 3,51

Anorexia/Pulgas e carraças/Contraceção 1,56

107

Tabela 22. Proporção das respostas obtidas na questão 8 (Quando os proprietários

assumem a medicação dos animais, que substâncias ativas/medicamentos são mais

frequentemente administrados?).

Substâncias %

Paracetamol 86,61

Ibuprofeno 69,69

Antibióticos 40,55

Anti-diarreicos 38,58

Desparasitantes 31,1

Nimesulida 20,47

Ácido acetilsalicílico 18,11

Tratamentos caseiros 17,72

Xaropes para a tosse 14,17

Diclofenac 9,84

Anti-depressivos 4,72

Metoclopramida 0,78

,

aconselhamento veterinário. 74

Gráfico 16

Causa das intoxicações por medicamentos em cães e gatos e tipo de

medicamentos envolvidos. 75

Gráfico 17.

Frequência no atendimento a animais já medicados pelos proprietários

antes da consulta, sem aconselhamento veterinário (esquerda). 76

Gráfico 18.

Espécie mais frequentemente consultada por intoxicação com

medicamentos (direita). 76

Gráfico 19.

Confissão dos proprietários quanto à medicação dos animais sem

aconselhamento veterinário. 76

Gráfico 20.

Justificação dos proprietários para a medicação dos animais sem

aconselhamento veterinário. 77

Gráfico 21.

Situações que levam à medicação dos animais sem aconselhamento

veterinário (esquerda). 78

Gráfico 22.

Substâncias envolvidas na medicação dos animais sem

aconselhamento veterinário (direita). 78

Gráfico 23.

Ocorrência de atendimento a animais de companhia com agravamento

do quadro clínico inicial devido a medicação sem aconselhamento

médico-veterinário, espécie envolvida e desfecho. 80

Gráfico 24.

Relevância da existência na internet de informações veterinárias

fidedignas para consulta pelos proprietários e tipo de informação. 81

Gráfico 25.

Relevância de campanhas de sensibilização e publicidade para alertar

quanto aos perigos da medicação de animais de companhia sem

aconselhamento veterinário. 82

Gráfico 26.

Local e frequência das campanhas de sensibilização e publicidade para

alertar quanto aos perigos da medicação de animais de companhia

sem aconselhamento veterinário. 83

Gráfico 27.

Frequência no atendimento a gatos intoxicados com permetrina. 83

xii

Lista de abreviaturas e símbolos

Em caso de administração única, pode tomar uma unidade inteira sem risco de

toxicidade (referência à dose superior a uma unidade que causa toxicidade).

- Entre 1 e 9/10 da formulação.

% – Percentagem

® – Marca registada

AINEs – Anti-inflamatórios não esteroides

BID – De 12 em 12 horas

BZD - Benzodiazepinas

CAMVs – Centros de atendimento médico-veterinário

CG - Cão grande (20 kg)

CIAV – Centro de Informações Anti-Venenos

CID – Coagulação intra-vascular disseminada

CM - Cão médio (13 kg)

CNITV – Centre National d'Informations Toxicologiques Vétérinaires

COOH – grupo carboxilo

COX – Cicloxigenase

CP – Cão pequeno (6 kg)

CVMP – Committee for Veterinary Medicinal Products

DECO – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor

DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária

EAVPT – Associação Europeia de Farmacologia e Toxicologia Veterinária

EMA – European Medicines Agency

FDA – U.S.A - Food and Drug Administration

FIP – Federação Internacional de Farmacêuticos

FMV – Faculdade de Medicina Veterinária

g – Grama

GABA – ácido gama-aminobutírico

GG – Gato grande (4,5 kg)

GM – Gato médio (3,5 kg)

GP – Gato pequeno (2,5 kg)

HN – Grupo amina

IM – Via intramuscular

INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica

IRA – Insuficiência renal aguda

ISCSN – Instituto Superior de Ciências de Saúde do Norte

IV – Via intravenosa

kg – Quilograma

mg – Miligrama

ml – Mililitro

NAC – N-acetilcisteína

NAPQI - N-acetil-para-benzoquinoneimina

NH2 – Grupo amina

OH – Grupo hidróxido

OMV – Ordem dos Médicos Veterinários

PGE2 – Prostaglandina E2

PGI2 – Prostaglandina I2

PGs – Prostaglandinas

PO – Via oral

QID – De 6 em 6 horas

SC – Via subcutânea

SH – Grupo sulfidrilo

 (…)

xiii

SID – De 24 em 24 horas

SNC – Sistema Nervoso Central

t½ - Tempo de semivida de eliminação

TGI – Trato gastrointestinal

TID – De 8 em 8 horas

UALG – Universidade do Algarve

UC – Unidade curricular

Un. – Universidade

VPIS – Veterinary Poisons Information Service

xiv

Breve descrição das atividades realizadas durante o período de Estágio Curricular

O estágio curricular teve lugar no departamento veterinário da empresa farmacêutica Esteve

Farma, em Carnaxide, no período de 26 de setembro de 2011 a 26 de junho de 2012, num

total de aproximadamente 1200 horas.

No decorrer do estágio foram desenvolvidas atividades de apoio à dinâmica diária da

empresa. Foi realizada a análise mensal de vendas e faturação da Esteve, o que permitiu

conhecer o panorama nacional atual de produtos e medicamentos de uso veterinário de

outras empresas farmacêuticas existentes no mercado paralelamente àqueles da Esteve,

assim como as respetivas evoluções de faturação individual a cada mês e também

comparativamente ao mesmo período do ano passado.

Sempre que necessário foi elaborada e adaptação dos registos de Resumos de

Características do Medicamento e de Produtos de Uso Veterinário da Esteve, que são com

frequências revistos e reaprovados pela Direção Geral de Veterinária para posteriormente

os atualizar no Simpósio online da Apifarma, o que permite a toda a população a consulta as

referidas características de modo simples e acessível.

Em fevereiro de 2012 foi oficialmente lançado em Portugal o programa Leisguard da Esteve,

para o qual a estudante teve uma colaboração ativa na organização da campanha de

divulgação inicial através da tradução e adaptação dos materiais técnicos e publicitários

elaborados na empresa central em Espanha e também da comunicação externa com canais

de publicidade nacionais.

Ao longo de todo o período de estágio foram elaboradas traduções e adaptações de

materiais promocionais e informativos de diversos medicamentos e produtos de uso

veterinário pertencentes à Esteve Farma, destinados a serem divulgados e/ou distribuídos a

médicos veterinários e proprietários de animais em Portugal.

Com o objetivo de manter a constante renovação e gestão de conteúdos da página online

nacional da Esteve, a estudante trabalhou em conjunto com o departamento de marketing e

com o departamento de informática da empresa central de Espanha através da troca de

ideias, sugestões e conteúdos traduzidos.

Entre 8 e 12 de Julho de 2012 a estudante esteve presente no 12º Congresso Internacional

da Associação Europeia de Farmacologia e Toxicologia Veterinária (EAVPT), em

Noordwijkerhout, Holanda, no qual expôs um poster com a apresentação dos resultados

preliminares do estudo desenvolvido no âmbito da presente dissertação (Anexo 1).

http://www.google.com/aclk?sa=l&ai=C53k1TjA2UNKAJ4n36AGFmYGwD8GY6DH9sob4G73ZwYoDCAAQASDEmrEaKANQmYeNsP______AWDt7N-FvBugAfOyqf4DyAEBqQKhlEhWCQy1PqoEJ0_QaV2Nq-Ms09nUtUP0d0NorDBH57U76So8znYxLfmBSXRwGmiA3w&sig=AOD64_3EDrOktYcZgbi0iWg9gfNtji*zniA&adurl=http://www.booking.com/city/nl/noordwijkerhout.pt.html%3Faid%3D304085%3Blabel%3Dnoordwijkerhout-m3CgAVLvDYwxefzzehZlFAS7393997901:pl:ta:p1:p2:ac:ap1t1:nes%3Bws%3D

1

Introdução

Passaram muitos séculos desde o início da domesticação de cães selvagens. Desde essa

altura, o papel dos cães sempre foi evoluindo na sociedade levando a que as funções que

estes desempenhavam antigamente perdessem destaque, adquirindo outro estatuto: o de

animal de companhia, visto em muitos casos como um membro da família, digno de ser

cuidado, protegido e valorizado simplesmente, como a própria designação indica, pelo

companheirismo que transmite. Também os gatos, com um padrão evolutivo social muito

distinto daquele dos cães devido à sua relativa e eterna indomesticabilidade, ocupam hoje

em dia um lugar importante em muitos lares.

Estão comprovados os benefícios que resultam de cuidar, treinar e estimar outro ser vivo,

como o alívio da solidão e a redução de ansiedade em crianças e adultos. Ainda que muitos

cães e gatos sejam ainda hoje maltratados ou desvalorizados enquanto seres vivos e que

existam cada vez mais animais errantes e negligenciados nas grandes áreas urbanas e nas

suas periferias, é um facto inegável que também há cada vez mais donos de animais de

companhia dedicados a disponibilizar-lhes melhores cuidados de saúde, alimentação e

conforto, tendo nesse sentido, a esperança média de vida de cães e gatos domésticos

aumentado muito

,

nos últimos anos.

Os médicos veterinários clínicos deparam-se então com uma realidade que não é em nada

semelhante à verificada há algumas décadas. Da mesma forma que se desenvolveram

novos métodos de diagnóstico, medicamentos mais eficazes e áreas de especialidade

veterinária, também emergiram novas problemáticas relativas a cães e gatos, relacionadas,

aliás, com a própria importância que os animais e o seu bem-estar têm aos olhos da

sociedade moderna. Nas clínicas e hospitais veterinários, paralelamente a problemas graves

de saúde, cirurgias imprescindíveis e vacinações básicas, é possível encontrar hoje em dia

animais que esperam a sua vez para uma destartarização, correção estética, sessão de

hidroterapia ou acupuntura, entre muitos outros procedimentos especializados.

A ideia para o desenvolvimento do tema que este trabalho aborda surgiu devido a uma

realidade que a grande maioria dos médicos veterinários clínicos refere: “A crise vai ter

grandes repercussões nas consultas(…)”, “Os donos e os farmacêuticos gostavam era de

ser veterinários(…)”, “Estamos a perder clientes para a internet(…)”. Estes e outros

comentários, associados aos casos reportados de situações infelizes, envolvendo atitudes

inconscientes dos proprietários para com os seus cães ou gatos, levaram a que fizesse

2

sentido contemplar o tema da medicação de animais de companhia sem recomendação do

médico veterinário.

À partida foram excluídas desta dissertação as ocorrências em animais de produção, pois

trata-se de uma problemática demasiado extensa e complexa, que requereria um estudo

integralmente paralelo àquele realizado para cães e gatos, cujos proprietários representam

uma população-alvo diferente em termos sociológicos e motivacionais em relação aos

proprietários de animais de produção.

A estruturação deste trabalho foi baseada em dados recolhidos a nível nacional através de

inquéritos entregues a proprietários de animais de companhia e médicos veterinários

clínicos destes animais, que permitiram apurar o panorama da medicação de cães e gatos

sem aconselhamento veterinário, tendo em atenção mais concretamente os medicamentos

de uso humano, uma vez que estes estão mais disponíveis para os proprietários dos

animais, para além de alguns desparasitante para cão e gato, nomeadamente a permetrina,

Tendo em conta a perspetiva de ambas as populações alvo foram também abordadas as

motivações e consequências envolvidas bem como os factores intervenientes nessas

ocorrências.

3

PARTE I – Revisão bibliográfica: medicação de cães e gatos pelos proprietários sem

aconselhamento médico-veterinário

1. Factores que influenciam a manutenção dos animais de companhia

1.1. Condição socio-económica

Numa publicação da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO) de

2011, Ana Passos escreveu “O ano de 2011 está a ser difícil para um grande número de

famílias portuguesas e o ano de 2012 perspetiva-se ainda mais rigoroso para muitas delas,

face ao quadro de medidas de austeridade anunciadas recentemente”. Numa outra

publicação, de Março de 2012, a secção de economia do Jornal Público refere-se à

conjuntura atual com o título “Crise força corte de gastos […] – recessão aumentou no final

de 2011, obrigando as famílias a cortar nas despesas […], acentuando receios para 2012”.

Não surpreende, portanto, a classe médico-veterinária que o sector esteja a passar por um

período de dificuldade uma vez que as famílias portuguesas têm-se deparado nos últimos

meses com a necessidade de adaptação a um poder de compra cada vez menor. Já em

2010 começava a ser previsto o agravamento da situação de animais pertencentes a

famílias em situação precária, como refere a edição online da TVI 24 em Dezembro desse

ano, “Donos com fome, animais com fome – devido à crise, muitos já não conseguem

assegurar alimento e tratamentos dos animais, aumentando também o risco de abandono”.

Este não é um tópico exclusivo dos últimos anos; de facto sempre existiram casos de

famílias que se veem, a certa altura, impossibilitadas de manter os seus animais com boas

condições, mas é também inegável que a situação se agravou e tornou mais frequente. Os

gastos com animais de estimação passam então a ocupar um lugar não prioritário e, na

tentativa de evitar a despesa que uma consulta veterinária acarreta, vários donos de cães e

gatos agem por sua conta e risco ou após o aconselhamento com outras fontes que não o

médico veterinário na altura de tentar resolver um problema de saúde do animal.

1.2. Extrapolação da automedicação humana aos animais sem aconselhamento

de qualquer fonte

Schenkel (1996) referiu que, de um modo geral, o consumidor comum não tem a experiência

nem conhecimentos necessários para distinguir distúrbios, avaliar a gravidade e escolher o

4

mais adequado entre os recursos terapêuticos disponíveis, o que leva a que a prática de

automedicação seja bastante danosa para a saúde de quem a realiza.

Por outro lado, Maria Augusta Soares, diretora científica da Associação Nacional de

Farmácias, afirmou, numa entrevista de 2005 à revista Mundo Farmacêutico, que poderia

dar várias definições de automedicação, no entanto, preferia não o fazer, apenas referindo

que a automedicação é um processo que conduz a que o doente assuma a

responsabilidade de melhoria da sua saúde, previna e trate os seus pequenos mal estares

sem recurso à consulta médica – “Esta independência do doente permite-lhe resolver

situações auto limitantes e de curta duração”. Segundo a mesma, o Ministério da Saúde

determina que o período para o qual se considera a automedicação em humanos como

adequada não deve exceder 3 a 7 dias e deve apenas reportar-se aos medicamentos não

sujeitos a receita médica, estando contraindicada quando os sintomas são graves,

persistentes ou quando houver suspeita de reações adversas responsáveis pelos mesmos.

Esta afirmação pressupõe que, dentro destes parâmetros, a automedicação é inofensiva e a

população assenta o seu senso comum neste conceito.

Independentemente da perspetiva, ambas as opiniões referidas são relativas à

automedicação efetuada em humanos, para os quais, apesar de tudo, existem doses

recomendadas, que são seguidas de forma mais ou menos criteriosa consoante o indivíduo

em questão. No caso de animais, não existem indicações ou doses recomendadas para a

administração de muitos dos medicamentos de uso humano aos quais os donos têm

acesso, pelo que esta é feita por extrapolação do que se aplica em humanos, com ou sem

adaptação da posologia.

A automedicação em humanos é um fenómeno frequente, muito relacionado com aspetos

socioculturais (formação e informação, atividade profissional, ruralidade/urbanização, nível

de relação com o animal…) e está relacionada mais com sintomas que com patologias.

Todos os medicamentos utilizados em humanos são potencialmente administráveis aos

animais e, neste caso, a administração depende do nível de informação que os proprietários

ou responsáveis pelos animais têm sobre o perigo que os medicamentos constituem quando

não são recomendados na dose e frequência adequadas e também da consciência que têm

quanto a noções de bem-estar dos animais.

Ainda que para a maioria dos proprietários pareça impensável, a verdade é que muitos

presumem que a proximidade entre a própria automedicação e a dos seus animais é grande

e a margem de segurança é semelhante, mesmo não tendo obtido aconselhamento de

qualquer fonte (veterinária ou não) e a sua opinião pessoal seja o único critério de decisão.

5

Uma outra vertente deste problema é relativa aos casos em que, no passado, os donos

automedicaram um determinado animal e daí não derivaram quaisquer problemas, o que

promove a instalação da ideia de que essa medicação é inofensiva e em casos futuros, com

o mesmo animal ou outro, a probabilidade

,

de repetir a medicação aumenta, da mesma

forma que os donos em questão se tornam potenciais fontes de aconselhamento favorável

quanto à automedicação em animais para outros donos que se encontrem em situações

semelhantes.

Segundo a opinião obtida num dos questionários respondido por veterinários clínicos, “A

maioria dos casos de automedicação acontece porque o proprietário faz uma analogia à

medicina humana. Nós fomos educados pelos próprios médicos a usar convenientemente

determinados fármacos [anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), antidiarreicos,

probióticos, antiácidos, etc.] e não tem mal nenhum desde que reconheçamos os seus

limites”. Numa outra perspetiva, foi obtida também a resposta “Os proprietários não estão

informados dos efeitos adversos da automedicação, daí o uso abusivo de antibióticos, anti-

inflamatórios, entre outros produtos medicamentosos”.

1.3. Criadores e funcionários de lojas de animais

Os criadores e os funcionários de lojas de animais são pessoas que trabalham diariamente

com animais de companhia, incluindo cães e/ou gatos, por vezes há décadas e que,

presumidamente, adquirem um grau de experiência prática que a maioria dos proprietários

não tem.

Ainda que existam criadores que fazem um trabalho de excelência na criação e

desenvolvimento de diversas raças de cães ou gatos, atendendo às necessidades dos

animais a diferentes níveis e que se dedicam ao conhecimento profundo de conceitos

médico-veterinários de saúde e bem-estar específicos de cada raça, existem outros cujo

propósito não está tão direcionado para essa perspetiva, constituindo assim, possíveis

fontes de aconselhamento às quais os proprietários de animais de companhia se podem

dirigir na procura de opiniões ou sugestões em caso de problemas dos animais, pois o

senso comum impele a que as suas opiniões sejam valorizadas.

1.4. Internet

A internet possui a grande vantagem de ser uma gigantesca base de dados, de fácil e rápido

acesso, disponível para qualquer pessoa de forma anónima, se assim for pretendido. Os

contributos da sua utilização são inquestionáveis mas o conceito em si acarreta um

6

considerável efeito colateral: o da credibilidade da informação obtida. Entre milhares de

páginas de conteúdo sério, construídas com critérios de honestidade, existem muitas mais

com informações provenientes de fontes anónimas ou sem credibilidade, baseadas em

opiniões e/ou relatos pessoais com os quais qualquer cibernauta se pode deparar e

influenciar. Fóruns e blogues relativos a animais de estimação, páginas individuais de

clínicas e hospitais veterinários, uma extensa oferta de páginas dedicadas à orientação dos

proprietários para os melhores cuidados com os seus animais, todos estão ao alcance da

população que, não tendo, na sua grande maioria, formação nesta área, nem sempre possui

o espírito crítico adequado para filtrar a informação potencialmente perigosa. Segundo a

opinião pessoal obtida num dos inquéritos respondidos por médicos veterinários clínicos,

“Em relação aos sites [de informação veterinária], as pessoas têm tendência a acreditar em

tudo o que leem e não fazem distinção entre o que é informação correta e cientificamente

provada e informação colocada na internet por pessoas que nada sabem sobre os temas.

Temo que os sites fidedignos sejam rapidamente ultrapassados por outros que tentam imitá-

los, mas no pior sentido”.

1.5. Aconselhamento por farmacêuticos

De acordo com as recomendações da Federação Internacional de Farmacêuticos (FIP), o

farmacêutico é um profissional essencial para a garantia da efetividade e segurança do uso

de medicamentos, tendo um papel importante quanto à venda sem prescrição médica

obrigatória, uma vez que reúne os conhecimentos técnico-científicos atualizados, a

capacidade de reconhecer os sintomas, o facto de estar disponível sem marcação de

consulta e de ter a capacidade de recomendar a consulta médica quando verifica que a

situação que o doente coloca assim o exige. A FIP recomenda ainda que o treino em

Comunicação Interpessoal seja uma preocupação dos farmacêuticos, de forma a

interagirem ativamente com os clientes e a serem cada vez mais eficazes na prestação de

informação sobre os medicamentos que dispensam (FIP/WHO, 2012). De facto, o

farmacêutico é o profissional de saúde melhor posicionado para colaborar com os doentes

na orientação da sua medicação através do estabelecimento de um diálogo que permite que

o farmacêutico identifique a melhor opção terapêutica para cada indivíduo e em cada

circunstância, assim como o esquema terapêutico e a duração adequada do tratamento.

(Soares, M. A., 2005). A mesma autora afirmou “Acreditamos que a intervenção do

farmacêutico na terapêutica de situações ligeiras e autolimitadas com o recurso a

medicamentos de venda sem prescrição médica obrigatória melhora a saúde das

populações, economiza recursos ao Estado e deixa mais tempo livre ao médico para se

dedicar a doenças mais graves, particularmente se o farmacêutico seguir as Boas Práticas

7

de Farmácias (Normas de Informação ao Doente e de Automedicação) e os Protocolos ou

Normas de Indicação Farmacêutica, da Ordem dos Farmacêuticos.”

Contudo, a perspetiva dos médicos veterinários em relação ao papel dos farmacêuticos no

aconselhamento da população quanto à utilização de medicamentos em animais é menos

positiva e muitos afirmam mesmo que são estes os principais responsáveis pela maioria das

intoxicações devidas à exposição inadequada de cães e gatos a medicamentos quer uso

humano, quer mesmo de uso veterinário (ver Parte II). Através dos inquéritos distribuídos no

âmbito desta dissertação, foi possível obter respostas como: “Atendendo à conjuntura atual

de crise económico-financeira, cada vez mais as pessoas recorrem às farmácias antes de

procurarem o conselho do médico veterinário”; “A minha experiência pessoal demonstrou

que o cliente tende a confiar mais no aconselhamento do farmacêutico do que no do médico

veterinário”; “Noto sobretudo que muitas pessoas acreditam sinceramente que o

farmacêutico tem formação na área e que a medicação e a dose que recomenda [para

animais de companhia] são as apropriadas”.

Esta última opinião remete para um facto que preocupa muitos médicos veterinários e

também os próprios farmacêuticos, que reconhecem que na sua prática diária são

questionados diversas vezes sobre procedimentos a ter em caso de problemas de saúde

com animais de companhia. Na perspectiva dos proprietários, a credibilidade que tem o

aconselhamento do farmacêutico relativamente à saúde humana, é extrapolada para a

saúde animal, embora muitos destes profissionais não tenham a formação ou experiência

adequadas para orientar os proprietários de cães ou gatos. Neste sentido, é de seguida

apresentado o panorama nacional de ensino relativamente a medicamentos de uso

veterinário e saúde animal em todas as instituições nacionais que lecionam o mestrado

integrado em Ciências Farmacêuticas.

1.5.1. Farmacologia veterinária inserida no mestrado integrado de Ciências

Farmacêuticas em Portugal

A nível nacional existem 9 instituições (Universidades e Institutos Superiores), distribuídas

de norte a sul do país, que lecionam o mestrado integrado de Ciências Farmacêuticas. O

destaque atribuído aos medicamentos veterinários ao longo do curso varia com cada

instituição e todas apresentam um perfil distinto quanto à obrigatoriedade da abordagem a

este tema.

8

1.5.1.1. Instituições de ensino com abordagem obrigatória

Apenas os alunos da Universidade Fernando Pessoa (Porto), do Instituto Superior de

Ciências da Saúde Egas Moniz (Caparica) e da Faculdade de Farmácia da Universidade de

Coimbra adquirem obrigatoriamente conhecimentos na área da saúde animal e

medicamentos de Uso Veterinário, seja como unidade curricular (UC) exclusiva ou como

temas integrados

,

em outras unidades curriculares. As particularidades do ensino de temas

relativos à saúde animal nestas instituições estão apresentadas na Tabela 12 do Anexo 2.

1.5.1.2. Instituições de ensino sem abordagem especificada no plano curricular

A Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve (UALG) e o Instituto Superior de

Ciências da Saúde - Norte (ISCSN), em Paredes, não possuem nos seus planos de estudo

unidades curriculares que enquadrem a abordagem ao tema de medicamentos de uso

veterinário e saúde animal. As particularidades destas instituições relativamente à ausência

da abordagem aos referidos temas estão apresentadas na Tabela 13 do Anexo 2.

1.5.1.3. Instituições de ensino com abordagem opcional

A Universidade Lusófona, a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL), a

Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã e a Faculdade de Farmácia da Universidade

do Porto (FFUP) disponibilizam aos alunos do mestrado integrado em Ciências

Farmacêuticas os temas relativos à saúde e medicação em animais com carácter opcional.

A afluência de alunos a esta opcional é relativa e varia anualmente. As particularidades do

ensino destes temas enquanto unidades curriculares opcionais estão apresentadas na

Tabela 14 do Anexo 2.

Considerando a perspetiva dos alunos sujeitos a este sistema opcional de ensino, as

alternativas constantes na lista de opcionais em conjunto com aquela de Medicamentos

Veterinários poderão ser mais apelativas e aparentar ter maior aplicabilidade após inserção

no mercado de trabalho, pelo que a escolha de adquirir conhecimentos e prática quanto aos

medicamentos veterinários e saúde e bem-estar animal se encontra subvalorizada em

comparação com as outras opções e, por esse motivo, são relativamente poucos os

farmacêuticos que atualmente exercem funções no atendimento ao público em farmácias

que têm conhecimentos adequados em questões de saúde animal.

9

2. Serviços de informações e apoio especializado a intoxicações em animais

2.1. Centre National d'Informations Toxicologiques Vétérinaires (CNITV)

O CNITV, criado em Lyon, França, em 1976, é uma organização sem fins lucrativos que não

recebe qualquer subsídio público, sendo financiada exclusivamente por contribuições dos

médicos veterinários associados ao serviço. O principal objetivo deste centro de

informações especializado é responder a todas as questões relacionadas com a área de

Toxicologia Veterinária, que geralmente são colocadas por via telefónica e está disponível

24 horas por dia durante todo o ano. As chamadas recebidas são registadas numa base de

dados, permitindo aos médicos e técnicos deste serviço seguir a evolução das intoxicações

em animais ao longo do tempo, assim como adquirir e reunir experiências. Até 2005, os

registos do CNITV contavam com cerca de 155 000 casos de intoxicações mas todos os

anos há uma constante adaptação à realidade no terreno, aumentando o conteúdo da base

de dados (CNITV, 2012).

Apenas os médicos veterinários e outros profissionais da área da saúde animal e saúde

pública associados ao serviço, mediante o pagamento de quotas, têm acesso ao mesmo e

podem realizar pedidos de apoio para o diagnóstico e tratamento, após intoxicações em

diversas espécies animais e outros assuntos que requeiram informações sobre a toxicidade

de determinados compostos. Contudo, o CNITV também tem uma vertente de prestação de

assistência ao governo, à indústria ou a fábricas de produtos químicos que requeiram

informações sobre toxicidade de determinadas substâncias (CNITV, 2012).

De acordo com os dados recolhidos em 2003, o CNITV recebeu um total de 11 941

consultas (excluindo aquelas relativas a medicamentos veterinários, pois são substâncias

controladas especificamente pelo sistema de farmacovigilância francês), sendo os cães a

espécie envolvida em 86% desse total e os pesticidas os tóxicos mais frequentemente

reportados (Buronfosse, 2005).

O CNITV conta com a parceria, em França, de entidades como o Centro de

Farmacovigilância Veterinária de Lyon, o laboratório de toxicologia VetAgro Sup e a Unidade

de Cuidados Intensivos e Medicina de Urgência da Escola Nacional de Veterinária de Lyon,

laboratórios, centros de apoio antivenenos em humanos e estruturas que contribuem para a

gestão de riscos ambientais. A nível internacional tem também parcerias estabelecidas com

centros de toxicovigilância animal na Itália, Bélgica, Espanha e Argentina (CNITV, 2012).

2.2. Veterinary Poisons Information Service (VPIS)

Em Inglaterra, no final da década de 80, os pedidos de informação, cada vez mais

frequentes, que se verificaram da parte de médicos veterinários que telefonavam para

centros de apoio menores, indicaram a necessidade de criar um serviço de informação

sobre tóxicos que disponibilizasse aconselhamento específico para cada caso na área de

10

medicina veterinária. Foi então criado o VPIS, um serviço especializado fundado em 1992,

exclusivo para veterinários, organizações de apoio a animais, indústrias e áreas envolvidas

com investigação veterinária, disponível 24 horas por dia para a orientação no diagnóstico e

manutenção de animais intoxicados, com uma média de 25 000 consultas anuais. Este

serviço tem a sua sede em Londres e subsistiu até 2011 principalmente com base nas cotas

pagas pelos profissionais ou entidades associadas. No presente ano foi alterado o método

de pagamento do serviço e ao invés de uma cota anual foi instaurado o pagamento por

caso/consulta ao VPIS (VPIS, 2012; Campbell & Chapman, 2000).

O VPIS conta atualmente com mais de 2200 clínicos registados em Inglaterra ou outros

países, tendo já prestado informações a mais de 150 000 casos, na sua maioria relativos a

cães e gatos mas também animais de produção e exóticos. Os xenobióticos mais

frequentemente envolvidos em intoxicações (atendendo a que a maioria dos casos ocorre

em cães e gatos) são, por ordem decrescente, os AINEs (principalmente ibuprofeno,

diclofenac e carprofeno), os rodenticidas anticoagulantes, o chocolate, o paracetamol e a

permetrina (VPIS, 2012).

Este serviço não permite o acesso à população geral, incluindo donos de animais, sendo

estes encorajados a consultar um veterinário em caso de intoxicação. As consultas por

profissionais da área da saúde animal são recebidas por uma equipa multidisciplinar que

reúne conhecimentos de toxicologia, zoologia, biologia, química, botânica, farmacologia e

ciências biomédicas e todos os elementos da equipa possuem, no mínimo, 5 anos de

experiência no contacto com casos de intoxicações. Todas as consultas realizadas ao VPIS

incluem recomendações específicas para o caso, relativas a efeitos clínicos esperados,

sugestão de protocolos de tratamento e prognóstico possível (VPIS, 2012).

Às consultas efectuadas segue-se o envio de questionários de seguimento aos médicos

veterinários, para apurar com detalhe os sintomas clínicos, procedimentos terapêuticos

efectuados e desfecho de cada caso. Nem todos os questionários de seguimento retornam

ao VPIS, mas todos os dados obtidos nas consultas e nos questionários de seguimento

devolvidos são analisados para melhorar os aconselhamentos e informações cedidas pelo

serviço (VPIS, 2012; Campbell et al, 2000).

Para além do apoio telefónico relativo a intoxicações, o VPIS publica comentários e

relatórios obtidos a partir dos dados recolhidos dos questionários de seguimento em revistas

e jornais científicos e realiza monitorização de tendências de intoxicações, um processo

através do qual o VPIS pode identificar produtos novos ou recentemente introduzidos no

mercado que representem um risco para os animais, tóxicos anteriormente não

identificados, tendências geográficas e temporais de intoxicação e vagas de intoxicações

intencionais, entre outras possibilidades. O VPIS também realiza ações educativas em

11

várias universidades

,

de medicina veterinária e ocasionalmente administra treino a médicos

veterinários clínicos e enfermeiros veterinários já formados (VPIS, 2012).

A atividade deste serviço conta com a colaboração de diversas associações veterinárias e

grupos dedicados ao bem-estar animal e emite periodicamente folhetos ou outras

publicações para aumentar a consciencialização para este tema entre veterinários e

proprietários (VPIS, 2012).

2.3. Centro de Informação Antivenenos (CIAV)

O CIAV é um departamento do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) concebido

para o apoio ao público em geral e aos profissionais de saúde especificamente na área da

toxicologia. Entre outras atividades, disponibiliza em tempo útil, através de chamadas

telefónicas, informações adequadas e personalizadas visando a abordagem correta e eficaz

a vítimas de intoxicação. Este serviço, único em Portugal, abrange todo o território e tem

disponibilidade telefónica assegurada durante 24 horas por dia, todos os dias do ano, por

pessoal médico especializado (CIAV, 2012).

Ao contrário de países como a Inglaterra e França, Portugal não tem um serviço de apoio

especializado para casos de intoxicações em animais e os dados estatísticos anuais

relativos a estes são limitados. O CIAV recebe uma percentagem anual de chamadas

relativas a animais francamente menor que o equivalente em humanos e o registo e

tratamento dos dados obtidos em cada chamada é menos pormenorizado quando se trata

de situações em animais. Deste modo, não existem dados estatísticos que permitam avaliar

a proporção de intoxicações com xenobióticos específicos, sendo esses dados apenas

referentes a categorias generalistas como “medicamentos” ou “pesticidas”. No caso de

intoxicações em humanos, estão discriminados determinados produtos dentro das

categorias – por exemplo, dentro dos químicos estão discriminadas as ocorrências com

produtos como detergentes, lixívia, hidrocarbonetos e colas e quanto aos medicamentos

estão discriminados as ocorrências com AINEs, antibióticos, benzodiazepinas e

paracetamol, entre outros (CIAV, 2011).

Em 2010 foi registada a ocorrência de 802 intoxicações em animais (gráfico 1), um número

que tem vindo a aumentar nos últimos anos em relação ao total de chamadas – 793

ocorrências em 2009, 690 em 2007 e 552 em 2006 (CIAV, 2011).

12

Gráfico 1. Proporção de indivíduos intoxicados em 2010 (CIAV, 2011).

Em termos globais, os profissionais de saúde e o público são as populações que mais

frequentemente contactam o CIAV (quanto a estes últimos não existe discriminação entre as

chamadas feitas em relação a intoxicações em humanos ou animais) mas uma pequena

percentagem das chamadas é feita por veterinários, para realizar consultas clássicas ou

pedidos de informação (gráfico 2) (CIAV, 2011).

Gráfico 2. Proporção dos tipos de consultante em 2010 (CIAV, 2011).

A proporção de chamadas recebidas em 2010 relativas a intoxicações em cães (75%) é

francamente maior que nas restantes espécies, seguindo-se os gatos (18%) que, embora

com um valor muito inferior aos cães, também se destacam bastante de espécies pecuárias

ou outras (gráfico 3). Ainda que as chamadas relativas a intoxicações em animais tenham

vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, a proporção de casos de cães e gatos em

relação ao total de chamadas sobre animais tem-se mantido constante – em 2009

registaram-se 73,4% dos casos em cães e 19% em gatos, em 2007 72,3% em cães e 22,1%

em gatos e em 2006 75% em cães e 20,7% em gatos (CIAV, 2011).

13

Gráfico 3. Proporção de intoxicações em diferentes espécies animais em 2010 (CIAV,

2011).

A quantidade de chamadas relativas a intoxicações envolvendo medicamentos é bastante

inferior àquela envolvendo pesticidas, que detêm o primeiro lugar na frequência de

intoxicações, uma tendência mantida ao longo dos últimos anos (gráfico 4). Como já foi

referido, não são detalhados os produtos dentro de cada categoria apresentada na Figura 4,

pelo que, através deste serviço, não é possível determinar que medicamentos de uso

humano ou veterinário estão mais frequentemente na origem das intoxicações com estes

produtos. Além disso, os dados não discriminam se as intoxicações por medicamentos se

deveram a ingestões acidentais ou à administração intencional (CIAV, 2011).

Gráfico 4. Principais causas (produtos) de intoxicações em animais (CIAV, 2011).

Para justificar a discrepância que existe entre o baixo número de casos de intoxicações por

medicamentos em animais reportados pelo CIAV e o número de casos que efetivamente se

apresenta à consulta no veterinário com esta situação, segundo a opinião da Dra. Teresa

Teixeira, colaboradora do CIAV, os casos de erros terapêuticos com animais vão, mais cedo

ou mais tarde, ao veterinário, não procurando aconselhamento com o CIAV (CIAV, 2011).

14

Entre os pesticidas de uso veterinário, a maior parte das situações é causada pela sua

utilização indevida e o produto mais referido é o Novo Pecusanol®, que tem uma elevada

toxicidade para os animais quando utilizado fora das indicações e doses recomendadas. Na

maioria dos casos, os proprietários não compreendem as instruções do modo de

administração ou aumentam a dose na tentativa de obter um efeito mais rápido e potente.

Ao contactar o Business Manager da Agroquisa (empresa distribuidora do Novo

Pecusanol®), Alexandre Domingues, foi possível apurar que há cerca de 6 anos, o anterior

produto, Pecusanol® (que continha lindano, agora proibido para aplicação em animais),

passou a ter diazinão na sua constituição, alterando o seu nome comercial para Novo

Pecusanol®. A alteração da substância ativa implicou a alteração do modo de utilização e,

enquanto a aplicação de lindano não requeria a posterior remoção, ao utilizar diazinão o

animal tem de ser lavado para remover o produto, o que levou muitos proprietários a

contactar o CIAV após o desenvolvimento de reações adversas, pois não reconheceram (ou

não compreenderem) a colocação desta indicação no rótulo (CIAV, 2012).

O CIAV possui uma base de dados acessível apenas a serviços de apoio a intoxicações, o

MICROMEDEX – POISINDEX, com informações relativas a todas as substâncias passíveis

de causar as intoxicações que dão origem às consultas telefónicas e que permite um acesso

rápido à farmacocinética, farmacodinâmica e resumo de características de medicamentos

(no caso de se tratarem de medicamentos), sintomatologia característica da intoxicação e

respetivo tratamento. Além dos dados para humanos, existem substâncias com dados

específicos para animais, nomeadamente cães e gatos, aves, equinos e ruminantes, com

referência à descontaminação e tratamento a aplicar, discriminado por sistemas ou

aparelhos do organismo (CIAV, 2012).

Embora não seja um serviço especializado para animais, os profissionais (médicos) que

colaboram com o CIAV adquiriram, ao longo dos anos, experiência no aconselhamento

nestes casos e respondem prontamente às diversas situações colocadas. A receção das

chamadas telefónicas relativas a animais pressupõe um protocolo ligeiramente diferente que

permite obter informações pertinentes rapidamente e numa sequência lógica adaptada à

situação que ocorreu no animal, não num ser humano. Assim, em chamadas efetuadas por

donos ou outras pessoas responsáveis pelo animal, é solicitada a idade da pessoa, a

descrição da situação que motivou a chamada, a idade do animal, a identificação da

substância em causa, a quantidade envolvida, a via de contacto, o local onde aconteceu, os

sintomas e o tempo de evolução do quadro clínico. Muitas vezes não é possível ao

interlocutor identificar a substância, a quantidade e a via de contacto ou o tempo de

evolução, descrevendo uma situação em que só pode adiantar os dados do animal e os

sintomas atuais. Para melhor avaliar a situação,

,

o médico do CIAV questiona acerca de

15

procedimentos já realizados até à altura da chamada e de como está a evoluir a condição do

animal (que sintomas apresentava antes e quais apresenta no momento). Com os dados

recolhidos e atendendo apenas à sintomatologia na altura da chamada, é possível avaliar a

gravidade e apontar um prognóstico, dependendo a resposta do tempo de evolução dos

sintomas e da quantidade de dados que o interlocutor transmite (CIAV, 2012).

Em casos aparentemente graves ou com o potencial de se tornarem graves, é

imediatamente recomendada a observação do animal por um médico veterinário. Em casos

de animais em estado de alerta e com sintomas ligeiros a moderados, derivados de

exposição a xenobióticos que não sejam cáusticos ou hidrocarbonetos por via oral e que

tenham ocorrido nas duas horas precedentes à chamada, é recomendada a tentativa de

indução do vómito em casa, com água salgada ou água oxigenada de uso doméstico

(concentração de 3-6%) misturada com água, numa proporção de 1:1, mantendo-se o

animal vigiado e num local arejado (CIAV, 2012).

Em muitas das chamadas recebidas, o interlocutor não é o proprietário do animal mas sim o

médico veterinário, que procura informações sobre procedimentos a ter em casos de

intoxicação ou pretende a identificação da causa da intoxicação através da descrição dos

sintomas de um animal. Segundo a Dra. Teresa Teixeira, “os veterinários são os que nos

dão mais trabalho”, existindo situações em que as consultas chegam a durar horas,

enquanto a base de dados é pesquisada na tentativa de desvendar casos de difícil

diagnóstico (CIAV, 2012).

Quanto à interação do CIAV com centros de informação veterinária especializados como o

CNITV ou o VPIS, no âmbito da partilha de dados e experiências, a Dra. Teresa Teixeira

lamenta a situação atual, “O ideal era cruzar informações com outros centros [de apoio a

intoxicações] europeus, mas isso não acontece”. De facto, a base de dados utilizada pelo

CIAV foi desenvolvida nos Estados Unidos pois em Portugal não existem dados suficientes

que permitam criar um centro de informações nacional com uma base de dados interna

(CIAV, 2012).

3. Medicamentos administrados aos animais sem aconselhamento médico

veterinário

Segundo os inquéritos preenchidos por 254 médicos veterinários clínicos de pequenos

animais no âmbito desta dissertação, os medicamentos mais frequentemente administrados

a cães e gatos sem o aconselhamento veterinário são aqueles de uso humano,

principalmente os anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos (ver Parte II). Foram também

16

assinalados outros medicamentos como antidiarreicos, calmantes e xaropes para a tosse.

Para todos os referidos será seguidamente apresentada a caracterização sucinta, com

especial destaque para as doses tóxicas para cães e gatos.

Os antibióticos foram um dos grupos de medicamentos mais referidos pelos clínicos neste

contexto. No entanto, não será apresentada a sua caracterização uma vez que, devido à

problemática da venda de antibióticos (de uso humano ou veterinário) sem apresentação de

receita médica obrigatória, existe um número elevadíssimo de medicamentos contendo

antibióticos às quais os donos de animais de companhia podem ter acesso. A gravidade da

utilização indevida de antibióticos prende-se, principalmente, com a seleção de estirpes

microbianas resistentes, sobre as quais os antibióticos de primeira escolha, para uma

determinada situação, não vão surtir efeito e, desse modo, é necessária a exposição a

antibióticos de segunda ou terceira escolha que podem até ser menos eficazes, mais tóxicos

para o animal e mais caros que os primeiros (CDC, 2012).

3.1. Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)

Os AINEs mais referidos pelos médicos veterinários como estando na origem de

intoxicações em animais de companhia foram o ácido acetilsalicílico, o ibuprofeno, a

nimesulida e o diclofenac. Em cães e gatos, estas quatro substâncias têm toxicidade e

sintomatologia de sobredosagem semelhantes entre si, pelo que os referidos parâmetros

serão apresentados em relação aos AINEs como grupo. Outros parâmetros como a

caracterização, cinética e metabolismo, toxicidade em animais, apresentações

comercializadas em Portugal e doses tóxicas serão apresentados individualmente para cada

substância.

3.1.1. Enquadramento dos AINEs

Todos os processos inflamatórios são essenciais na medida em que são mecanismos de

defesa de que o organismo dispõe quer para neutralizar agentes patogénicos quer para

reparar lesões tecidulares. No entanto, um estado inflamatório prolongado ou exagerado

resultará numa situação dolorosa persistente e em possíveis doenças crónicas, pelo que a

ação dos anti-inflamatórios revelou benefícios logo desde a descoberta dos primeiros

salicilatos, no século XIX (Eiras, Leite & Machado, 2007).

As manifestações clínicas relacionadas com o sistema digestivo são frequentes na clínica de

pequenos animais e uma das principais causas dessas situações é o uso, muitas vezes

indiscriminado, de AINEs, uma das classes de medicamentos mais utilizadas do mundo,

17

com comprovada ação anti-inflamatória, analgésica e antipirética, amplamente disponíveis e

difundidos no mercado dos medicamentos, que pela sua eficácia em humanos são também

administrados a cães e gatos, muitas vezes sem um critério consciente. Apesar do seu

propósito com ação benéfica, os AINEs têm uma reconhecida ação nociva no trato

gastrointestinal (com os sistemas urinário e circulatório como os segundos maiores

prejudicados) e o seu metabolismo e tempo de semivida individual variam entre diferentes

espécies animais, pelo que as doses a administrar a animais domésticos não podem ser

extrapoladas a partir das doses recomendadas para humanos (Khan, 2010; Richardson,

2000; Talcott, 2006; Willard, 2003).

3.1.2. Toxicidade dos AINEs

A sensibilidade do organismo aos AINEs é atribuída principalmente à inibição das enzimas

cicloxigenases (COX, com as isoenzimas COX-1 e COX-2) que são indispensáveis para a

conversão de ácido araquidónico em prostaglandinas (PGs), tromboxanos e prostaciclinas.

A COX-1 está normalmente presente nos tecidos e é responsável pelo processo que origina

PGs e tromboxanos com funções estruturais protetoras da mucosa gastrointestinal e tecido

renal e reguladoras da agregação plaquetária, enquanto a COX-2, além de existir

normalmente em diversos tecidos como os rins, é produzida em resposta a processos

inflamatórios, originando PGs (nomeadamente PGE2 e PGI2) que são mediadores

inflamatórios responsáveis pela ocorrência de dor, vasodilatação e edema (Bonneau, 2005;

Fitzgerald, Bronstein & Flood, 2006).

As PGs estruturais são responsáveis pela proteção da mucosa gástrica (através da

estimulação da produção de muco e secreção de bicarbonato e do controlo da secreção de

ácido clorídrico) mas também pela elevada taxa de renovação epitelial e pelo aporte

sanguíneo adequado para a mucosa do trato gastrointestinal, através do seu efeito

vasodilatador (Kore, 1990). A nível renal, as PGs também são importantes, pois embora não

sejam responsáveis diretas pelo fluxo sanguíneo renal normal, tornam-se fundamentais para

a manutenção do mesmo em situações de nefropatia em que a função renal está

comprometida. A administração de doses indevidas de AINEs resulta, portanto, na redução

da secreção de muco gástrico e redução do fluxo sanguíneo ao nível do trato

gastrointestinal, com consequente isquémia e possível ulceração e perfuração (Ramesh,

Jayakuma, Narayana, & Vijayasarathi, 2001).

Nos rins, onde se encontram ambas as isoenzimas COX (embora a COX-2 esteja presente

em níveis muito baixos), as prostaglandinas mantêm a dilatação arteriolar aferente e

regulam a funcionalidade renal. Também têm um papel importante no controlo da libertação

da renina e manutenção

Panorama nacional da medicaçao de caes e gatos sem aconselhamento medico-veterinario - Parasitologia Veterinária (2024)
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